Intolerância religiosa
Há poucas afirmações tão fundamentalistas e cobardes como a obrigação de respeitar as crenças alheias, por mais injustificadas, imbecis ou cruéis que sejam. Muitas acções que caem no domínio criminal são fruto das crenças de quem as pratica e defendidas por milhões de pessoas.
Os sacrifícios rituais ou a morte dos hereges incluem-se nesse ciclo funesto de crença e legítima vingança. Os muçulmanos não toleram caricaturas de Maomé mas exultam com o extermínio de crianças judias por um piedoso suicida islâmico. Não admitem o toucinho mas entusiasmam-se com a lapidação de mulheres. Abominam o álcool mas extasiam-se com a decapitação de um apóstata. Mas, o pior de tudo, é sentirem-se obrigados a converter o mundo às suas crenças, ambição que disputam aos cristãos.
Os católicos não gostam que se duvide da virgindade de Maria (apesar de ser um mito não exclusivo e um dogma recente) mas não tiveram problemas de consciência com a escravatura, a humilhação da mulher e a queima de bruxas, hereges e judeus. Calvino foi um assassino mas criou uma religião. Lutero era anti-semita primário e intolerante mas devemos-lhe, paradoxalmente, a liberdade religiosa de que hoje gozamos para desespero do clero das várias religiões.
Hitler, Estaline, Franco, Salazar, Pinochet, Mao e Pol Pot têm seguramente legiões de admiradores que sofrem sempre que alguém os reduz à condição de pulhas e canalhas. E há quem fique tão indignado com os insultos como um judeu de trancinhas a ver comer uma sanduíche de presunto a um judeu secularizado de Telavive.
Os maiores crápulas da Humanidade tiveram sempre admiradores que choraram a sua morte copiosamente. O Papa, que é santo por profissão e estado civil, é desprezado por milhões de pessoas. Bin Laden é um terrorista frio e bárbaro e goza da veneração de milhões de crentes. O Aiatolá Khomeini foi um facínora e a sua morte constituiu a mais impressionante manifestação de pio pesar. Creio que só a de Estaline, no tempo em que ocorreu, rivalizou em luto e aflição.
É mais importante a defesa do direito a ter quaisquer crenças, descrenças ou anti-crenças do que o dever de respeitar as crenças alheias, seja em relação às caricaturas de Maomé ou às caricaturas de Cristo, por mais iconoclastas e de pior gosto que se nos afigurem.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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