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  • 12 de Outubro, 2007
  • Por Ricardo Alves
  • Fátima

Se

Se alguém disser que viu a Lua a bailar por cima da Charneca da Caparica, e que Júlio César ali desceu numa nuvem e conversou com algumas pessoas para transmitir uma mensagem da maior importância, o mais provável é internarem esse alguém no Hospital Júlio de Matos.

Se um grupo se organizar para isolar as pessoas que «conversaram» com Júlio César, as mantiver incomunicáveis até à morte, e for revelando as «mensagens» de Júlio César, por exemplo «prevendo», em Outubro de 2001, a guerra do Afeganistão, ou apelando a que se usem togas romanas nos tribunais, o mais provável é esse grupo ser tratado como um bando de lunáticos ou charlatães.

Se esse grupo, chamemos-lhes os «cesaristas», comprar o terreno na Charneca da Caparica «visitado» por Júlio César, lá construir um templo, e recolher dinheiro das pessoas que lá vão prometendo-lhes vagamente que talvez se possam curar do cancro ou das micoses, é bem possível que sejam visitados pela ASAE e até talvez responsabilizados em tribunal pela fraude que organizaram.

Se mesmo assim alegarem que a crença na descida de Júlio César dá sentido à vida de algumas pessoas, e que por isso as vozes críticas se devem calar, serão tratados como oportunistas e hipócritas.

Se encorarajarem as pessoas que lá vão a flagelarem-se e a passarem fome, serão atacados pelos conservadores como uma seita perigosa que deve ser ostracizada, e que talvez devesse mesmo ser vigiada pela polícia.

Se afirmarem que as pessoas que vão ao terreno da Charneca da Caparica legitimam as ideias que os «cesaristas» têm sobre o casamento e a contracepção, ou ameaçarem que, se o Estado não lhes der dinheiro, incitarão as pessoas que lá vão a revoltar-se contra o Governo e os cidadãos que não acreditam na «aparição» de Júlio César, o escândalo será enorme.

Se a dimensão do movimento «cesarista» for grande, o normal será que os jornalistas investiguem, os media denunciem e os fazedores de opinião se indignem contra esta aldrabice organizada. Talvez até alguns políticos queiram dizer publicamente que enganar as pessoas para as manipular politicamente e ficar-lhes com o dinheiro é feio.

Todavia, se tudo isto se passar num contexto religioso católico, as consequências normais não se seguirão e a aldrabice ficará impune.

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