Manuel Buíça e Alfredo Costa – Mártires da liberdade
A Guerra dos Trinta Anos, uma das guerras religiosas mais prolongadas e devastadoras da Europa (1618/1648), quando os príncipes tinham o direito de impor as suas crenças aos habitantes dos seus domínios, custou milhões de mortos. Só a Alemanha perdeu metade da população, reduzida de 16 para 8 milhões de habitantes.
Foi longo o sofrimento que conduziu à Paz da Vestfália, em 24 de Outubro de 1648, em que pela primeira vez é reconhecida a liberdade religiosa a protestantes e católicos sem que a conversão dos príncipes obrigasse à dos súbditos. Foi sangrenta a conquista da liberdade religiosa pelos luteranos e calvinistas mas o totalitarismo católico foi vencido, as fronteiras foram redefinidas e a secularização avançou. Ninguém se alegra hoje com a carnificina mas todos beneficiamos da liberdade então dolorosamente alcançada.
A Revolução Francesa pôs termo a um regime de mais de quinhentos anos e extirpou as raízes que eram obra da Igreja católica com mais de mil e duzentos anos. Em 1789 começou uma década em que o Iluminismo destruiu a autoridade do clero e da nobreza, aboliu o absolutismo monárquico e abriu as portas aos modernos Estados democráticos.
Ninguém exulta com o terror então vivido, com o sangue, a violência, as retaliações e, muito menos, com a decapitação de Luís XVI e de Maria Antonieta, mas aboliram-se o feudalismo, a monarquia, o absolutismo, o poder do clero e da nobreza e começou a Idade Contemporânea que os historiadores datam em 1789. A Revolução produziu as mais profundas transformações políticas, económicas e sociais de sempre, além de ter estado na génese da independência dos países da América Latina.
O dia 14 de Julho – tomada da Bastilha –, é justamente o dia nacional da França.
Em 1 de Fevereiro de 1908, a degradação ética, o caos económico e a bancarrota, eram em Portugal o saldo da ditadura de João Franco, em clima de vindicta política – prisões arbitrárias, fecho do Parlamento, encerramento de jornais, julgamentos sumários e anunciadas deportações em massa de adversários políticos, monárquicos e republicanos.
Instalou-se o terror após a suspensão da Carta Constitucional que o rei assinou com a frieza com que premia o gatilho na caça às perdizes e o entusiasmo com que apoiava a ditadura de João Franco desde 1906.
Manuel Buíça e Alfredo Costa evitaram o desterro e a morte de numerosos portugueses, pondo fim à ditadura opressora, e abriram o caminho para a implantação da República, desgraçadamente à custa das vidas de D. Carlos, do príncipe herdeiro e deles próprios, sonhando com a República sob os escombros da monarquia que agonizava e a que vibraram um golpe fatal.
O assassínio é inaceitável, como insuportável era a repressão do ditador João Franco e a cumplicidade real. Por isso se lamentam as trágica mortes reais e a brutalidade exercida contra os regicidas mas, tal como o Mestre de Avis, os conjurados de 1640 e Machado Santos, Manuel Buíça e Alfredo Costa merecem um lugar no altar da Pátria que amaram e no coração da República por cujos ideais se imolaram.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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