O prepúcio de Cristo e os Anéis de Saturno
Durante quase dois mil anos o cristianismo se debateu com a demência das ideias do prepúcio sagrado de Jesus Cristo. Imensas mentes desgastaram e fizeram desgastar tempo e intelecto com uma loucura apenas equiparável a outras demências religiosas dentro dos mesmos campos. Fiéis seguidores rastejavam para pagar indulgências, e obtinham a esquizofrenia total da adoração do prepúcio. Peregrinações eram feitas (com os bolsos a tilintar os sons de moedas que poderiam antes matar a fome) para prestar louvores à relíquia cristã.
Uma mulher com distúrbios mentais brutais conseguiu o prodígio de se ver santificada após uma vida de loucuras extremas, das quais se destacaram as actividades sexuais com o falecido Jesus Cristo, e o ainda mais ridículo casamento com o defunto comprovado pela oferta do profeta. O seu prepúcio. A Santa Catarina de Siena batia recordes de ridicularidade, e a Igreja Católica desejou que a sua demência continuasse a ser emanada nos seus patamares mais elevados. A cabeça da santa pode ser vista, assim como um dedo e outros pedaços de corpo espalhados por várias igrejas. Nada melhor que um passeio familiar até à igreja e contemplar um crânio. O necro-catolicismo vai ainda mais longe, e promove procissões com a cabeça da pobre coitada, eternamente ligada à demência religiosa.
Mais situações poderiam vir a ser cómicas caso não fossem interpretadas pelos religiosos como reais. Várias poderiam ser enumeradas, mas atribuirei particular relevância aos desvarios lunáticos do teólogo Leo Allatius, que dedicou uma extensa obra a este assunto de importância tão exacerbada denominada de “De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba”, “Discussão Sobre o Prepúcio de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Segundo o teólogo o prepúcio teria ascendido aos céus na mesma altura em que Jesus teria ascendido, também ele em rumo aos céus. Até aqui nota-se lunatismo, mas nada de saliente em relação ao que já foi exposto. O interessante do pensamento deste teólogo consiste no facto de o prepúcio do profeta ter ascendido aos céus, viajado até Saturno, transformando-se nos anéis de Saturno, que haviam sido recentemente descobertos.
Como normal nos meandros católicos de defecação ininterrupta, esta demência e outras foram aclamadas euforicamente pelos cristãos, sedentos de respostas para o tão importante prepúcio. Obviamente que não era de esperar que o teólogo considerasse os anéis de Saturno uma mistura de gelo, poeiras e material rochoso com centenas de milhares de quilómetros de diâmetro, não ultrapassando 1,5 km de espessura. Mas a atribuição de repostas onde elas não podem ser encontradas por falta de meios é um apanágio de qualquer religião.
Para melhor situar o lunatismo católico nada melhor que uma breve comparação de pontos antagónicos. A demência católica comparada com a genialidade de Giordano Bruno. Genialidade e catolicismo sempre foram factores mutuamente exclusivos. Bruno defendia o heliocentrismo, defendia a ideia de um universo infinito povoado por milhares de sistemas solares. Desenvolveu um livre pensamento incomum para os tempos de ouro do catolicismo e consequentemente de trevas para a Humanidade. Obviamente que a resposta católica foi de condenação da genialidade, atirando com o pensador para a prisão e torturando-o das normais formas escabrosas inquisitoriais. Não contentes acabaram por queimar vivo o génio, em 1600, altura em que Leo Allatius, o demente clerical que ainda não tinha a ideia de lançar um livro sobre um prepúcio tinha apenas catorze anos. Bastantes anos mais tarde veio a teorização dos anéis de Saturno compostos do prepúcio de um profeta e consequente esquizofrenia religiosa.
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