Ausência por defeito
É curioso ver as acusações de mau gosto, de insensibilidade, de sadismo, de falta de um fato da Hugo Boss cada vez que um ateu pergunta «então, mas onde está deus nestas alturas…?». É uma pergunta válida, e que merece uma (tentativa de) resposta por aqueles que acreditam nas gramáticas das religiões dominantes.
Como pediu o Bruno Resende e o Carlos Esperança antes de mim: se um deus teísta existe, então por favor expliquem este como pode acontecer este último acidente. E não chega o argumento que há o livre arbítrio, a liberdade individual, e desodorizante em stick.
Para um ateu há um corolário evidente neste estilo de tragédias: se um deus teísta existe, ele detesta a sua criação e amiúde demonstra isso mesmo. Vejamos o seguinte.
Nos ataques do 11 de Setembro, deus deixou que isso acontecesse para punir quem não segue as suas regras. No maremoto na Ásia, deus deixou que acontecesse para punir quem não acreditava em si. No furacão de New Orleans, deus deixou que acontecesse para punir aqueles que se afastaram de si (estas não são palavras minhas, mas sim de padres, bispos, ministros religiosos, etc). Que se lixem os inocentes, os crentes, aqueles que se esforçam para ter uma vida digna e construtiva. Não. Que se lixem. Vão com a enxurrada, seja de betão e metal, seja de água, seja de vento, seja de TNT. Depois, ele saberá seleccionar quando chegarem ao céu.
E o que pensar destes acontecimentos onde são os próprios crentes que são as principais vitimas? Excursões de fiéis a Fátima, a Notre-Dame-de-la-Salette, que sofrem acidentes horríveis quando voltam das suas rezas e dos momentos de transcendência. Crentes que estão em contacto directo com o seu criador numa igreja, e onde lhes cai parte de um telhado em cima e morrem no local. Fanáticos que entram em locais de oração e que chacinam as pessoas que lá se encontram.
Para um ateu a coisa é muito mais fácil de explicar. Não há um ser superior que regule as nossas vidas. Elas regulam-se pelos fenómenos naturais que nos rodeiam. As nossas criações, as nossas decisões, os nossos actos, a coincidência de estar naquele sitio, naquele momento.