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Ateísmo na Blogosfera

  1. «Moldar a realidade às crenças dá para pouca coisa. Dá para inventar rituais, fazer estátuas e chamar-lhes deuses, ou desperdiçar tinta a escrever tratados teológicos, mas não faz com que exista um ser omnisciente e omnipotente. Impor a crença à realidade só cria deuses a fingir. Deuses de verdade, e tudo o que não conseguimos simplesmente inventar, podemos apenas tentar conhecer. E no saber é a realidade que manda na crença.

    O caminho para o conhecimento é tortuoso e cheio de obstáculos. Quem vai a direito movido pela fé entala-se no primeiro buraco que encontrar. Para compreender a realidade temos que usar a dúvida em vez da crença. Como o cajado do caminhante, testando se o solo é firme, se o charco é fundo, se a pedra está solta. E sem medo que a descrença estrague a realidade. Pelo contrário. Quanto mais real, mais resiste à nossa dúvida. […]

    A melhor forma de compreender a realidade é mesmo fazendo perguntas. O agnóstico, convicto que não há respostas, não sai do ponto de partida. O crente, fiel à primeira ideia que lhe ocorre, lá fica no seu buraco a imaginar que a realidade dele é diferente da dos outros. E o céptico usa a dúvida como método para abrir caminho, questionando o que pensava ser verdade, descobrindo coisas novas, compreendendo cada vez melhor onde está e o que está a fazer.

    É este método da dúvida que nos dá as vacinas, a agricultura moderna, os computadores, e toda a sociedade onde agnósticos e crentes podem insistir em conforto que não sabemos nada ou que temos certezas absolutas.»A dúvida como método.», no Que Treta!)

  2. «O conceito de uma divindade volitiva, ou seja, dotada de uma vontade pessoal, projectos e desejos, é incoerente em todos os sentidos por que a pensemos. O apelo último deste conceito esgota-se no “mistério”, precisamente porque a única forma de o traduzir de modo explicito em linguagem compreensível, é tentar conciliar o inconciliável (como alguns tentam conciliar a omnisciência e a omnipotência com a hipótese do livre-arbítrio).» («Conceitos», no Arqueologia do Corpo)
  3. «Às 12:55, sintomizei na RTP1 para ouvir (estava na cozinha, a preparar o almoço) as notícias da tarde. Estava a terminar um programa chamado Praça da Alegria. Falava, na altura, um dos seus habituais apresentadores, um tal Borga (que descobri, entretanto, que passa por padre católico). Apelava, solenemente, aos… portugueses. Hoje, às 22:00 horas, dizia ele, vamos todos parar e… rezar por Maddie. Uma vez mais, considerei-me insultado. Trata-se de uma estação pública que os meus impostos sustentam e o Estado português, que eu saiba, ainda é… laico. Onde pára o ministro da tutela, que não é capaz de obrigar a RTP a respeitar a Constituição da República? Este país é uma indecência, uma pulhice…»(«Este país é, todo ele, um… Borga…», no Abnóxio)

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