15 de Setembro, 2007 Carlos Esperança
Pecados da santa Teresa de Calcutá
Compreende-se que duvidasse de Deus mas não se aceita que acreditasse na PIDE.
Compreende-se que duvidasse de Deus mas não se aceita que acreditasse na PIDE.
A Igreja católica odeia a cultura como só Maomé odeia o toucinho. O Índex Librorum Prohibitorum vigorou desde 1559, elaborado pelo Santo Ofício a pedido de Paulo IV, até 1966, altura em que Paulo VI o aboliu por se ter tornado inócuo ou contraproducente.
Entre os livros que faziam perigar a alma e arriscar a fogueira, encontravam-se o D. Quixote e os Miseráveis. Talvez os Papas julgassem que o livro de Vítor Hugo fosse sobre o papado!
Quem conhece a História da Igreja católica, desde que se tornou o braço eclesiástico do Império Romano, com Constantino, até se tornar um potentado económico graças à burla da «Doação de Constantino» (piedosa falsificação ordenada por Estêvão II) e às pilhagens feitas aos hereges e aos judeus, não pode deixar de sorrir com a defesa da moral pelo Papa – um excêntrico que exibe colorida e cintilante roupa feminina.
À ICAR deve-se a invenção das bruxas e a perfeição cruel com que as exterminava. As acusações eram uma extensão do sadismo e das fantasias sexuais dos clérigos. As confissões de cópulas com o diabo mostram a crueldade com que eram torturadas.
A igreja católica começou cedo a arte do embuste. Alexandre I (105-115) foi o inventor da água benta, do pão para a consagração e do vinho no cálice. Os milagres de hoje são uma intrujice benigna comparada com a criatividade de papas tão perversos e lascivos como João VIII, Adriano III ou Alexandre VI.
Comparado com os papas medievais e os inquisidores, até Pio IX foi uma pessoa de bem. E se pensarmos que o Vaticano já foi um bordel e antro de assassinatos, simonia e intrigas, podemos dizer que hoje é quase um Estado de direito.
Perante os dominicanos, onde se recrutaram os mais crus inquisidores, podemos dizer que o Opus Dei é quase uma instituição contemplativa e até Santo Escrivá parece justo, comparado com os evangelizadores da América do Sul.
Em Novembro de 2006, Wired Magazine firmava o conceito de «Novo Ateísmo». Numa peça onde se juntavam três dos «campeões dessa nova vaga», Prof. Dawkins, Prof. Dennet e (brevemente Prof.) Sam Harris, o jornalista Gary Wolf concluía que, «ser um novo ateísta é como ser um profeta que tenta mexer com a sociedade, mostrando uma descrença justificada, criando um consenso activo, com objectivo de atingir as pessoas».
Concordando ou não com a crítica velada que os Novos Ateístas podem querer estar a lutar batalhas messiânicas (com a subjacente ironia por se usar termos religiosos), deixo aqui a opinião de um Novo Ateísta em Portugal.
Como racionalista e cientista que sou, incomoda-me que em Portugal se continue a recorrer a curandeiros e exorcistas. Que se procure o padre da paróquia para aconselhamento emocional ou psicológico. Que se tenha bispos a tentar influenciar a politica dos governos em questões de saúde. Que a EMRC seja paga pelos meus impostos para ensinar fraudes às nossas crianças, etc, etc. Vivemos numa era de conhecimento, de ciência, de progresso racional que levou centenas de anos a conquistar (já para não falar em Portugal o atraso por causa de uma ditadura, apoiada exactamente pela Igreja Católica).
Não acho que valha a pena colocar todas as energias nessa batalha. Acho que a melhor estratégia é de chegar a um segmento mais jovem, mais esclarecido, mais entendedor, promovendo o entendimento do mundo natural, a curiosidade científica, a capacidade de rejeitar posições dogmáticas. E assim, lançar as sementes que vão permitir um maior afastamento do preconceito e irracionalidade por parte dessa geração e das seguintes. Abra-se o debate.
Esta é uma opinião pessoal, que não compromete, nem reflecte a posição do Diário Ateísta.
Sempre que aparece, Bin Laden provoca uma onda de pânico em parte da humanidade enquanto outra exulta e anseia por se colocar ao seu serviço, por dar a vida pelo virtuoso e pio muçulmano que desafia os EUA e os países democráticos.
Há naquele biltre, misto de Urbano II e de Hitler, a demência e a maldade de ambos e o mesmo poder de sedução que o converte em condutor de massas, no Messias que os crentes aguardam, no profeta em que acreditam as multidões famintas, humilhadas e desesperadas, vítimas de uma civilização falhada e das teocracias corruptas.
No entanto o místico assassino dirige uma cruzada contra os infiéis – todos os que não lêem o Corão a seu jeito -, com a mesma fria violência com que o Papa Inocêncio III mandou massacrar os cátaros. E não lhe faltará determinação para, à semelhança de Arnaldo Amalarico, em Béziers, quando houver dúvidas sobre quem é ou não é infiel, decidir: «Matai-os a todos. Depois, no Céu, Deus distingui-los-á».
Não tenhamos ilusões. Bin Laden converteu-se num ícone que a rua muçulmana adora. Ele não é apenas o estratego que conduz uma guerra gloriosa, é o justiceiro que vai derrotar os maus e conduzir os seus devotos ao paraíso, aos rios de mel e à volúpia das 70 virgens cansadas de esperar.
O frio e cínico devoto é hoje um fenómeno de massas, o ideólogo de milhões de crentes, o mártir que fanatiza e seduz franjas de todos os estratos sociais, em todas as latitudes, sem exclusão de raças. Ele representa uma ideologia planetária, é o apóstolo do único Deus verdadeiro que um rude pastor de camelos importou para regiões tribais com erros de tradução e hábitos de brutalidade.
O fascismo islâmico é uma mancha de óleo que alastra em todas as direcções. O Corão é o Mein Kampf da horda de assassinos beatos e Bin Laden o seu Führer.
Num comentário ao meu post relativo às declarações de Ratzinger sobre a teoria da evolução, Bernardo Motta do blogue «Espectadores» (http://espectadores.blogspot.com/) aconselha-me a que «Leia, por favor, o que o São Tomás diz sobre a simplicidade de Deus» (para mais detalhes ver a secção de comentários do post acima referido).
O lider de 1.1 bilião de pessoas diz que o debate sobre criacionismo e evolução é «absurdo», uma vez que «evolução pode coexistir com fé». Mais, a mente iluminada de Ratzinger acha que «evolução parece real» mas que não explica «de onde vêm todas as coisas» (http://www.msnbc.msn.com/id/19956961/)
O que o papa Benedict está a fazer é, explicar a pessoas como Richard Dawkins ou Edward Larson, «vocês os cientistas podem perceber muito sobre evolução, fosseis, ADN, progressão orgânica, fisiologia animal, mas a verdade é que somos nós que temos a explicação para a origem das coisas. Vocês até podem dar um cenário quase real, mas sem a nossa contribuição, a evolução não pode ser totalmente entendida».
Para além do óbvio, ou seja, a religião não tem qualquer autoridade para estar a emitir tais dilates, esta tentativa de conciliação com o método científico é leviana e prejudicial para a ciência. É como dizer a um estudante de biologia,«não se esforce para encontrar o princípio das coisas, assuma apenas que houve uma força superior que as criou».
A agenda mediática portuguesa ignorou praticamente as eleições em Marrocos cuja política é relevante para a Europa e de grande interesse económico para Portugal.
Em monarquias absolutas as eleições não passam de imitação grosseira do acto cívico que as democracias repetem regularmente, pelo que a abstenção de 63% do eleitorado encontra aí uma das suas justificações. A única surpresa eleitoral de Marrocos foi a vitória relativa do partido conservador e nacionalista (Istiqlal), fiel à monarquia alauita.
Não há democracias onde a cidadania dependa do poder discricionário de um monarca ou da violência tribal das teocracias. Em Marrocos o rei pretende conciliar o seu poder absoluto e a liderança religiosa com a abertura política –, equação difícil de resolver.
Marrocos está aqui ao pé de Portugal e o que aí se passa não é indiferente à Europa e, sobretudo, à Península Ibérica com democracias recentes e debilmente consolidadas, afirmando-se graças à protecção da União Europeia que dissuade os nostálgicos de Franco e Salazar.
Os países do Magreb abastecem de mão-de-obra e rejuvenescem a população europeia, mas, as alterações étnicas e culturais demasiado rápidas que induzem, são um elemento social perturbador e fonte de medos que recentes atentados terroristas islâmicos, embora frustrados, vieram aumentar.
Se Marrocos e Argélia se transformarem em democracias serão a retaguarda protectora do sul da Europa. Caso contrário, convertem-se na vanguarda do terrorismo islâmico, em santuário da al-Qaeda e numa ameaça permanente para novas tragédias fomentadas pelo proselitismo islâmico.
A Europa, que sofreu sangrentas disputas religiosas, que a dilaceraram, está a facilitar o poder religioso em vez de aprofundar a laicidade que a tem poupado à violência dos que julgam ganhar o Paraíso convertendo os outros à sua fé.
É mau confundir a liberdade religiosa, que deve ser defendida, com a mistura do Estado e das Igrejas, que deve ser combatida.
Resultados eleitorais: RTP
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