21 de Maio, 2007 Carlos Esperança
Momento Zen de segunda
Lê-se a homilia de João César das Neves (JCN) às segundas-feiras no Diário de Notícias e fica a dúvida se é penitência do confessor, pela gravidade dos pecados, ou a deriva prosélita de um talibã apostólico romano.
JCN, na homilia de hoje, afirma que «o Iluminismo foi o único movimento cultural mundial que tentou fundar uma seita ateia e anti-religiosa». Esta afirmação não reflecte apenas miopia, revela ignorância e maldade. No fundo, é a nostalgia da Idade Média, das monarquias absolutas e do poder clerical.
JCN, na sua beata alienação começa por atribuir ao Iluminismo a responsabilidade pela Guilhotina e o Goulag – o que é uma mentira grosseira -, mantendo um silêncio pio sobre as fogueiras do Santo Ofício que foram um facto incontroverso.
Perturbado com a investigação histórica e com os novos avanços da arqueologia, JCN debita algumas inanidades e acaba por execrar os livros adversos fazendo uma boa selecção das publicações recentes: «The God Delusion do cientista britânico Richard Dawkins (Bantam Books, Setembro 2006); God Is Not Great: How Religion Poisons Everything, de Christopher Hitchens (Twelve, Maio de 2007) e a recente tradução portuguesa de The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason, de Sam Harris (W.W. Norton, 2004; Tinta da China, 2007).
E acaba, naturalmente, a considerar que «No meio da confusão, um livro marca a época: Jesus de Nazaré (Esfera dos Livros, Maio 2007), do Papa Bento XVI».
Nem outra coisa era de esperar.
Vale a pena ler a homilia completa. Faz pior à fé o fundamentalismo de um crente exaltado do que o livre-pensamento.