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Criacionismo nas escolas públicas portuguesas

Conforme os leitores mais antigos do Diário Ateísta talvez se recordem, o criacionismo é ensinado nas escolas públicas portuguesas na disciplina de Educação Moral e Religiosa Evangélica. No novo programa de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), o criacionismo aparece, a par da «evolução das espécies», nos «conteúdos» do «ensino secundário» (página 159 do programa de EMRC):
  • «A origem do ser humano e a evolução das espécies vs o criacionismo, numa visão literal da Bíblia; A visão científica sobre a origem do universo; Is 64,7: Deus é o criador do ser humano; Sl 136(135),1-9; Jr 10,6.10a.11-13.16 A origem do universo e a doutrina da criação».

Temos assim que nas aulas de biologia e física se ensinam (espero eu) teorias comprováveis sobre a origem do universo e da humanidade, e uma hora depois, nas mesmas salas, pessoas investidas pelo Estado de idêntica autoridade escolar colocam mitos inventados por uns pastores do Médio Oriente a par de teorias revisíveis, quantificáveis e corroboradas pela observação. Assim se mergulha os alunos no pior relativismo epistemológico, convencendo-os de que a relatividade geral e a narrativa do génesis são abordagens igualmente válidas da realidade.

O criacionismo aparece também, por exemplo, na página 104 («conteúdos» para o 7º ano de escolaridade):

  • «A mensagem fundamental do Génesis (1-2,24): A origem de todas as coisas é Deus; Deus mantém as coisas na existência; O amor de Deus cria e alimenta a natureza; Todas as coisas materiais são boas; O ser humano é a obra-prima de Deus; Sl 8: Hino ao Criador do ser humano».

O programa de EMRC tem ainda as suas pitadas de propaganda anti-ciência, por exemplo na página 158:

  • «O determinismo cientista e a liberdade e dignidade do ser humano; (…) A ordem e a racionalidade do universo vs o acaso como hipótese explicativa; A rejeição da hipótese «Deus» como factor explicativo na ciência».

Uma pessoa estremece só de imaginar o que um professor de EMRC (que, recorde-se, não pode ser nomeado nem demitido sem o «acordo» da «autoridade eclesiástica») pode fazer com estas indicações: desde extrapolações simplistas de que «a ciência determinista tira a liberdade ao Homem», até falsas alternativas entre a «ordem divina» do universo e o «acaso» que erradamente se atribui à visão científica (na realidade, a formação da Terra ou a selecção natural não são «acasos», da mesma forma que a queda de um objecto ou a extinção de uma espécie por predação também não são «acasos»; são, isso sim, acontecimentos sem propósito ético).

Note-se que o direito de acreditar em mitos antiquados, e até o direito de ensiná-los, é intocável. Simplesmente, é inaceitável que esse ensino tenha lugar na escola pública, paga pelos contribuintes e mantida pelo Estado para difundir o conhecimento e a ciência. Como é inaceitável que na escola da República se ensinem valores anti-republicanos.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

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