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Mês: Novembro 2007

7 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

Os católicos e a moral

Os católicos acreditam na superioridade moral da sua fé tal como acreditam na bondade do seu Deus. Julgam que a solidariedade, a compaixão e a generosidade variam na razão directa das hóstias que papam, dos terços que rezam e das indulgências que solicitam.

A ausência de espírito crítico leva-os a pensar que a manipulação política de Fátima contra a República, primeiro, e o comunismo, depois, foram desígnios divinos com cambalhotas do Sol e suaves aterragens de um anjo, para convencerem gente rural da existência de um Deus com que o catecismo terrorista da época tinha fanatizado três crianças.

Não se interrogam os propagandistas da fé, panegiristas do Papa e mensageiros da pantomina sobre os crimes da sua Igreja e o atávico tropismo para a defesa das piores tradições e a cumplicidade com regimes totalitários.

A ICAR esteve com o esclavagismo, com as monarquias absolutas, com a tortura e com a pena de morte. Nunca se colocou ao lado do liberalismo contra o absolutismo, da modernidade contra o feudalismo, da república contra a monarquia, da democracia contra a ditadura.

A repressão e a violência fazem parte do código genético herdado de Constantino. Não se pode esperar a libertação de quem leva dois milénios a falsificar textos e a impedir que o mundo avance. Na torpe violência que a corrói a mulher foi sempre a vítima predilecta. O clero e a nobreza viveram sempre na harmonia dos carrascos unidos contra a libertação dos povos.

Sem a Revolução Francesa ainda hoje teríamos o beija-mão e a submissão dos príncipes ao Papa mas, felizmente, a evolução vai atirando para o caixote do lixo da História a superstição e o medo com que o clero oprime os simples.

7 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

Reincidência

Fonte: DN, hoje.

7 de Novembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Globalização e a fé

A globalização é um dado adquirido cujas tendências se alastram rapidamente, tal se desenvolvem as tecnologias e a ciência, os meios de comunicação permitem transmissões quase instantâneas de um lado do globo até ao outro, em poucas horas se muda de continente, os mercados económicos extravasam todas as fronteiras dos Estados e homogeneízam as culturas, dentro de todo estes processos conclui-se que a aldeia global é cada vez mais “pequena”, estamos todos mais perto uns dos outros, quer se disso se observem contextos positivos ou negativos. Se economicamente os interesses ultrapassam todos os interesses humanitários e políticos, relações entre os gigantes informáticos americanos e o governo chinês entendem-se às mil maravilhas, interesses comuns passam por cima das mais afincadas quezilas políticas, o mesmo não se pode dizer da fé.

As cortinas de ferro feitas de crentes moderados que aos poucos conseguiram definir mentiras como a privacidade da fé e dos propagadores de teologia que debitam mentira e ódio impunemente, criaram as desconexões totais com o mundo real e tornaram a globalização num perigo de proporções hediondas. A proximidade entre culturas com tais cortinas a impedirem constantemente a revolução de ideias e o diálogo racional sobre as mais puras irracionalidades tornou os conflitos sociais em banhos de sangue consecutivos quando as irrealidades de uns chocam completamente com as irrealidades dos outros.

O mundo islâmico parecia muito longe das vivências dos povos “civilizados”, como que num mundo longínquo onde não existiam grandes preocupações. As distâncias e as dificuldades de comunicação deixaram esquecer que o irracionalismo da fé pode trazer perigos para aqueles que muito confortavelmente se sentem protegidos das crenças diferentes das suas. Pois o tempo de lutar contra a irracionalidade aperta, os resultados pioram de dia para dia, onde a tecnologia e a ciência são desvirtuados pelas mais dementes consciências teocratas. Se as cortinas de ferro que envolvem os diálogos e racionalismos para com as irracionalidades da fé subsistem, a proximidade cada vez maior e o poderio tecnológico bélico cada vez mais horripilante entram em choque contra a própria existência Humana.

Mentes alucinadas com as virgens no Paraíso não possuem problemas em matar quantas pessoas conseguirem com os seus suicídios, a vida que possuem na Terra é apenas provisória, uma forma de fornecerem aos deuses as atrocidades e o sangue que lhes é incutido pelas teologias, pela África Subsariana milhares morrem por dia quando o centro de terrorismo católico, o Vaticano, sentencia o preservativo como criminoso e debita as mentiras possíveis para que os seus irracionalismos se perpetuem, alegando que o vírus atravessa os poros do preservativo e demências idênticas. Arredados das concretudes das coisas sentenciam à morte centenas de pessoas por dia, onde o único crime delas foi terem nascido no sítio errado perante irracionalidades demenciais perante as quais ninguém as conseguiu proteger.

Se a Igreja Católica e a Espanha conseguiram chacinar milhões de Aztecas há 500 anos atrás apenas com armas medievais, muita fé e vontade de exercer crimes contra a Humanidade, não contando com outros massacres, neste momento existe tecnologia para destruir a Terra várias vezes, e muito dos armamentos estão na posse de teocracias. A fé cada vez mais envenena o Mundo, repele os Direitos Humanos e atenta contra a sobrevivência Humana.

Também publicado em LiVerdades

6 de Novembro, 2007 Ricardo Silvestre

Ausência por defeito

É curioso ver as acusações de mau gosto, de insensibilidade, de sadismo, de falta de um fato da Hugo Boss cada vez que um ateu pergunta «então, mas onde está deus nestas alturas…?». É uma pergunta válida, e que merece uma (tentativa de) resposta por aqueles que acreditam nas gramáticas das religiões dominantes.

Como pediu o Bruno Resende e o Carlos Esperança antes de mim: se um deus teísta existe, então por favor expliquem este como pode acontecer este último acidente. E não chega o argumento que há o livre arbítrio, a liberdade individual, e desodorizante em stick.

Para um ateu há um corolário evidente neste estilo de tragédias: se um deus teísta existe, ele detesta a sua criação e amiúde demonstra isso mesmo. Vejamos o seguinte.

Nos ataques do 11 de Setembro, deus deixou que isso acontecesse para punir quem não segue as suas regras. No maremoto na Ásia, deus deixou que acontecesse para punir quem não acreditava em si. No furacão de New Orleans, deus deixou que acontecesse para punir aqueles que se afastaram de si (estas não são palavras minhas, mas sim de padres, bispos, ministros religiosos, etc). Que se lixem os inocentes, os crentes, aqueles que se esforçam para ter uma vida digna e construtiva. Não. Que se lixem. Vão com a enxurrada, seja de betão e metal, seja de água, seja de vento, seja de TNT. Depois, ele saberá seleccionar quando chegarem ao céu.

E o que pensar destes acontecimentos onde são os próprios crentes que são as principais vitimas? Excursões de fiéis a Fátima, a Notre-Dame-de-la-Salette, que sofrem acidentes horríveis quando voltam das suas rezas e dos momentos de transcendência. Crentes que estão em contacto directo com o seu criador numa igreja, e onde lhes cai parte de um telhado em cima e morrem no local. Fanáticos que entram em locais de oração e que chacinam as pessoas que lá se encontram.

Para um ateu a coisa é muito mais fácil de explicar. Não há um ser superior que regule as nossas vidas. Elas regulam-se pelos fenómenos naturais que nos rodeiam. As nossas criações, as nossas decisões, os nossos actos, a coincidência de estar naquele sitio, naquele momento.

6 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

Abaixo a hipocrisia católica

Ninguém de sã moral e equilíbrio mental se regozija com a desgraça alheia, rejubila com o sofrimento ou exulta com a morte. Às vezes o humor, mesmo o humor negro, é a forma de exorcizar a dor e fazer a catarse das desgraças que batem à porta, do infortúnio que chega ou da tragédia que se abateu.

Só as religiões, na sua demência, se alimentam da morte. Vendem-na em pedaços de medo ou provocam-na em acessos de ódio. Os cruzados e os suicidas islâmicos são o paradigma dos traficantes da morte para obterem uns trocos de eternidade. Nem os cadáveres estão em paz: uns exumaram-nos para serem queimados, outros acordam-se para a indústria dos milagres e a criação de beatos e santos.

O acidente de Fátima foi uma tragédia lamentável, mas não há que dar tréguas à religião que quer condicionar a reflexão que é legítimo fazer. Já em 24 de Março de 2001 um autocarro da Câmara de Viseu, vindo de Fátima, caiu numa ravina, em Santa Comba Dão e provocou a morte de 12 pessoas e numerosos feridos. Sem acidentes, o presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, de uma só vez, disponibilizou autocarros para 10.200 idosos e, nas eleições seguintes, tinha a vitória assegurada.

Os presidentes de Câmara levam os peregrinos a Fátima para implorarem bênçãos e ganharem votos. Usam o nome da cultura e enviam-nos a um local de obscurantismo.

Ninguém se regozija com os mortos das peregrinações mas há quem os aproveite como mercadoria pia num acto pusilânime de superstição e misticismo. Só os clérigos são capazes de dizer, perante o sofrimento e a desolação: «Fez-se a vontade de Deus». O cinismo dos padres é que desperta a revolta pela exploração do medo e do sofrimento.

Nas exéquias fúnebres não faltará um bispo a explorar o espectáculo mórbido da morte. Far-se-á acompanhar das sotainas disponíveis e não faltarão, como diria o Eça, o «conjunto rançoso de cruzes, imagens, ripanços, opas, tochas, bentinhos, palmitos e andores».

Os ateus limitam-se a registar que há demasiados mortos sem qualquer milagre.

6 de Novembro, 2007 Helder Sanches

Reflectir o meu ateísmo – Parte 2

As insuficiências do agnosticismo

Question MarkExistem algumas razões para me definir como ateu e não como agnóstico. O agnosticismo, nas suas diversas interpretações, presume pelo menos um dos seguintes princípios:

  • Deus é insolúvel
  • Deus é irrelevante

Sobre a insolubilidade de deus

Quanto a deus ser insolúvel, parece-me que se trata de um princípio filosófico bastante razoável. Afinal, o conceito de deus (ou deuses) é movido e justificado pela fé, não pelo conhecimento. Tentar racionalizar crenças da mesma forma que se criam representações matemáticas da realidade é absurdo.

Existe, depois, uma armadilha perigosa que é procurar responder à questão de deus quando esta engloba em si própria uma variedade de personalidades e representações quase infinitas. Deus não terá sido o primeiro a sofrer de personalidade múltipla, mas é seguramente o paciente desse distúrbio mais famoso da história. Tentar argumentar racionalmente contra essa multiplicidade é, uma vez mais, infrutífero e inconsequente. A própria multiplicidade de representações encerra em si todos os argumentos de contradição, se não mesmo, de absurdo.

Resumindo, reconheço que é, de facto, impossível provar racionalmente a existência ou inexistência de qualquer deus ou deuses. Claro que teremos que colocar todos no mesmo saco: o deus de Abraão, Zeus, Osíris, Thor, Shiva ou o adorável Baco. Resta-me, portanto, a convicção de que face à ausência de demonstrações credíveis de qualquer deles, todos, sem excepção, são apenas fruto de mentes criativas impregnadas de fé.

Sobre a irrelevância de deus

Considerar a tarefa de questionar a existência de deus uma tarefa desnecessária é outra linha do pensamento agnóstico. Opinar que é irrelevante para a nossa experiência – enquanto seres vivos conscientes do mundo que nos rodeia – parece-me demasiadamente insustentável por duas razões essenciais.

Antes de mais, questões fundamentais como “o que somos?”, “porque somos?” ou até mesmo “somos?” terão respostas e significados totalmente diferentes consoante deus exista ou não. Logo, na elaboração das respostas a essas perguntas o valor da variável “deus” terá que ser sempre equacionado e poderá ter um peso determinante nas respostas obtidas.

Por outro lado, as organizações religiosas sempre tiveram – e continuam a ter – uma influência nas diversas sociedades demasiado grande para que os argumentos basilares das suas doutrinas não sejam questionados.

Assim, discordo em absoluto desta corrente agnóstica que considera de menor importância a questão de deus.

Outras considerações que descredibilizam o agnosticismo

O processo de dúvida inerente à maior parte do ideal agnóstico é, claramente, do ponto de vista filosófico, um processo eficiente. Mas, do ponto de vista prático as suas limitações são evidentes. Se não fossem seria, então, possível viver com esses princípios de dúvida em todos os aspectos da nossa vida. Não é o caso. Questionar sempre que acordamos se é o último dia de vida que temos, se a Terra vai suspender o seu movimento de rotação espontaneamente ou se seremos um alvo preciso na queda de um meteorito são também dúvidas válidas, questões insolúveis. Se vivermos em função dessas dúvidas o mais provável é sermos considerados lunáticos ou esquizofrénicos. Aplicamos, implicitamente, a probabilidade experimentada. Sabemos que a probabilidade de responder acertadamente é muito maior num caso do que noutro, de tal forma que simplesmente ignoramos a probabilidade menor – muito menor – e agimos em conformidade. Não encontro justificação possível para se agir de maneira diferente na questão de deus. Se, face aos conhecimentos adquiridos, não existe a mínima evidência de deus (qualquer deus), então porque viver em função da sua possível existência?

Finalmente, o agnosticismo comete o “pecado” da imparcialidade absoluta. Permite-se dar tanta credibilidade à possibilidade de deus como à sua impossibilidade. Por outras palavras, dá tanto crédito à fé e à crença como à ciência; estranho, pois é esta última que utiliza os mesmos processos racionais em que o próprio agnosticismo se sustenta!

Na próxima parte abordarei a separação entre o Estado e a Igreja.

Parte 1 – O que o meu ateísmo não implica

(Parte 3 – brevemente)