Milagre atinge funcionária de Junta de Freguesia
A funcionária administrativa da Junta de Freguesia de Vitorino de Piães, em Ponte de Lima, que reclama reforma antecipada por alegada doença degenerativa «melhorou a olhos vistos», dizendo que foi «um milagre», afirmou o autarca local.
Luís Lima, presidente da Junta de Vitorino de Piães, disse que a evolução do estado de saúde da funcionária, Ana Maria Brandão, de 44 anos, deixou a população da freguesia «estupefacta».
«O que me dizem é que ela alega que foi um milagre, conseguido numa igreja de Braga. Se foi milagre ou não, não sei. O que sei é que ela está irreconhecível, para melhor. Quando foi vista na igreja, no Dia do Corpo de Deus, a pegar numa criança ao colo, com toda a naturalidade, foi como se tivesse rebentado um barril de pólvora na freguesia», afirmou.
«Quem a viu em Novembro, acabrunhada, atada da cabeça aos pés, dizendo que não se podia mexer, fica completamente de boca aberta quando a vê hoje, muito mais magra, a andar normalmente, a conduzir, a pegar em crianças ao colo. É uma mudança tão grande tão grande, que até custa a acreditar», acrescentou.
Em meados de Junho, o pai de Ana Maria garantiu que ela iria regressar ao trabalho, o que acabou por não acontecer.
«Já não usa o colar cervical, nem a braçadeira no braço direito nem a cinta lombar. Já consegue andar mais ou menos, já conduz, já escreve, já está bem melhor», acrescentou o pai, confessando não encontrar explicação para esta melhoria do estado de saúde da filha.
Esta evolução do estado de saúde da funcionária pública choca, de alguma forma, com a declaração emitida a 22 de Janeiro de 2007 pelo neurocirurgião Joaquim Couto Reis, que considera que a doença de Ana Maria é «crónica» e a «incapacita» para o exercício da sua actividade profissional.
Nessa declaração, o especialista acrescenta que Ana Maria «é seguida em neurocirurgia por cervicalgias e lombalgias incapacitantes» e que o seu caso clínico está documentado por ressonâncias magnéticas que demonstraram «alterações degenerativas».
«Foram realizados vários tratamentos fisiátricos e com analgésicos que não obtiveram sucesso. É uma situação crónica, sem melhoria, que incapacita a doente para a sua actividade profissional, pelo que sou do parecer que [a doente] não tem capacidade física para continuar a exercer a sua actividade profissional», lê-se na referida declaração.
Em contrapartida, as sucessivas juntas médicas a que Ana Maria se submeteu sempre recusaram conceder-lhe reforma antecipada, considerando que ela não se encontra «absoluta e permanentemente incapaz» para o trabalho.
«Afinal, em que ficamos? Pode trabalhar ou não pode trabalhar? Foi milagre ou não foi milagre? É preciso tirar tudo isto a limpo e apurar responsabilidades, porque há aqui muita coisa que não bate certo. E a freguesia, se calhar, está a ser a maior prejudicada com toda esta situação», referiu Luís Lima.
A Junta já instaurou um processo disciplinar à funcionária, por alegado incumprimento da legislação laboral, que poderá conduzir ao seu despedimento.
Fonte: Sol, 30 de Junho de 2008.