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Mês: Janeiro 2008

6 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

As consagrações pias

Se há abuso e insolência que uma pessoa honrada não pode aturar é que um primata de tiara e de vestidinhos de seda consagre o seu país a uma entidade mitológica da sua fé como se o país lhe pertencesse e os cidadãos tenham de aturar semelhante despautério.

Não é o mal que faz uma consagração – um placebo de reconhecida inutilidade –, é o desaforo do biltre, a prepotência do autocrata, o abuso de considerar protectorado de um bairro mal frequentado um país democrático e de amplas liberdades.

Consagrar um país a uma qualquer imaculada reverenciada pela fé católica é ofender o carácter laico desse país, afrontar com o acto todos os crentes da concorrência e os descrentes de todas as fés.

Pois, de vez em quando, o Papa, os cardeais ou os bispos, agitam o hissope, aspergem com água benta que só eles distinguem da outra e encomendam um país com ateus lá dentro ao espírito santo, à virgem Maria ou a outro espécime pio fabricado no Vaticano.

A prepotência chega ao ponto de insultarem os ateus, de imporem as normas morais aos que desprezam Deus e os seus parentes, aos que vêem um bispo e têm náuseas e aos que ouvem o Papa e vomitam.

Se querem respeito, respeitem os outros. A excomunhão é outra farsa em uso e uma manifestação de ódio que não deve ser consentida. Uma santa alimária que até já fez um milagre – Pio IX –, excomungou os democratas e livres-pensadores. Os ateus têm sido excomungados por todos os Papas. Vejam lá se esses energúmenos não merecem o nosso desprezo e a mais viva repulsa!

5 de Janeiro, 2008 Ricardo Silvestre

Sistemas de apoio

Mike Huckabee teve uma primeira vitória nas primárias do partido republicano para ver quem vai ser o candidato desse partido à presidência dos Estados Unidos.

Este produto da criação directa de deus, que não teve, na sua opinião, de passar pelos estágios da evolução das espécies, quer “devolver a América a cristo” (que na verdade nunca lhe “pertenceu”) através da Casa Branca.

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Até aqui, tudo bem. Este idiota tem o direito de fazer o que quiser, mesmo concorrer para o emprego que deve ser uma das maiores dores de cabeça que pode existir, com uma economia caótica, uma guerra do Iraque sem saída à vista, e um dólar sem qualquer relevância.

Mas, tal como com Pat Robertson antes dele, apesar destes charlatães não terem nada de concreto a nível político (com o Huckabee a ser o exemplo mais ridículo que se podia

encontrar, não percebe nada de economia, relações internacionais, ciência, educação, etc, etc) apelam aos “movimentos evangelistas” e a todos os fanáticos que estão mortinhos para o fim dos tempos.

Reparem só nos sistemas de apoio que Huckabee teve em Iowa (onde foi a primeira eleição destas primárias). Entre as várias organizações a trabalhar com este simplório pode-se contar: o Iowa Family Policy Center, mais um grupo de focos nos valores de famílias cristãs; a Home School Legal Defense Association, esta associação então é de abanar a cabeça em descrédito uma vez que tenta defender os direitos de “educação parental em residência” ou seja, as crianças serem educadas na vertente académica em casa – artificio normalmente associado a famílias cristãs que não querem os filhos “expostos” à ciência ensinada nas escolas; a FairTax uma organização cristã de angariação de fundos, e a Iowa Christian Alliance, entre outras.

Porque é isto importante? Porque 80% dos que votaram em Huckabee caracterizam-se a eles próprios como cristãos evangélicos!!!!

Ou seja, o futuro presidente dos USA pode ser eleito porque a plataforma que o pode eleger é aquela que está mais bem organizada. Que se lixe a visão política (ou a falta dela), a competência, ou as crenças.

Façam as vossas contas, aproxima-se o regresso do JC

5 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

O clericalismo não é exclusivo dos cristãos

A judia fundamentalista Esther Mucznick brindou-nos, no Público de quinta-feira, com a sua (má-)fé e fanatismo habituais.

Exemplo:

  • «(…) a laicidade radical que considera a religião como um factor de atraso e obscurantismo a banir do espaço público, e se possível da estratosfera, está de facto completamente ultrapassada, não só em França, mas onde quer que ela se manifeste. Existe apenas em cabeças dogmáticas que fizeram do laicismo e do anticlericalismo a sua própria religião».

Em primeiro lugar, a laicidade constitucional é bem mais «radical» nos EUA do que em França (note-se os subsídios estatais de que gozam centenas de igrejas católicas em França, e que seriam inconstitucionais nos EUA). Em segundo lugar, considerar a religião «um factor de atraso e obscurantismo» não é anticlericalismo (ou laicismo), mas sim anti-religiosidade. Em terceiro lugar, os laicistas sabem distinguir o espaço estatal (que deve ser religiosamente neutro) do espaço público (que pode ser
pluriconfessional). Em quarto lugar, considerar o laicismo uma religião necessita de um conceito tão abrangente de religião que duvido que a senhora Mucznick lhe aturasse as consequências. Mas é de registar a espontaneidade com que associa dogmatismo e religião.

E continua:

  • «“Se não tiveres Deus”, afirma T.S. Eliot, “terás de te prostrar perante Hitler ou Estaline.” Certo ou errado, a verdade é que a religião tem sido frequentemente um fermento no combate às ditaduras políticas e militares: contra os regimes comunistas no Leste europeu, contra as próprias ditaduras militares seculares no mundo islâmico, onde as mesquitas são frequentemente, e com os excessos que se conhecem, o único centro de oposição política, ou mais recentemente na resistência dos monges birmaneses a um dos regimes mais opressivos do mundo.»

Esqueceu-se a senhora Mucznick do papel de «combate» às ditaduras desempenhado pela ICAR em Portugal (saberá onde fica?), na Espanha de Franco a Aznar, na França de Pétain, na Alemanha do católico Hitler, na Eslováquia do padre Tiso, na Croácia de Pavelic e Stepinac, na Argentina dos militares, no Chile de Pinochet, e, já agora, o papel de «fermento» da religião no Irão dos aiatolás, no Tibete feudal, na Arábia Saudita onde as
mulheres não podem sair à rua sozinhas, ou no Sudão, para nos ficarmos apenas pelos casos mais recentes. Esqueceu-se também a senhora Mucznick de que quem se prostrou perante Hitler foi o Partido do Centro Católico que lhe votou os plenos poderes (ditadura) e o Pio 12 da Concordata que a ICAR recebeu em troca. Esqueceu-se ainda de que o ser humano não tem nenhuma tendência natural para a prostração ou para rastejar, são as
religiões abraâmicas que o tentam transformar em escravo.

No fundo, o clericalismo judeu é pior do que o católico, embora se dê menos por isso.

5 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

As virgens da fé e a fé nas virgens

Cristo nasceu de uma virgem a quem as colas da carpintaria certamente alteraram o juízo, para precisar que o arcanjo Gabriel, alcoviteiro profissional, lhe anunciasse a gravidez e a convencesse de que o pai era uma pomba.

Gabriel era um anjo da baixa hierarquia, incumbido de tarefas menores, que, mais tarde, havia de ditar os desejos de Deus a Maomé, em árabe, sem perceber que era analfabeto o bruto e que demoraria vinte anos a decorar o Corão, livro pouco recomendável que a deficiente tradução do anjo e o carácter tribal do Profeta tornou mais vil.

Claro que há muitos filhos de pai incógnito a quem a fé e a mansidão de outros poupam o opróbrio, mas na mitologia das religiões exige-se a ausência de orgasmo à virtuosa mãe do fundador da seita.

Júpiter, o pai dos deuses, engravidou a virgem Dánae com uma chuva de ouro de que nasceu Perseu. Hoje, a chuva de ouro está reservada aos deuses e aos milionários mas não é para as engravidarem, é para as convencerem.

Genghis Khan nasceu de uma filha virgem de um deus mongol que acordou uma noite banhada numa luz muito forte.

Krishna nasceu da virgem Devaka, Hórus da virgem Ísis, Mercúrio da virgem Maia e Rómulo da virgem Rhea Sylvia.

Como se vê pela amostra, citada por Christopher Hitchens em «deus não é Grande», o truque é tão antigo como a fé. E o embuste tão grosseiro como a crença.

4 de Janeiro, 2008 Hacked By ./Localc0de-07

O verdadeiro cristo

Agora é que é mesmo a história do verdadeiro cristo, as anteriores também eram as verdadeiras mas para vender é necessária a novidade, eis que é desta a história correcta do homem que veio à terra para salvar tudo e todos e foi pregado, realmente ninguém lhe tinha pedido rigorosamente nada.

“Jesus de Nazaré” é o sucesso recente do Bento, o dezasseis, com 2 milhões de exemplares vendidos, mais uma das quase infinitas verdadeiras histórias do homem da cruz, o tema é inovador, todos os dias, uma marca económica bastante sólida no mercado e de promissoras verbas. Livro verdadeiro da verdadeira história do cristo, da verdadeira religião do verdadeiro deus, tudo muito verdadeiro excepto as mentiras.

Livro de Bento XVI já vendeu 2 milhões de exemplares

4 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

A crise do Osservatore Romano

O pasquim do Vaticano está em crise. Primeiro foram-se os leitores, fartos de notícias pias e informações duvidosas. Depois foram-se os compradores, convencidos de que há papel mais barato e higiénico. Finalmente, em desespero, o director do Osservatore Romano, sabendo do desprestígio da ICAR, afirma que «é o jornal do Papa, mas não um órgão oficial da Igreja», convencido de que o Papa merece maior credibilidade.

Por aqui se vê que o Papa não é a voz da Igreja, é um empresário em nome individual, um comerciante da fé por conta própria, um gestor com poder discricionário sobre os empregados.

Nas ditaduras é assim. Não há uma constituição, não há direitos individuais, não existe contabilidade organizada. No antro do Vaticano há um primata de camauro que diz que a religião católica é a única verdadeira e que cabe aos crentes o dever de evangelizar os outros, sejam eles crentes, agnósticos ou ateus.

Valha-nos que, depois de ter perdido o poder temporal, se lhe acabaram os métodos de persuasão cristã onde a tortura e o churrasco gozaram de enorme popularidade.

Há um aspecto em que o Papa, que tanto ulula contra o ateísmo, se aproxima dos ateus. Considera todas as outras religiões falsas, tal como qualquer ateu. Bastava-lhe incluir a sua para entrar no bom caminho, atingir a verdade e tornar-se uma criatura recta.

Claro que atingia o negócio, os sapatinhos vermelhos, a guarda Suiça, os vestidinhos de renda e seda, o segredo para transformar a água vulgar em benta, o comércio dos santos, das indulgências, dos sacramentos e de toda a gama de produtos pios com que embrulha os crédulos. 

3 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Eu e os crentes

Conheço e aprecio quase todas as grandes catedrais católicas da Europa, bem como os templos protestantes e ortodoxos, alguns templos budistas e mesquitas.

Do Brasil ao Canadá, de Lisboa a Roma, de Atenas a Marrocos, de Efésio a Londres, da Tailândia aos EUA, nunca deixei de apreciar a arte sacra: a arquitectura, a escultura, a pintura e a música. O ateísmo que perfilho, há meio século, nunca me embotou a sensibilidade nem me levou a desequilíbrios psíquicos que me transtornassem em sítios onde os crentes cantam, rezam e se divertem em festejos místicos.

Nunca pensei entrar num templo para fazer a apologia do ateísmo, gozar os crentes que se ajoelham, rastejam e espojam ao som do latim, do grego, do árabe ou da língua autóctone.

Desprezo as crenças, aborrecem-me os sinais cabalísticos, condoo-me com os embustes com que o clero explora, aterroriza e torna infantis os crentes, mas não interfiro entre o clérigo quer vigariza e o crédulo que cai no conto do vigário.

Podia esperar a mesma postura dos avençados da fé que entram no Diário Ateísta como piolhos em costura. Vêm com surro no cérebro e ódio no coração, fartos de rezas e água benta, a cheirar a incenso e fumo de velas, com o mesmo fanatismo que leva os judeus a quererem derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada e os muçulmanos que desejam abrir a porta do Paraíso com explosivos.

Eu sei que a fé os enlouquece, que as orações os embotam e os jejuns os debilitam, mas os padres podiam ensinar-lhes o tino que lhes falta e as maneiras que se usam em casa alheia. Mas vá lá alguém convencer um doido de que não é o Napoleão.

Alguns crentes prometem não regressar ao Diário Ateísta. Enquanto ruminam o acto de contrição prometem não voltar, mas voltam sempre. Garantem não voltar a pôr aqui os pés. Mas põem. TODOS.

3 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Do Patriarcado ao Diário Ateísta

O patriarca Policarpo, num ataque de clericalismo, atribuiu ao ateísmo a paternidade dos piores males que grassam no mundo. Talvez o excesso de hóstias ou o esquecimento dos neurónios numa barrela de água benta o tenham levado a tal delírio e feito proferir tamanha aleivosia.

Comparar o ateísmo com o passado tenebroso da sua Igreja, a fúria assassina do Islão ou a intolerância dos judeus das trancinhas, é comparar o livre-pensamento com a alegada virgindade de Maria ou a infalibilidade papal de que Pio IX fez dogmas, num momento de desvario e raiva, por ter perdido o poder temporal.

Salvo no estalinismo, uma religião de outro tipo e igual fanatismo, as religiões do livro estão ligadas ao obscurantismo, aos interditos e à conivência com todas as ditaduras. É verdade que as religiões monoteístas se baseiam no Antigo Testamento um alfarrábio de embustes com um Deus que é doido e homens que eram primários.

Quem pode levar a sério um tal Abraão capaz de sacrificar um filho por vozes que, na sua demência, julgou serem divinas? Quem pode construir doutrinas sobre livros cuja historicidade é falsa, a moral xenófoba e os comparsas misóginos e racistas?

Quem leva a sério o Papa que cria santos como pintos em aviário e oferece indulgências aos clientes como os vendedores da banha da cobra garantem curas aos mirones? 

O ateísmo, ao contrário do que pensa o Sr. Patriarca de Lisboa, é a vacina contra a fé, a defesa da razão contra a superstição, a supremacia da dignidade sobre a genuflexão.

Nota: Este texto é dedicado a uma nonagenária ateísta, hoje falecida, exemplo impoluto de dignidade, coragem e coerência, com pêsames aos filhos que lhe honram a memória na coerência das ideias e na dignidade da postura cívica.

2 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Totalitarismo da ICAR

As escolas Básicas e Secundárias vão deixar de ter santos ou santas na denominação oficial. A indicação partiu do Ministério da Educação, no âmbito da aplicação do Decreto de Lei n.º 299/2007, da Lei de Bases do Sistema Educativo.

Agitam-se as sotainas, bramem os bispos, ululam os beatos. Anda no ar um cheiro a incenso, que mais parece enxofre, vindo das profundezas dos paços episcopais e do bafio das sacristias.

Com a criação de beatos e santos há-de arranjar-se emprego aos taumaturgos, perpetuar-lhes o nome no granito ou no bronze, fazê-los patronos de escolas, ruas, avenidas e becos mal frequentados. A ICAR gosta de ver os santos, que passou a fabricar em série, a dar o nome a tudo o que é sítio e a designar hospitais, creches, escolas e lares.

A ICAR só isenta da beata devoção os bares de alterne e os cabarés. Talvez com medo do ridículo de aparecerem catedrais do prazer com nomes bizarros como, por exemplo: A Cova da Virgem, Cabaré do Divino Espírito Santo, Prazeres Celestes, Cave dos Três Pastorinhos ou Casa da Santíssima Trindade.

Já não se compreende a obsessão de dar nomes de santos a escolas, mas é a indicação de que devem ser evitados que leva os bispos, padres e assalariados do divino a insurgirem-se contra as determinações legais.

Nunca o Estado pretendeu intrometer-se na designação dos locais de culto. Não há igrejas que homenageiem o Marquês de Pombal, Antero de Quental ou Afonso Costa. E muito bem. Podem dar-lhes o nome de cadáveres pouco recomendáveis, mas isso é com os padres e só lá entra quem quer.