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Mês: Junho 2007

8 de Junho, 2007 Helder Sanches

One Nation Under God (2)


anteriormente escrevi sobre a forma como a sociedade norte-americana encara o fenómeno religioso. Faço-o novamente e, sem surpresas, para vos dar a conhecer os resultados de mais uma sondagem levada a cabo pela Gallup.

Digo sem surpresas porque no que respeita a assuntos religiosos já me habituei a esperar as maiores aberrações dos sobrinhos do Uncle Sam. Desta vez ficamos a saber que 1 em cada 3 americanos acredita que “a Bíblia é totalmente exacta e deve ser interpretada literalmente palavra por palavra”! Três quartos dos americanos acreditam que “a Bíblia é a palavra de deus ou por ela inspirada”! Apenas 19% consideram a Bíblia um livro de antigas fábulas, histórias e preconceitos morais registados pelo Homem.

Como já vem sendo hábito, nos estados do sul os números são ainda mais radicais. Como também já vem sendo hábito, quanto maior é o grau de escolaridade menos fundamentalistas são os resultados.

Destaco o último parágrafo da notícia no Washington Times: as vendas anuais da Bíblia ascendem a 609 milhões de dólares por ano! Afinal, porque é que ainda há fome no mundo?

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

8 de Junho, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Imaginemos que não há bombistas suicidas, que não houve 11 de Setembro, nem 7 de Julho, que não houve cruzadas nem caça às bruxas, que não existe guerra na Caxemira nem existe qualquer conflito entre a Índia e o Paquistão, que não há guerra entre israelitas e palestinianos, que não houve massacres sérvios/croatas/muçulmanos, ou que não há qualquer “problema” na Irlanda do Norte.
    Imaginemos que nunca houve talibans a destruir estátuas centenárias, que não se chicoteiam mulheres por mostrarem uns centímetros de pele, que não se decapitam blasfemos ou apóstatas em público.

    Imaginemos que nunca houve perseguições a judeus, e até que nem há já judeus de sobra para perseguir, porque, sem a sua religião, há muito que os judeus se tinham integrado nas populações dos países em que vivem.»Imagine», no Random Precision)

  2. «Eu me considero ateu por não admitir possibilidades de deus existir, e não deixo de ser cético por isso, pois dentre as possibilidades que conheço não vejo lógica mas estou aberto a discussão e ao diálogo sobre o conceito de deus e sobre a sua suposta existência.»É o agnosticismo uma fuga?», no Filosofia Ateísta)
  3. «[…] filósofos que mais admiro pela qualidade de seus textos acerca do ateísmo um deles é Sartre, em que sua obra O Ser e o Nada demonstra a existência como sendo validada por si própria e fala da ma-fé que a crença em deus e na religião trazem ao anular a responsabilidade do homem. Outro filósofo é Feuerbach, que era teólogo e se aprofundou na antropologia e explicou como o homem faz a projeção do que há de melhor em si neste ser imaginário que é deus. E afirma que o amadurecimento do homem se dá com a perca da infantilidade de fazer essa projeção.»Deus não existe», no Filosofia Ateísta)
7 de Junho, 2007 fburnay

Pastor Tom Honey

Descobri no Youtube o vídeo da Ted talk, que já havia referido, em que o pastor Tom Honey coloca a questão sobre como Deus permitiu o tsunami. Aqui fica para quem quiser ver.

7 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Hoje há procissão

A Procissão Eucarística na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo sai à rua em numerosas localidades. Numa padiola viajará um Cristo fúnebre e infeliz, com ar de quem regressa ao quarto, de castigo, para fazer companhia a S. Sebastião furado de setas e à Maria Madalena de cabelos compridos, oferecidos por uma devota que nunca lavava a cabeça.

Antigamente ainda acompanhavam o andor anjinhos de asas derrubadas que chegavam ao fim da procissão, em dias de chuva, com as alvas túnicas mais sujas do que as calças de um pintor da construção civil. As mães vigiavam a compostura das criancinhas e a banda da música enganava-se na partitura.

Hoje é um ritual sem graça que se aguenta por hábito. Os devotos profissionais enchem as ruas para os turistas tirarem fotografias e o bispo arejar a mitra e exibir a custódia sob o pálio que uns mancebos seguram com ar de enfado.

Quando a GNR manda soldados a cavalo aumenta o folclore e a ofensa à laicidade do Estado. Os cavalos defecam nas ruas por onde passam.

Alguns presidentes da Câmara, confundindo as devoções particulares com os deveres oficiais, aproveitam a boleia do pálio e a companhia do clero com o mesmo ar com que os cavalos transportam os soldados com dragonas.

As procissões são restos de um mundo que se transformou, encenações de uma liturgia que deixou de ser levada a sério.

6 de Junho, 2007 Ricardo Alves

Há 100 anos, em Portugal, ia-se para a prisão por escrever sobre religião

No Almanaque Republicano:

  • «1906 [Dia 29 de Maio] – O professor Carlos Cruz, secretário da Associação do Registo Civil sai da cadeia, indultado pelo governo de João Franco. Este cidadão encontrava-se preso por ofensas à religião e tinha sido condenado a vinte meses de cadeia

Conforme já referido pelo mesmo Almanaque Republicano (noutra nota), o livre pensador Carlos Cruz cumpriu setenta e oito dias de prisão por ter criticado publicamente, por escrito, o «Dogma da Imaculada Concepção de Maria» (segundo o qual os avós do JC não cometeram «pecado» – seja lá isso o que for – ao conceberem a mãe do próprio JC, a qual mais tarde teria engravidado sem sexo, etc.).

Os clericais tentam-nos convencer dia-sim/dia-sim de que os republicanos tentaram implantar em Portugal um regime de ateísmo de Estado horrorosamente repressivo. É necessário recordar-lhes continuamente que a liberdade em matéria religiosa não serve apenas para afirmar dogmas; também existe para criticar esses dogmas. E, como se vê, não é necessário recuar até à inquisição para encontrar casos de perseguições a livre pensadores. Pelo contrário, não conheço um único caso de um católico preso durante a «pavorosa» República por afirmar este ou outro qualquer dogma católico em público…

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

6 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Corpus Christi

O corpo de Cristo, carcomido pelo tempo e pelos vermes, foi desprezado até ao Século XIII, altura em que o departamento de marketing resolveu aproveitá-lo para uma festa anual a ter lugar na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade, seja lá isso o que for.

O Papa Urbano IV foi o inventor da festa que realça a presença real do «Cristo todo» na hóstia. E quem não acreditar que naquela rodela está o corpo e o sangue do fundador da seita, é um herege.

Claro que causa alguma perplexidade que um corpo que subiu ao Céu, desça à hóstia em cada consagração e se meta na língua dos devotos, sem se saber qual a parte anatómica que pode calhar ao mais pudico dos crentes.

A primeira procissão temática teve origem em 1230 de acordo com visões de uma freira que as comunicou ao cónego que viria a ser o Papa Urbano IV.

Essas visões da freira exigiam uma festa da Eucaristia, à semelhança das visões da Irmã Lúcia que, menos de cinco séculos depois, obrigavam ao terço para conversão da Rússia e apaziguamento do «Nosso Senhor» que andava muito zangado e com humor lábil.

Esta festa da ICAR é festa «de preceito», isto é, uma festa que obriga todos os católicos a assistirem à missa. Assim, quem trocar a liturgia pela praia comete um pecado mortal e arrisca as perpétuas penas do Inferno onde o azeite fervente e o cheiro a enxofre eram os castigos certos antes de JP2 ter abolido o Inferno.

Na dúvida, católicos romanos, amanhã não faltem à missa nem à «Procissão Eucarística na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo». Até o nome é uma delícia.

Ateu que vos avisa, vosso amigo é.

5 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Os homens nascem ateus

Os homens nascem ateus mas há bandos de avençados do divino à espera de lactentes para os iniciarem nos rituais cabalísticos que os tornam pertença da religião professada e não mais os abandonam.

O parto é profano mas não tarda que a criança se transforme em neófito, aspergido pela água benta e submetido a um ritual litúrgico com a conivência dos progenitores. Depois desse ritual outros vêm numa sequência que mantém as vítimas presas aos carcereiros.

O baptismo é o averbamento místico na Conservatória do Registo Religioso do Deus que tem o registo predial do local de nascimento.

Assim, em Portugal o Deus é normalmente o do Papa, seja qual for o Papa e tenha ele o entendimento que tiver do Deus que na altura for mais apelativo à perpetuação da fé.

As crianças nascem ímpias mas não tardam a mudar a fralda com conteúdo cristão.

É este proselitismo que faz dos inocentes, crentes, e, destes, prosélitos ensinados a odiar os que não amam o Deus deles e não se conformam com os seus dogmas.

No negócio da fé há uma geografia cujas fronteiras todos os fanáticos querem alterar como, outrora, nas aldeias se mudavam os marcos às propriedades.

É preciso amansar os ímpetos prosélitos dos que não se contentam em transmitir os seus dogmas aos sócios e usam o terrorismo para os imporem aos crentes de outras religiões e aos descrentes de todas elas.

O remédio encontra-se no aprofundamento da laicidade do Estado.

4 de Junho, 2007 Carlos Esperança

O mundo de Deus

Num mundo à beira da guerra generalizada, por causa da carne de porco ou de um copo de vinho, só faltava que a igualdade entre os sexos fosse interdita pela vontade de um Deus misógino e pela vigilância policial dos clérigos de serviço.

Com pessoas de países ricos incapazes de fazerem dieta no consumo para prolongarem a vida do planeta, com predestinados que se julgam ungidos por um Deus volúvel como donos das riquezas do globo, com egoístas que preferem o desperdício à partilha, não é risonho, nem certamente pacífico, o futuro da humanidade.

Quando escasseia a água, se torna irrespirável o ar e tendem a acabar os combustíveis fósseis, é já dos alimentos que os ricos pensam apropriar-se, para os transformarem em combustíveis ao serviço do transporte individual. A vida dos pobres será cada vez mais curta e sofrida a menos que o princípio dos vasos comunicantes nivele por baixo a longevidade global.

No horizonte perfilam-se perigos que a intolerância e o medo se encarregam de agravar. Há meninos guerreiros em África, genocídio no Darfur, fedelhos escravos em muitos países, mulheres e crianças raptadas como escravas, na mais abjecta tradição medieval, para os mais repugnantes fins.

Eu sei que são pobres, feios e sujos; negros, analfabetos e desempregados: esfomeados, doentes e tribais. Há certamente uma vontade superior que quis o mundo assim dividido e um destino individual a que cada um está condenado. O pior é se as vítimas se agitam com o destino que lhes coube e, ai de nós, acabamos a comer o mesmo pão que o diabo amassou para todos.