Sóbria loucura?
Em todos os bairros existem cidadãos emblemáticos pelas melhores e pelas piores razões. Por aqui, na Penha de França, em Lisboa, existe uma senhora, provavelmente sexagenária, que leva o dia inteiro de um lado para o outro a resmungar e a gritar sozinha em protesto contra as injustiças da vida.
A senhora está neste momento sentada no jardim em frente a minha casa numa gritaria desenfreada, criticando e lamentando todos os que gastam demasiado dinheiro e depois se queixam que o ordenado não lhes chega a meio do mês. Pelo meio vai fazendo referências aparentemente despropositadas a outros assuntos, cantando umas músicas de algum folclore do país real irreconhecíveis por estes ouvidos metropolitanos e levantando as mãos aos céus provavelmente à espera de alguma resposta ou sinal.
Num dos seus apartes, perguntou: “E, agora, a Nossa Senhora… Construiram lá em Fátima mais uma igreja que custou milhões de contos… Para quê? Será que a Nossa Senhora precisa da igreja para alguma coisa? Aquele dinheirinho não fazia mais jeito aos pobres que não têm dinheiro para comer?”.
Sempre achei que a definição de loucura era das mais difíceis de elaborar!
(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)
Perfil de Autor
Casado e pai de duas filhas, nunca revelou tendências para o sobrenatural. Aos oito anos aprendeu a dizer "Somos surdos, Senhor" no lugar de "Ouvimos, Senhor". Defende que o ateísmo deve ser construído à conta dos seus próprios méritos e não baseado nos desméritos das religiões. Fundador e webmaster do Portal Ateu, prefere abordar as questões de laicidade, moral e cultura. Blog pessoal: Penso, logo, sou ateu. Também no Twitter e no Facebook.