Há alegria, concertos de acordeão, caçadas e uma árvore de Natal. É o outro lado da História do Holocausto.
A História está cheia de facínoras que governaram impérios e oprimiram povos. A caminhada para a modernidade fez-se com sonhadores, intelectuais e livres-pensadores.
Nunca, nessa lenta e dolorosa caminhada, se encontraram doutores da Igreja católica ou mullahs islâmicos. Estes estiveram sempre do lado da tradição, do poder e da repressão.
As ditaduras mais ferozes, as perseguições violentas e os ultrajes maiores à dignidade humana, tiveram a religião como apoio ou locomotiva. Até os despotismos do Séc. XX – o nazismo e o estalinismo – converteram em religião de Estado as sádicas ideologias. Ficamos sem saber se Estaline foi facínora por ter sido comunista ou por ter frequentado o seminário, para além das perturbações mentais que só seriam consentidas por povos herdeiros da demência repressiva dos cristianíssimos czares.
Vejam-se as ditaduras e os ditadores do que é hoje a União Europeia. Tiveram a bênção da Igreja e a cumplicidade de papas, cardeais e bispos. Da Espanha à Croácia, de Salazar a Musolini. E não falemos da América do Sul.
Ainda hoje o Papa, esse travesti garrido e excêntrico, goza da categoria de Chefe de Estado, investido na dignidade por Benito Mussolini nos acordos de Latrão. É um teocrata que se julga ungido de Deus e iluminado pelo Espírito Santo mas que deve a tiara ao poder e dinheiro do Opus Dei.
As ditaduras não são eternas mas as religiosas duram séculos e até milénios, até que o desprezo dos crentes ou a revolta das vítimas as coloque no caixote do lixo da História.
Bento XVI afirmou ter esperanças de que os cristãos e os muçulmanos evitem a violência e a intolerância explorando seus valores religiosos comuns e respeitando as suas diferenças.
O projecto do governo de Ancara de incluir na nova Constituição um texto que autorize o uso do véu islâmico nas universidades está a provocar um violento debate sobre a questão na Turquia.
Não sei o que é um crente moderado, se aquele que aceita umas crenças e nega outras ou o que pretende suavizar a violência da fé e o poder dos clérigos.
Sem a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Francesa a Europa teria ainda monarquias absolutas. Talvez se queimassem ainda homossexuais, bruxas, judeus, apóstatas e hereges. Felizmente, a Europa secularizou-se e rendeu-se à democracia, apesar do azedume do Vaticano.
No Islão a Idade Média vive a apoteose do livro que o arcanjo Gabriel ditou a um pastor analfabeto enquanto os letrados tomavam notas dos ensinamentos. Para os crentes só a sua religião é verdadeira (não são únicos) e é sua obrigação matar quem se afaste.
Não sei se um islamita moderado é aquele que acha que o adultério feminino pode ser castigado com a cadeira eléctrica em vez do espectáculo público da lapidação; se é o que em vez de defender a amputação de um membro se contenta com alguns dedos; se aceita que seja reduzida a distância a que a mulher segue o homem; se consente a redução de uma oração diária e, para quem renegue a fé, permita que a decapitação seja substituída pela prisão perpétua.
Recep Tayyip Erdoğan começa por defender o uso do véu nas universidades e acabará por aceitar a burka. Por ora, quer convencer o mundo de que o crescente islâmico é a Lua minguante mas, quem leu o Corão, sabe que nunca chegará a Lua nova.
Depois da demente invasão do Iraque em que os piores líderes do Ocidente derrubaram a ditadura laica para abandonar o País a uma teocracia xiita, o Irão está na fase de não retorno do poder nuclear e as democracias sentem-se ameaçadas.
A deriva turca, cujo PREC (processo de re-islamização em curso) já começou, aperta o cerco a uma Europa que em vez de defender as forças laicas da Turquia reforça a influência das religiões no seu próprio espaço.
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