15 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança
Penitência – sacramento obsoleto
A confissão auricular foi durante vários séculos uma arma ao serviço da Igreja católica. O confessor do rei ou da rainha, sobretudo o desta, tinha acesso aos segredos de Estado e capacidade de manipulação da realeza quando a Igreja tinha por adquirido que o poder espiritual se devia sobrepor ao temporal. E sobrepunha.
A espionagem era bem mais perigosa do que o desassossego familiar ou o medo público provocados pelo tráfico de favores, de diversa índole, no segredo do confessionário. A desobriga não era, pois, uma questão de fé, era uma arma poderosa para a manutenção do poder clerical.
Compreende-se o pudor de Frei Bento Domingues a abordar o terrorismo psicológico exercido durante séculos, sobre crianças e adolescentes, cheio de ameaças com as penas do inferno para quem não confessasse os pecados mortais.
Foi a ânsia do poder que levou o IV Concílio de Latrão (1215) a tornar obrigatória a confissão anual que se mantém, tal como o entusiasmo papal com a sua perpetuação.
Nem os dissabores recentes com as confissões encenadas por jornalistas, em numerosas paróquias italianas, que as gravaram e divulgaram nem os escândalos sexuais que várias vezes começaram nos confessionários, como os tribunais averiguaram, levam o Papa a abolir uma prática que constrange quem a exerce de um lado e doutro do confessionário.
Mas não se pode esquecer que Bento XVI foi o prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) que teve no Afeganistão islâmico um departamento homólogo e mais vigoroso – o Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício.