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  • 16 de Junho, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

As preces e a justiça

Quando um crente, entorpecido pela fé e vencido pela angústia, balbucia ave-marias e pede a deus que o cure da moléstia que o apoquenta, não se lembra de lhe pedir contas pela doença que o atingiu, mas ajoelha-se e rasteja para que o alivie.

Quando vai para um exame e solicita uma classificação alta, não procura a justiça, pede que prejudique outro que estudou ou sabe mais e se deixe subornar por dois pais-nossos.

Se concorre a um emprego e promete uma bilha de azeite para conseguir a única vaga que está a concurso, não procura que a avaliação do mérito, deseja que a oração seja tida em conta e que o azeite baste como suborno.

Se faz uma maratona de joelhos à volta da capelinha das aparições, junto à azinheira que serviu de poiso a uma virgem (história pouco provável), esfola a pele e jorra sangue, ou é masoquista ou dirige-se a um deus violento que gosta de o ver de rastos a perder a saúde e a dignidade.

Se reza a santa Bárbara quando ouve os trovões ou à senhora de Fátima para que lhe dê sorte, é um/a supersticioso/a à espera de que o acaso resolva a sua vida.

O hábito mesquinho de pedir, a deus e aos santos, favores para uso próprio, é uma tara que resultou na cunha com que na vida se mendigam favores. É esta falta de carácter, este dobrar da espinha, esta pusilanimidade que transforma os cidadãos em pedintes e os homens em penitentes.

A ética republicana repudia o conluio mesquinho com deus e os seus desdobramentos politeístas: filho, espírito santo, virgem Maria, anjos, santos e restante fauna do zoo celestial.

Séculos de madraças cristãs, judaicas ou islâmicas, onde a catequese formata crianças de tenra idade, ilude e fanatiza, transformaram a humanidade em bandos de beatos cujas paixões e ódios estão na base de guerras tribais onde os infiéis são fiéis do lado oposto.

Carlos Esperança

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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