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Mês: Outubro 2007

12 de Outubro, 2007 Carlos Esperança

Fátima – Inauguração do estaleiro da fé

Está aberta ao público a maior área coberta da fé, em Portugal. Por ser demasiada a extensão ou por vaguearem na zona espíritos malignos foram usados quarenta bispos e cardeais para abençoar a inauguração do novo mealheiro da ICAR. O prazo de validade da bênção não foi divulgado.

A cerimónia, abrilhantada com a presença do Presidente da República e do presidente da AR, foi presidida pelo secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Tarcísio Bertone, e houve distribuição gratuita de hóstias aos interessados.

Ao longo dos anos, apesar espectáculo solar com que começou o negócio, da aparição da virgem que subia às azinheiras e do anjo que confundiu o local com um anjódromo, foram escassos os milagres. Foram mais as mortes por atropelamento na Estrada Nacional N.º 1.

O novo estabelecimento, que custou cerca de 80 milhões de euros (a ICAR é pouco fiável em contas) tem lugares sentados para nove mil clientes.

Fátima – uma das mais lucrativas delegações do Vaticano – continua a ser o local de destino de maratonistas com grande fixação nos dias 13. Os espectáculos anuais mais concorridos realizam-se a 13 de Maio e 13 de Outubro. Na década de setenta foi lançado com grande sucesso o 13 de Agosto para atrair o óbolo dos emigrantes.

Não há a mais leve suspeita de que a Virgem ou o anjo tenham voltado ao local nem de que a Rússia se tenha convertido, mas a tramóia política contra a República mudou de objectivos e transformou uma zona rural num centro urbano do sector terciário (onde se reza o terço).

A última maratona de padres-nossos e ave-marias a pedir à Senhora de Fátima para que a IVG metesse as mulheres na cadeia, redundou num enorme fracasso, com a Virgem a desinteressar-se do pedido e os portugueses a pronunciarem-se em sentido contrário.

12 de Outubro, 2007 Ricardo Silvestre

Evolução

A religião foi uma das primeiras tentativa à filosofia, ciência, história, natureza humana, etc. Mas numa perspectiva baseada em irracionalismo. Ao contrário de outras culturas, nomeadamente a Grega e Árabe, onde o racionalismo (dentro dos limites possíveis) imperava, na génese das religiões dominantes, foram grupos de pastores, pescadores, funcionários públicos, todos iletrados e ignorantes (que seguramente tentaram fazer o seu melhor, com os valores e imaginação da altura) que definiram realidades físicas (e não-fisicas) que aindam tentam regular o mundo hoje. Evidentemente, estamos a falar de origens numa altura onde doenças, eclipses, marés, catástrofes naturais, leis da natureza, e cosmos, eram tudo obras do divino, porque não havia maneira de saber melhor.

À medida que o conhecimento avançou, deus começou a ser desnecessário
para explicar a natureza do mundo físico. Ptolomeu em 150 AD pensava que o
cosmos era obra de deus, porque esse era o limite do seu conhecimento. Newton explicou as leis do movimento do cosmos sem qualquer ajuda da hipotese de deus, mas quando chegou ao limite do seu conhecimento (como estabilizar o sistema solar) pensou que isso era obra do divino. Huygens explicou como o sistema solar funcionava, sem qualquer ajuda da hipotese de deus, mas quando teve de explicar o aparecimento da vida, e tendo chegado ao limite do seu conhecimento, invocou a acção do divino. Darwin explicou a evolução das espécies sem a ajuda da hipotese de deus. Não vou avançar neste raciocínio, pois é fácil ver qual a mensagem. Deus tem cada vez menos espaço no mundo da ciência. Ou pelo menos da ciência «verdadeira». Deus é um deus das «lacunas».

No Sec. 21 temos a genética, temos telescópios, instrumentos para medição de biomassa, medição de fracções de carbono, espectrómetros, etc, etc. Não admira que o número de cientistas que são crentes (principalmente católicos e judeus, uma vez que no Islão não se faz ciência) continua a diminuir quase exponencialmente. Um artigo da revista Nature apresenta um estudo com uma larga amostra onde 60% cientistas não acreditam num deus teísta, e 93% dos cientistas de elite (membros da National Science Academy nos U.S.) não acreditam no mesmo estilo de divindade.

Claro que, nunca chegará a zero, uma vez que, e como Christopher Hitchens diz: «fé religiosa é, precisamente porque somos criaturas ainda num estado evolutivo, inerradicável».

Para saber mais, visite o NOVA

11 de Outubro, 2007 Carlos Esperança

Fátima – Bazar da fé

Parece impossível! O Vaticano duvida do milagre dos pastorinhos de Fátima como se este fosse mais estúpido e improvável do que todos os outros, para os quais nunca faltaram atestados de favor passados por médicos avençados para a função.

Não será provável que a gincana de uma mãe à volta da televisão, a rezar e a pensar nos pastorinhos, devolvesse ao filho a funcionalidade do pâncreas? É, quiçá, mais provável que madre Teresa, ateia, ou monsenhor Escrivá, admirador de Franco, tivessem obrado milagres?

O cardeal português Saraiva Martins, especialista a arranjar atestados médicos, já anda a pedir que se reze ao Francisco e à Jacinta para lhes solicitarem um novo milagre. Quem pode garantir que os dois beatos, mortos há tanto tempo, oiçam as preces e ajustem um prodígio feito a meias? Os mortos têm mais que fazer.

No dia em que vai ser inaugurada a maior área coberta de orações, em solo português, já devia estar devidamente confirmada a autoria do milagre e despachada a canonização de que depende a rentabilização do negócio e a clientela do novo templo.

O cardeal Saraiva Martins, um veículo litúrgico para a causa dos santos, baptizado e confirmado em Portugal, podia dizer ao Papa que ou lhe canoniza os conterrâneos ou denuncia o negócio das canonizações. Não é justo que os garotos para quem a senhora de Fátima fez truques com o Sol, vejam agora o Papa a pôr em dúvida um milagre na área da endocrinologia, bem mais difícil do que o outro, obrado na D. Emília que estava entrevada e logo se finou a andar lindamente.

Até um anjo aterrou no lugar onde o Francisco, a Jacinta e a Lúcia pastoreavam cabras e, agora, depois de divulgadas tão pias mentiras, o Vaticano põe-se com pruridos para fingir que Bento XVI é sério e exigente para que os embustes pareçam verdadeiros.

11 de Outubro, 2007 Ricardo Silvestre

Terminologias

Para terminar (da minha parte) este assunto sobre qual a melhor estratégia para os ateístas conseguirem passar a sua mensagem e contribuir para o desenvolvimento da raça, gostava de deixar aqui a posição de Ellen Johnson, presidente da American Atheists.

«Ateístas não são apenas um grupo contra «qualquer coisa», nós somos «qualquer coisa». É a Sociedade Americana de Cancro apenas «contra qualquer coisa» porque a sua luta é contra o cancro? É esta organização uma «organização negativista»? É o Greenpeace uma organização negativista porque lutam contra a poluição?

Ateístas querem a aprovação dos outros, e por causa disso muitas vezes os ateístas tentam esconder o que são, e a face que mostram ao mundo é uma de vergonha e receio. Quando alguém age de uma forma envergonhada pelo que é, o resto das pessoas vão trata-lo como merece. Esta não é a resposta.

Dizer que não devemos ter um nome é não existir. Não devemos correr o risco de nos tornarmos invisíveis por aqueles que procuram a aprovação de outros grupos. Nos Ateístas Americanos não deixamos que sejam os nossos adversários a ditar como nos chamamos ou como agimos».

Infelizmente, e pelo que leio nas secções de comentários do DA, o termo ateísta é muitas vezes usado como «arma de arremesso» por parte de alguns dos crentes que ai opinam. São logo feitas associações a «ateístas famosos» (Stalin, Mao, Pol Pot), que são apresentados como exemplos de ateísmo racional, e que na verdade não eram mais do que psicopatas monstruosos, que fizeram as coisas que fizeram não por causa do «ateísmo», mas por causa das suas posições dogmáticas extremas e insensatas.

O DA não é um lugar para a apresentação de outras correntes, como o Racionalismo, ou o Naturalismo, ou o Humanismo Secular, ou o Novo Ateísmo, uma vez que o próprio nome caracteriza o sítio. Mas gostava que, neste espaço, consigamos (no mínimo) libertar o termo «ateísta» da carga negativa e injustificada que tem, e que não ajuda o diálogo.

11 de Outubro, 2007 Helder Sanches

A ASAE em Fátima

A ASAE voltou ao terreno desta vez em Fátima. Lá fez o seu roteiro habitual de passar a pente fino uma série de estabelecimentos, passar umas coimas, fechar alguns a cadeado e regressar a casa com o sentimento de dever cumprido.

Contudo, parece-me que desta vez podiam ter ido um pouco mais longe. É que muito perto do local onde actuaram andam a vender – ou melhor, a dar – gato por lebre. Oferecem umas tostinhas que não têm nenhum tipo de controlo de validade, manuseadas sem luvas ou pinças e fazem-nas passar como se fosse carne, ainda por cima humana, com cerca de 2000 anos! Mais, o artigo é depositado directamente na boca da clientela sem que o depositário proceda a qualquer acto de higiene pessoal entre clientes! Consta, também, que são levadas a cabo simulações de rituais vampirescos através da ingestão de vinho como se de sangue humano se tratasse. Ora, isto viola uma série de princípios básicos da higiene alimentar e a ASAE não fez nada.

A ASAE falhou.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

10 de Outubro, 2007 ricardo s carvalho

rocky VI: knock-out ao terceiro ano

«[…] Jornalista: Na sua opinião, uma mulher agredida pelo marido deve manter o casamento ou divorciar-se?
Monsenhor LG: Depende do grau da agressão.
Jornalista: O que é isso do grau da agressão?
Monsenhor LG: Há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos.
Jornalista: Então reformulo a questão: agressões pontuais justificam um divórcio?
Monsenhor LG: Eu, pelo menos, se estivesse na parte da mulher que tivesse um marido que a amava verdadeiramente no resto do tempo, achava que não […]»

(Monsenhor Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima; entrevista ao DN, 6.10.2007)

10 de Outubro, 2007 Helder Sanches

Uma questão de etiqueta

Na última convenção da AAI (Atheist Alliance International), Sam Harris causou polémica ao questionar a utilização do termo “ateísmo”. Harris mostrou preocupação com o facto de esse termo transportar consigo um estigma social que, em última análise, não favorece a luta contra a superstição, o sobrenatural, os deuses imaginários e a demência colectiva das religiões.

Embora entenda as suas preocupações, parece-me irrelevante aquilo que nos chamamos a nós próprios. Não é pela escolha da etiqueta que os objectivos serão atingidos com maior ou menor facilidade. Penso, de qualquer forma, que a questão levantada por Harris é uma questão mais americana que global, não sendo, no entanto, exclusiva dos Estados Unidos. Alguns dos meus colegas brasileiros quando confrontados pela primeira vez com o meu ateísmo reagiram como se eu estivesse a assumir práticas sexuais com cachorros Dobberman, tais não foram as expressões nos seus rostos!

Ao contrário de Harris, penso que o estilo e estratégia utilizados é que farão a diferença nesta “batalha” pelo racionalismo. A promoção, incentivo e divulgação da ciência e do racionalismo terão muito mais impacto no combate ao obscurantismo religioso, ao misticismo e ao sobrenatural do que qualquer outra forma de combate que por si também seja criticável por falta de racionalidade. Só elevando a forma de combate para os valores que nós mesmos defendemos poderemos evitar de ser arrastados para um terreno que não nos é favorável: o do insulto fácil, da ofensa gratuita, enfim, o das manifestações irracionais. A estigmatização acontece quando em vez de se criticarem ideias, se enxovalham pessoas; quando em vez de se refutarem dogmas, se condenam indivíduos.

Assim, a preocupação de Harris parece-me algo despropositada. Independentemente daquilo que nos chamemos a nós próprios, o que importa é a credibilidade que conquistamos na sociedade em que estamos inseridos. É aí que o estilo e a estratégia utilizados farão, com certeza, toda a diferença.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

10 de Outubro, 2007 ricardo s carvalho

obscurantismo em órbita

«[…] O primeiro astronauta da Malásia descola hoje para o espaço, a partir do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Na viagem, de onze dias, aproveitará para dar a festa de Eid, que assinala o fim do jejum no Ramadão […]

Os jornais locais destacam, especialmente, o facto de Sheikh ir rezar no espaço, um procedimento que vem nas normas determinadas pelo Governo da Malásia para os astronautas islâmicos. […]»

(PUBLICO.PT 10.10.2007)

addendum: ouvi na BBC que quando rezar não tem que estar virado para meca, e que pode respeitar o fuso horário da malásia para saber a hora da palhaçada.

[Esquerda Republicana / Diário Ateísta]