2 de Abril, 2007 Carlos Esperança
João Paulo II continua morto
Há dois anos faleceu um dos Papas mais obsoletos da era moderna. Mesmo para Papa católico era excessivamente reaccionário e dementemente supersticioso. Graças à morte oportuna de João Paulo I e à alegada luz dos cardeais cujo combustível é o Espírito Santo, um cardeal polaco com excelentes relações com o Opus Dei e os EUA, chegou a Papa.
Como é costume no bairro do Vaticano puseram o xerife a render e a fazer proselitismo ao domicílio. Parecia que ganhava a vida ao quilómetro, ou melhor, à milha. Percorreu o mundo em encenações litúrgicas, seguido de uma multidão de fotógrafos, operadores de imagem e jornalistas.
O boato sobre a sua bondade e a inegável imagem de quem acreditava em Deus fizeram do perseguidor de teólogos e de defensores do Vaticano II uma das maiores vedetas do planeta.
A doença de Parkinson atingiu-o e foi penoso ver a ICAR a explorar o sofrimento, a ostentar a decrepitude, a mostrar a baba, numa atitude desesperada de o exibir a morrer em directo, para provocar a comoção e arregimentar crentes. Falhou o truque e ficou a imagem de impiedade dos cardeais da Cúria, indiferentes ao sofrimento, interessados na exploração dos negócios da fé.
Hoje, dois anos depois, começa a comédia dos milagres e o processo de canonização do cadáver. Metem-se empenhos para dispensar os prazos canónicos, abolir o interstício de beato e fazer do falecido autocrata um santo que promova as missas e orações onde a devota Polónia passa o tempo.
JP2 não era pior do que Escrivá, não era menos amigo dos ditadores do que o fundador do Opus Dei, e, até, acreditava em Deus. Bastam estas características para fazer santo o defunto.
Depressa que o negócio está à espera.