31 de Maio, 2008 Carlos Esperança
Reflexões de um ateu sobre uma peregrinação a Lourdes
«Portugal (?) levou 700 peregrinos [militares] ao Santuário de Lourdes (França) para participarem numa Peregrinação Militar Internacional», segundo informou a Agência Ecclesia.
Tratou-se de «um grande acontecimento do mundo militar» segundo o major-general Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança, comandante-chefe dos católicos fardados portugueses com legitimidade duvidosa, mas é intolerável que um Estado laico possa envolver-se em escaramuças litúrgicas e participar em manobras eucarísticas.
Portugal teve um ministro da Defesa e do Mar, muito devoto da Senhora de Fátima, que lhe agradeceu a intercessão por ter desviado o crude do naufrágio do navio Préstige para as praias da Galiza e poupado as do Minho, mas as Forças Armadas não servem para pagar a dívida do favor divino, com a agravante de o Batalhão reforçado (700 militares) se ter enganado no santuário e agradecer em Lourdes os alegados favores de Fátima.
O facto de um cardeal austríaco ter presidido à peregrinação e dado instruções aos militares portugueses configura uma grave interferência na soberania de um país e uma usurpação de funções que cabem ao MDN ou, por delegação, aos CEMGs.
Em nome da laicidade do Estado e da moralidade pública, os portugueses devem exigir ao actual ministro da Defesa, Dr. Nuno Severiano Teixeira, que esclareça o seguinte:
1 – Os militares peregrinos viajaram a título particular ou oficial?
2 – Usaram as férias normais ou tiveram uma semana suplementar para cuidar da alma?
3 – As Forças Armadas colaboraram na despesa da expedição eucarística?
4 – No caso de ter havido custo para o Erário, qual a disposição legal aplicada?
5 – A deslocação militar ao estrangeiro teve a autorização do Comandante Supremo das Forças Armadas, o Presidente da República, como é constitucionalmente obrigatório?
Carlos Esperança