Quando comparo a religião cristã às religiões do passado, algumas pessoas sentem que a comparação é patética. «É absurdo comparar o cristianismo a mitologias», é uma objecção com que me vou deparando com frequência.
Se eu responder com uma pergunta, estou certo que não me será respondida. A pergunta resume-se a uma palavra: «Porquê?».
A verdade é que os crentes das religiões antigas (os gregos com o seu Zeus, Poseidon, Afrodite e por aí; os romanos com Júpiter, Neptuno, Vénus; os egípcios com Isis, Hórus, Seth, Amon-Rá; os escandinavos com Odin, Thor, etc…) não eram atrasados mentais. Não eram inferiores. Não eram limitados.
Não.
Eles simplesmente acreditavam.
Acreditavam nos seus pais. Acreditavam nos seus sacerdotes. Acreditavam nos textos antigos que tinham ao seu dispor, relatando as aparições e proezas dos seus Deuses. Acreditavam por vezes naqueles que diziam ter testemunhado milagres, ou falado com os Deuses.
E alguns sentiam. Sentiam vividamente a presença destes Deuses.
Era isto que os levava a acreditar em Amon-Rá, ou em Zeus, ou Júpiter, ou Odin, ou tantos outros.
Foi isto que levou tantos povos da terra a acreditar em tantos Deuses diferentes.
Se tais crenças são assim tão absurdas, teremos de concluír que estas são razões insuficientes para se estar certo que Deus existe. Insuficientes para se estar certo que é exactamente aquele que os nossos pais adoram, aquele a quem os sacerdotes que nos rodeiam prestam culto.
Mas o cristianismo não apresenta nenhuma razão adicional.
Vejo-o assim indistinguível de qualquer outra religião. Se estas crenças são absurdas, terei de ser claro: o cristianismo (ou islamismo, ou judaísmo, ou hinduísmo, ou tantas outras) não é menos.
Bento XVI acusa União Europeia de renegar origens cristãs
Bento XVI aguardou o 50.º aniversário do Tratado de Roma para surpreender a Europa com um discurso agressivo e imiscuir-se nos assuntos internos da União Europeia.
A acusação de que a Europa renega as origens cristãs, corrobora o ressentimento que se agravou com a progressiva tendência dos Estados laicos de descriminalizarem o aborto, legalizarem as uniões homossexuais, aceitarem a eutanásia e facilitarem o divórcio, ao mesmo tempo que a Igreja católica vê a sociedade secularizar-se.
As uniões de facto aumentam e os casais prescindem cada vez mais da festa religiosa e da bênção eclesiástica para os seus projectos comuns. A sexualidade emancipou-se da reprodução e o clero romano envelhece e reduz-se.
O rancor e a vocação teocrática de um Papa que quer regressar ao latim e ao cantochão, que deseja integrar a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, do falecido e excomungado bispo Lefebvre, e que odeia a modernidade, estão na origem do insólito discurso e na obsessão de impor os critérios morais da Igreja não apenas aos católicos mas a todos os europeus e, se as condições se tornarem favoráveis, ao mundo.
Voltaríamos à evangelização e às cruzadas, ao cristianismo tridentino, à contra-reforma, às monarquias absolutas e confessionais e à submissão do poder temporal ao espiritual, com a Europa transformada em protectorado do Vaticano e a esquecer o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Não há anticlericalismo sem clericalismo. Esta recidiva teocrática de Bento XVI põe em perigo a tolerância e o pluralismo que as democracias consagraram. No seu proselitismo Bento XVI vem perturbar a paz e abrir feridas numa Europa que sacrificou milhões de vidas às lutas religiosas.
Se não houver firmeza na defesa da liberdade religiosa – o direito de cada cidadão ter a religião que entender, não ter religião, ser anti-religioso ou apóstata -, criar-se-ão as condições para o regresso às guerras religiosas que dilaceraram a Europa e se limitaram a produzir santos, mártires e bem-aventurados.
Diário Ateísta/Ponte Europa
A Universidade Católica portuguesa foi a Fátima renovar a consagração. Nada temos com os gestos gratuitos ou desvarios de quem tem alucinações. Se alguém ousasse proibir uma tal manifestação teria o meu activo repúdio na defesa da liberdade religiosa que muito prezo.
Mas não se confunda o respeito e a defesa da liberdade religiosa com a solidariedade na mentira e na demência mística.
Algumas considerações:
1 – Se a Universidade Católica foi a Fátima é porque não acredita que fosse ouvida a partir de Lisboa;
2 – Se renovou a consagração é porque o prazo de validade da anterior estava a esgotar-se ou tinha sido mal feita;
3 – Ao agradecer à Virgem toda a ajuda ao longo da existência e pedir-lhe que continue, é uma injustiça enorme para o Governo, que a subsidia, não constando que a Senhora de Fátima desembolse um único euro;
4 – «O docente João César das Neves, no final da Eucaristia, explicou a presença de Cristo na vida da Universidade Católica» – segundo se lê -, sem explicar se integra o corpo docente, se tem currículo académico e que disciplinas lecciona, ou
5 – Se faz parte do pessoal menor (pouco provável, dado o relevo que lhe deu), se é chefe da secretaria ou o chantagista de serviço para obter benefícios do Estado.
Mais importante do que Cristo e a Mãezinha têm sido os sucessivos Governos que, ao arrepio da laicidade a que estão obrigados, têm constituído a caixa de esmolas da referida instituição particular. Uma vergonha.
Uma alemã, de origem marroquina, teve a desdita de numerosas mulheres ao longo da história, casar com um homem violento que a agredia e ameaçava de morte.
Com 26 anos, mãe de dois filhos, a vítima pediu ao tribunal de família de Frankfurt para que lhe concedesse um divórcio rápido. A pancada e as ameaças não são violências que se suportem num país civilizado. E a jovem mãe, casada em 2001, há mais de um ano que era vítima de espancamentos e ameaças.
Imagine-se que lhe saiu uma juíza, Christa Datz-Winter, que entendeu não ser urgente o seu caso pois ela tinha casado «segundo as leis islâmicas» e que, segundo o Corão, ela devia saber que «Não é invulgar que o homem exerça o direito de castigar a mulher».
A título excepcional, essa juíza devia ser obrigada a viver um ano com um muçulmano violento e piedoso, despojada das vestes forenses, vergastada na rua e, a seguir, repudiada pelo homem.
Talvez aprendesse que, acima dos preconceitos religiosos, estão os direitos humanos, mais importante do que um livro sagrado é a igualdade de direitos entre os sexos.
A integração da sharia na jurisprudência dos países democráticos é o caminho mais rápido para a introdução do direito canónico e o regresso ao estado totalitário de raiz confessional.
Apostila: Recordo o saudoso Francisco Salgado Zenha, de quem fui delegado na Lourinhã, em 1965, na farsa eleitoral promovida por Salazar. Foi ele, quando ministro da Justiça, que reintroduziu o direito ao divórcio que a Concordata abolira. Tal como no Islão, vigoravam as piedosas leis cristãs de Salazar e Cerejeira.
Amável deferência do leitor M.M.
O director do jornal satírico francês Charlie Hebdo foi ontem absolvido por um tribunal parisiense da acusação de injúrias de cariz religioso.
Enquanto o Islão político procura multiplicar os véus na paisagem urbana das cidades europeias, conquistar direitos de proselitismo e erguer mesquitas para obrigar os que tiveram a desgraça de nascer na anti-cultura islâmica, os católicos semeiam nichos de virgens nas esquinas dos caminhos, plantam cruzes nas paredes das estradas e capelas no cimo dos montes.
No Islão os mujaidines chamam os fiéis para as orações e a pregação do ódio aos infiéis, no cristianismo os padres promovem a missa, a confissão, a eucaristia e a excomunhão.
Em terras de Maomé lapidam-se mulheres que amem e degolam-se os crentes que não resistam ao álcool ou à carne de porco. Nos países onde B16 lança a peçonha, combate-se o divórcio, a homossexualidade e o aborto.
No terreno da fé a intolerância marca o ritmo do amor a Deus.
De há anos a esta parte o catolicismo aparece com a mesma virulência do islamismo. Só não mata porque os governantes não usam mitra e báculo. Deve ser prodígio mimético.
As cruzes aumentam no pescoço dos cristãos e nos bolsos viajam crucifixos a substituir a velha navalha de ponta e mola. Nos automóveis adejam Cristos nos suportes dos retrovisores e espalham-se imagens de santos pelo habitáculo.
São cada vez maiores as cruzes dependuradas nos pescoços dos católicos, manifestação de fé ou provocação, vá-se lá saber, numa ostentação pública das convicções privadas.
Se as cruzes continuam a aumentar de tamanho, dentro de décadas não há católicos de cruz ao peito, há cruzes em movimento com católicos dependurados. E ai de quem não se render ao instrumento de tortura com que o Papa quer crucificar a humanidade.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.