ICAR prepara central de compras
Os bispos portugueses estão a estudar a criação de uma central de compras comum a todas as dioceses que garanta poupanças e economias de escala, revelou hoje o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Falando no final das Jornadas Episcopais que foram dedicadas à «gestão e liderança», D. Jorge Ortiga explicou que agora os bispos deverão reunir com «os seus conselheiros mais próximos para definir o que se pode fazer para motivar os padres para esta nova maneira de gestão» partilhada dos recursos.
A gestão dos cartórios paroquiais, instituições de solidariedade, centros paroquiais ou equipamentos eclesiais devem ser assim partilhados com os leigos, levando os padres a concentrarem-se mais no trabalho pastoral.
«Uma paróquia ou uma diocese não são comparáveis com uma empresa», mas pode haver «alguma aprendizagem» com os modernos meios de gestão, defendeu o presidente da CEP.
Por isso, os bispos vão apostar na «concentração de efectivos» e na criação de uma «central de compras», optimizando também o trabalho dos funcionários.
«É preciso formar as pessoas para novas responsabilidades», salientou D. Jorge Ortiga.
Por seu turno, o secretário-geral da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), Líbano Monteiro, que ajudou à realização das jornadas, mostrou-se muito satisfeito com a adesão dos bispos às propostas de modernização administrativa das estruturas da Igreja Católica.
Durante os três dias das jornadas em Fátima, os bispos fizeram trabalhos de grupo e ouviram os «mais modernos ensinamentos de gestão», procurando ter «uma visão da gestão e do mundo empresarial».
O objectivo final é sempre «melhorar a gestão das dioceses para melhorar o serviço da evangelização», salientou o responsável da ACEGE.
«As dioceses são independentes entre si», mas a meta é «conciliar o trabalho em comunhão para ganhar economias de escala», pelo que está em estudo a criação de uma central de compras comum para serviços vários, entre os quais os seguros, referiu Líbano Monteiro.
Esta solução irá permitir «descontos imediatos nos produtos comprados», que serão também «fiscalizados por especialistas», conselheiros das dioceses nas decisões a tomar.
Líbano Monteiro defendeu, também, que as delegações de competências dos padres para os leigos devem estar inseridas numa nova orgânica interna da Igreja que garanta mecanismos de controlo.
«Ninguém pode delegar sem controlar», pelo que é necessário «uma cultura diferente de organização» interna, salientou o secretário-geral da ACEGE, recordando a importância da formação dos quadros da Igreja e dos leigos.
Estes conselhos vão ao encontro da posição da própria CEP, que se tem apercebido que «há uma mudança cultural e eclesial» nas dioceses.
D. Jorge Ortiga recorda que estas alterações que estão a ser estudadas já procuram responder ao apelo à mudança feito pelo próprio Papa Bento XVI ao episcopado português.
«A transformação deve ser um dinamismo permanente perante objectivos concretos e específicos», promovendo uma «reorganização profunda das dioceses» do ponto de vista da gestão dos recursos humanos e financeiros, sustentou o arcebispo de Braga.
Mas D. Jorge Ortiga salientou que esta «não será uma mudança do ponto de vista pastoral», até porque as «dioceses são diferentes e têm capacidades diferentes».
No entanto, «há hoje uma panóplia de responsabilidades que é preciso assumir» ao nível da gestão de cada diocese que «podem ser partilhadas», com uma maior participação dos leigos.
«Importa cada vez mais descobrir essas pessoas, confiar e delegar com alguma coragem responsabilidades de gestão», afirmou, considerando que o exemplo deve partir de cada paróquia.
Aí, «o padre não deve fazer tudo, deve delegar as competências», considerou o prelado.
Fonte: Sol, 18 de Junho de 2008.