Refiro-me, claro, ao Cristo de chocolate! Esta doce escultura de 1,80m esteve para ser apresentada ao público numa galeria de arte em Nova Iorque mas, face à revolta e apelo ao boicote levado a cabo pela The Catholic League for Religious and Civil Rights, foi retirada da exposição.
A escultura imaginativamente intitulada “My Sweet Lord”, de Cosimo Cavallaro, procura, assim, um novo local para ser apresentada ao público em geral. Matthew Semler, director artístico da exposição, diz não terem ficado claras a razões dos protestos: o facto de ser de chocolate, o facto de estar nu ou o facto do chocolate ser preto.
Esta noticia fez-me recordar das caricaturas de Maomé e de toda a polémica gerada à pouco mais de um ano.Vá lá, os protestos não envolveram o incendiar de bandeiras nem o vandalização de embaixadas.
Algumas perguntas surgem-me, assim de repente:
O que é que a cera ou o barro têm de mais nobre que o chocolate e em que é que esta escultura difere das outras em relação aquela máxima “não idolatrarás”?
Ficando a escultura à mercê de uma católica perversa (que as há, felizmente) onde daria ela a primeira dentada?
(Diário Ateísta/Penso, logo, sou ateu)
Vamos entrar naquela semana em que, no final, se celebra nada mais, nada menos, que o maior embuste da civilização ocidental. Convém, portanto, estar atento.
É a semana em que nos querem fazer crer que um pai sacrificou o seu próprio filho para provar que ele era mesmo o progenitor; que o corpo do filho desapareceu três dias depois porque o pai assim quis; enfim, que o filho fugiu do sepulcro todo nu, uma vez que as roupas com que foi coberto depois de morto estão em exposição em Turim!
Cá por casa, morreu ontem um dos mandarins que as minhas filhas teimam em ter engaiolados. Tive pena que não aguentasse mais uma semana; daríamos apenas por falta dele na gaiola e teríamos a certeza que apenas optara por gozar a Primavera ao ar livre!
(Diário Ateísta/Penso, logo, sou ateu)
Todos os anos, por esta altura, o boato repete-se, divulgado nas caixas do correio.
Tudo leva a crer que os autores reincidam nos próximos anos, mas o ressuscitado não foi visto na área da paróquia nem há a menor suspeita de que se encontre na cidade.
Diz-se frequentemente que Portugal é um Estado laico com uma sociedade confessional. A primeira parte da afirmação tende a ser cada vez mais verdadeira, mas a segunda parte é cada vez mais falsa. Efectivamente, a laicidade do Estado permanece uma obra inacabada, que só pode ser terminada por um esforço deliberado e organizado dos cidadãos. Mas a evolução da sociedade portuguesa desde o 25 de Abril, como o mostra o comportamento espontâneo dos cidadãos na sua vida quotidiana, desmente que a sociedade portuguesa permaneça inalteravelmente católica.
Tentarei mostrar numa série de artigos (de que este é o primeiro), que na sociedade portuguesa actual, e ao contrário do que muita gente pensa, as determinações confessionais são cada vez menos relevantes no comportamento quotidiano dos cidadãos. Nesse sentido, a sociedade é cada vez menos confessional e mais secularizada.
A ascensão do casamento civil
No gráfico pode observar-se o crescimento da percentagem de casamentos civis entre 1966 e 2005. Ao longo destes quarenta anos, a percentagem de casamentos celebrados sem cerimónia católica prévia subiu de 12% para 45%. A década de 1971-1980 é de crescimento rápido (de 14,5% para 25,3%), a de 1981-1990 corresponde a uma estagnação (com oscilações entre 25% e 28%), e a década de 1991-2000 volta a ser de crescimento (de 28% para 35%). Os últimos cinco anos foram de crescimento acelerado: de 37,5% (2001) para 44,9% (2005). O casamento religioso poderá passar a ser minoritário já em 2008 (previsão que resulta de aplicar uma regressão linear aos últimos cinco anos) ou em 2010 (aplicando uma regressão linear aos últimos dez anos).
Em qualquer dos casos, a mensagem é clara: em 2005, nove casamentos em cada vinte foram realizados apenas pelo registo civil; e dadas as tendências de longo prazo, é de esperar que o casamento civil passe a ser maioritário nos próximos anos. Portanto, para os novos casais portugueses, o casamento é cada vez mais apenas um contrato civil (garantido pelo Estado), e não um sacramento religioso (perante «Deus»).
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
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