O sucesso social da religião organizada
O facto de as igrejas e outras comunidades religiosas se manterem estáveis durante um número considerável de gerações não tem qualquer mistério. Por definição, uma instituição autoritária é estável: os dogmas não se discutem, as regras não se mudam, quem manda não é questionado.
Mas, mesmo em contextos em que é possível abandonar a religião em que se cresceu, pode haver incentivos para não o fazer. Afinal, uma congregação onde se entra criança e de onde só se sai para o cemitério, com reuniões algumas vezes por mês ou até todas as semanas, permite manter uma rede de apoio social difícil de substituir. Ao longo de toda a vida, aqueles crentes que se vão conhecendo, que aturam as mesmas missas, que acabam por acreditar (ou por dizer que acreditam, o resultado é o mesmo) nas mesmas superstições e nos mesmos valores, desenvolvem naturalmente laços de confiança. Alguns serão (mentalmente) tão ateus como eu. Mas não abandonam o grupo da bisca, perdão, da igreja.
Em sociedades rurais, em que a comunidade da aldeia coincidia com uma unidade religiosa, era muito difícil sair do rebanho. Nas cidades modernas, já não é assim. Do grupo da escola primária (ou do liceu), até aos amigos de bairro ou do andebol, qualquer indivíduo transita entre vários grupos que não se excluem, e que não convergem necessariamente numa qualquer igreja. A urbanização dá uma machadada no papel social da religião.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]