24 de Outubro, 2007 Carlos Esperança
Como se faz um crente
Pega-se num recém-nascido do redil de uma Igreja e faz-se um ritual de iniciação com sinais cabalísticos e substâncias tradicionais. Pode usar-se a água benta, que só os créus distinguem da outra, uma pitada de sal, algum latim ou árabe e, a partir daí, ameaçar com tormentos a deserção da fé.
Deus, qualquer Deus, condena o apóstata à morte espiritual se o poder da sua Igreja não lhe permitir a fogueira purificadora, a lapidação festiva ou uma decapitação justiceira.
A leitura não é o começo do conhecimento científico, é o meio para melhor aprender a palavra de Deus ensinada por almocreves das almas, fundamentalistas da salvação e parasitas da fé. A doutrina é o meio usado para fanatizar crianças e alienar o espírito criativo e o sentido crítico que desenvolve a humanidade e civiliza as culturas arcaicas.
O medo, a ignorância, o ambiente e os constrangimentos sociais castram a liberdade de autodeterminação intelectual e assustam os que querem emancipar-se das mentiras seculares e dos ódios ancestrais. Herda-se uma religião, como se transmite a epilepsia. Pode contrair-se por traumatismo mas transmite-se na reprodução.
Deus é a suave mentira que embala o berço na torpe incubadora da fé. Depois, torna-se o fermento da intolerância a levedar sob as sotainas até crepitar em labaredas de ódio e guerras sanguinárias.