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Cavaco conversa com o Papa

As relações entre Portugal e a Santa Sé, a União Europeia (UE) e o Tratado de Lisboa, África e Timor-Leste foram os assuntos abordados entre o Papa Bento XVI e Cavaco Silva, recebido numa audiência no Vaticano.

«Foi uma conversa útil» , concluiu o Presidente da República em declarações aos jornalistas no final da audiência, na embaixada de Portugal, em Roma.

«Para mim, como católico e chefe de Estado de uma nação que tem uma forte tradição católica, é sempre um acto de alguma emoção, mas eu trazia uma agenda bem definida para as conversas como o Santo Padre e com o secretário de Estado, o cardeal Bertoni» , confessou.

Para Cavaco Silva – que enquanto primeiro ministro esteve no Vaticano em 1987 para uma audiência como Papa João Paulo II – o actual Papa, Bento XVI é «com certeza, sem dúvida nenhuma um papa diferente do antecessor», mas foi uma «conversa útil».

«Penso que foi um encontro importante. As conversas incidiram basicamente sobre as relações entre Portugal e a Santa Sé, sobre a União Europeia e o Tratado de Lisboa, sobre África e sobre Timor-Leste» , explicou.

No que diz respeito às relações entre a Santa Sé e Portugal, Cavaco Silva e Bento XVI falaram sobre a Concordata.

«Há uma comissão paritária que est á neste momento a trabalhar com resultados positivos e Portugal irá respeitar totalmente a letra e o espírito da Concordata» , disse o chefe de Estado, referindo que os trabalhos da comissão paritária estão «ultrapassados e estão a trabalhar bem».

«Há já propostas no que diz respeito à acção da Igreja nas prisões, nos estabelecimentos militares e nos hospitais. Isso foi muito bem acolhido pela Santa Sé» , disse ainda aos jornalistas a propósito do processo de regulamentação da Concordata.

Durante a conversa de cerca de 20 minutos que o chefe de Estado português teve com o Papa, na sua biblioteca privada, Cavaco Silva teve ainda ocasião de mencionar o contributo de Portugal ao longo da sua história para que cinco países em África, Brasil e Timor Leste sejam hoje países de influência forte por parte da Igreja.

Sobre a UE, o Presidente da República comentou ao Papa que a Europa leva um momento «difícil» em resultado do referendo na Irlanda.

«Sabemos a influência da Igreja Católica na Irlanda, que apoiou o referendo, no sentido do voto pelo sim, mas talvez tenha sido um pouco tarde» , disse.

«Tive ocasião de sublinhar que é importante para o mundo e para os valores que a Igreja e a Europa partilham, uma Europa unida, uma Europa forte, esperemos que num futuro referendo, a igreja irlandesa possa esclarecer algumas ansiedades que foram exploradas pelos partidários do não na Irlanda» , acrescentou.

Sobre África, que tem sido um dos temas preferidos de Bento XVI, Cavaco Silva lembrou que Portugal tem uma relação «muito especial» com o continente, nomeadamente por ter feito parte da agenda das últimas presidências do Conselho Europeu.

«Como é óbvio falámos sobre os países de língua oficial portuguesa que são exemplos positivos em comparação com a situação trágica que se vive no Zimbabué e que a comunidade internacional não pode ignorar» , disse.

Para Cavaco Silva, «não pode dar legitimidade à limitação de acto eleitoral que ocorreu neste país», especialmente numa altura em que vão ocorrer eleições em Angola em Setembro.

«Moçambique tem sido um bom exemplo do funcionamento das instituições democráticas, tal como Cabo Verde» , frisou.

A situação de Timor Leste foi o último assunto abordado por Cavaco Silva, que sensibilizou o Papa Bento XVI para o facto de a Igreja católica constituir «uma referência decisiva» na identidade cultural do país.

«As instituições são ainda frágeis em Timor e a voz dos bispos é talvez uma voz mais forte do que a voz dos líderes dos partidos políticos» , frisou.

No final do encontro, em que Cavaco Silva diz ter ficado satisfeito ao verificar «que o Santo Padre estava bem informado sobre as questões de política internacional abordadas durante as conversações»,o chefe de Estado português aproveitou a ocasião para dizer a Bento XVI que «seria uma grande honra» acolher o Papa em Portugal.

A visita dependerá, no entanto, de uma actuação por parte da Conferência Episcopal, mas Cavaco Silva teve ainda tempo para lembrar das passagens de João Paulo II por Portugal e Angola.

Para Cavaco Silva, Bento XVI falou de uma forma «muito positiva» relativamente a Portugal, enquanto país com uma história ligada à difusão da fé pelo mundo.

A visita de hoje de Aníbal e Maria Cavaco Silva ao Vaticano – a que a Lusa teve acesso com algumas restrições de protocolo – ocorreu pelas 11h00 locais (10h00 em Lisboa) no segundo andar da biblioteca da Santa Sé.

Bento XVI recebeu Cavaco Silva na Sala do Trono Pequeno (ante-câmara da biblioteca e decorada com gravuras de Rafael de S. Pedro e S. Paulo) com um «Welcome Mr. President» e um grande sorriso, convidando o chefe de Estado português a entrar na sua biblioteca privada para uma conversa a sós.

Após esta audiência, que teve a duração aproximada de 20 minutos, os jornalistas presentes puderam entrar na sala e presenciar os cumprimentos de Maria Cavaco Silva e da restante delegação portuguesa que acompanhou o presidente nesta cerimónia.

Seguiu-se uma rápida troca de presentes entre Cavaco Silva e Bento XVI.

O chefe de Estado português ofereceu uma reprodução da Bula papal que reconheceu a independência de Portugal, assinada pelo Papa João Paulo III, em 1179.

O documento provém da Torre do Tombo e foi encadernado de acordo com o formato original pela Fundação Ricardo Espírito Santo.

Durante a entrega do presente português Aníbal e Maria Cavaco Silva explicaram ao Papa que aquela Bula – que reconheceu D. Afonso Henriques e a independência de Portugal – se trata “do documento mais importante” para a Nação.

Fonte: Sol, 28 de Junho de 2008.

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