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  • 28 de Março, 2008
  • Por Ricardo Alves
  • Islamismo

«Fitna»-o filme

O filme de Geert Wilders já está no YouTube.

Parte 1

A primeira parte é uma digressão pelos momentos de choque e pavor que o islamismo trouxe ao mundo nos últimos anos (11 de Setembro, 11 de Março, 7 de Julho, Somália), entrecortados por imagens de sermões (e manifestações) particularmente extremistas onde se faz claramente a apologia da violência em nome do Islão. Inclui também alguns versículos do Corão que podem ser utilizados para justificar a violência.

Parte 2

É na segunda parte que o filme do senhor Wilders se torna mais abertamente xenófobo, com números do crescimento de muçulmanos na Holanda (944 mil, 6% da população total) e na Europa. São mostradas imagens de execuções de homossexuais (Irão) e de mulheres (Afeganistão), e sugere-se que acontecerá o mesmo na Holanda de amanhã, o que já é entrar no puro disparate: que eu saiba, o regime talibã já caiu, o do Irão está internacionalmente isolado, e apenas o da Arábia Saudita goza de boas relações com a Europa e os EUA. Mais: nos anos mais recentes, o islamismo só subiu ao poder na Faixa de Gaza, que tem peculiaridades ausentes alhures. E mesmo que a população muçulmana fosse alguma vez maioritária na Holanda (o que, à taxa actual, demoraria mais de cinquenta anos) duvido que essa maioria quisesse impôr a chária. Porque nem todos os muçulmanos, felizmente, são islamofascistas, do mesmo modo que nem todos os católicos se chamam Carlos Azevedo ou César das Neves.

Mas se é evidente que o islamofascismo deve ser combatido, para que a relação dos muçulmanos com o Islão mude, esse combate só pode ser feito em nome da laicidade. A ICAR também só mudou (Concílio Vaticano 2) graças a Afonso Costa e à lei francesa de 1905 (entre outros), e não graças aos fascistas europeus que tão bem se entenderam com ela. Portanto, a bem da coerência e da eficácia, não pode haver complacência com os clericalismos concorrentes (cristão evangélico, católico ou judaico), que o católico Wilders, reveladoramente, nunca tem tempo para criticar.

Resumindo: deixem o senhor Wilders falar. Percebe-se que o problema dele não é tanto o Islão, mas mais os muçulmanos. E que as suas soluções andarão mais próximas de cortar os subsídios de desemprego a muçulmanos do que os subsídios a escolas religiosas (muçulmanas ou, valha-lhe «Deus», cristãs). No limite, este senhor proibiria o Corão (já o defendeu, sem explicar onde ficaria a liberdade de expressão) e expulsaria os muçulmanos. O objectivo dele não é acabar com a discriminação de ateus e outras minorias religiosas, é riscar da constituição holandesa a obrigação de não discriminar.

O perigo para a Europa não é uma «islamização», que não seria exequível demográfica ou (contenham o riso) militarmente. O perigo é a convergência de esforços entre clericalismos, como o rei da Arábia Saudita já compreendeu muito bem. O senhor Wilders é uma distracção e uma perda de tempo.

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