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Mês: Fevereiro 2007

10 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

A ICAR não acredita na vida eterna

Se, como diz a Igreja católica, há vida depois da morte, não pode, em nome da vida, tomar as suas opções éticas.

Sabe-se quanto gastam as famílias supersticiosas com a vida eterna, paga a prestações durante a vida terrena, através do pagamento de missas, indulgências, novenas e outras terapias sacras, sem comparticipação da Segurança Social.

Quem está familiarizado com a ICAR conhece os custos da terapêutica profiláctica para a vida saudável dos mortos, ou seja, o bem-estar vitalício das respectivas almas.

Que há vida depois da morte, passe o paradoxo, prova-o a quantidade de milagres que os mortos obram, as aparições de outros, com especial relevância para a Virgem Maria, e o próprio Cristo que já se tem deslocado a países amigos para aparecer a pessoas treinadas em visões, como aconteceu com a Irmã Lúcia.

Pode, pois, concluir-se que estão mais vivos os mortos do que os vivos, que a vida não acaba com a morte aparente, razão que leva as religiões a despachar prematuramente os ímpios, hereges, apóstatas e outros suspeitos de abominações.

Além disso, como tudo sucede por vontade de Deus, com que legitimidade se põe em dúvida essa vontade quando os actos desagradam ao clero, molestam o Papa ou põem a Senhora de Fátima a chorar? Que vá queixar-se a Deus e deixe os estados de alma com que participa na burla monumental dos santuários marianos.

9 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

O Opus Dei e a IVG

O Dr. Gentil Martins não se limita ao fanatismo religioso que o caracteriza, substitui-se ao Estado e à Ordem dos Médicos de que foi Bastonário.

«Para mim são licenciados em medicina, não são médicos» – afirmou em relação aos que – no caso do Sim ganhar o referendo – passem a realizar abortos até às 10 semanas. (DN, ontem, pág. 5).

Neste caso, não é o ilustre cirurgião que se pronuncia, é o exaltado membro do Opus Dei. Não é o médico respeitável mas o inquisidor fanático que, se pudesse, suspenderia das funções abnegados colegas que pensam de forma diferente.

Que o Dr. Gentil Martins prefira o aborto assistido por polícias em vez de médicos, que queira mulheres judicialmente perseguidas, que considere a prisão até 3 anos uma pena insuficiente para um crime que só as fogueiras purificariam, é uma atitude pessoal que se respeita mas não a resposta de um Estado de direito.

Este referendo não procura averiguar as considerações éticas dos eleitores em relação ao aborto. Apenas pergunta aos eleitores se desejam que continue a ser crime a interrupção da gravidez, até às dez semanas, a pedido da mulher, em estabelecimento de saúde autorizado.

É por isso que as vozes de Gentil Martins e Bagão Félix parecem saídas do Concílio de Trento, eivadas da febre das fogueiras do Santo Ofício, ao serviço de um Deus violento, cruel e apocalíptico. Que demónios escondem duas pessoas que imaginamos pacificadas com a hóstia e a missa, incapazes de uma visão totalitária sobre as convicções alheias?

DA/Ponte Europa

8 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Porque não sou um cristão cultural

Nenhum dos autores do Diário Ateísta é cristão, no sentido rigoroso do termo: acreditar que «Jesus Cristo» foi a encarnação de «Deus». (Se acreditássemos na divindade de «Cristo», seríamos crentes, como é óbvio!) Mas eu também não sou cristão no sentido cultural, de considerar «Cristo» o maior pensador da história da humanidade, ou de considerar o cristianismo o melhor dos sistemas éticos. Pelo contrário, falta-me na cultura cristã uma defesa clara da liberdade, da tolerância para com aqueles que não seguem o caminho de «Cristo», e da igualdade independentemente das crenças. Mais. Consigo facilmente pensar numa dezena de pensadores que são mais importantes para mim: Voltaire, Thomas Paine, Robert Green Ingersoll, Antero de Quental, Tomás da Fonseca, Albert Camus, Bertrand Russell, Carl Sagan, Richard Dawkins, Henri Peña-Ruiz.

Há ainda um outro sentido, biográfico, em que não me posso considerar um cristão cultural: não fui baptizado, nunca pertenci a nenhuma igreja cristã. Num sentido muito preciso, posso dizer que nunca fui cristão.
8 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

«Charlie Hebdo» em tribunal

Em nome da liberdade de expressão, manifesto, por pouco que valha, a minha inteira solidariedade ao jornal satírico que ontem começou a ser julgado em Paris, acusado de «injúria» ao Islão.

Se há injúria é no comportamento de islamistas que, em nome da fé, perpetram actos de terrorismo, querem converter o mundo a princípios anacrónicos, discrimina as mulheres, decapitam infiéis e impõem regimes totalitários, sem respeito pela separação da Igreja e do Estado.

Julgar os que têm a coragem de denunciar e ridicularizar princípios racistas, xenófobos e misóginos, é vigiar a liberdade, enfraquecer a democracia e pôr em causa conquistas civilizacionais.

As alegadas ofensas à fé não são mais, em qualquer religião, do que uma forma velada de censura, uma ameaça ao livre-pensamento, a imposição de valores particulares a toda a sociedade.

Que sucederia se o Estado tivesse de dirimir confrontos entre os que se dizem ofendidos por aqueles que acusam Estaline, Hitler, Pinochet, Salazar Franco, Mussolini ou Pol Pot e os que acusam estas figuras de sinistras e criminosos?

A censura é a arma dos intolerantes contra os defensores da liberdade. A União das Organizações Islâmicas de França e a Grande Mesquita não podem obter num país livre uma vitória da fé contra a liberdade.

DA/Ponte Europa

8 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Debates sobre a despenalização da IVG

Estarei hoje, às 21 horas, na Rádio Nova Antena (Odivelas), para um debate sobre a despenalização da interrupção voluntária de gravidez (podem ouvir em FM 92.0 na região de Lisboa, e 101.3 no Alentejo; ou na internete). E amanhã, às 10 horas, na escola Vitorino Nemésio (Chelas, Lisboa), para outro debate sobre o mesmo tema. Em ambos os debates represento a plataforma «Eu voto sim!».
7 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia está a ser treinada para santa

Bispo de Coimbra vai pedir a dispensa do período de espera de cinco anos após a morte da Vidente de Fátima

A Igreja Católica é uma hidra poderosa que resiste ao tempo e aos escândalos, aos crimes e às mentiras, aos abusos e ao delírio místico. Nem os padres e os bispos conseguem dar cabo dela. Nem os Papas.

A Irmã Lúcia, a mais antiga reclusa do mundo, começou em criança a ter visões. Como eram escassos os médicos e numerosos os padres, em vez de a tratarem, exploraram as visões que o confessor lhe insinuava na luta contra a República e o Comunismo.

A pobre prisioneira, que chegou a receber a visita de Cristo, em Tuy, e que visitou o Inferno onde viu o Administrador de Ourém, que não ia à missa, tornou-se a promotora do terço e de pios embustes enquanto os primos curaram a D. Emília, de Leiria, no exercício ilegal da medicina reservado a mortos.

O bispo de Coimbra já tem certamente na manga alguns milagres para a elevar aos altares. A fé dos crentes precisa de ser avivada com feitos extraordinários, encerrados que foram o Inferno, devido à escalada dos combustíveis, o Limbo, por dar prejuízo, e o Purgatório por ser demasiado difícil de manter sem fazer obras de reparação.

Se um agnóstico montasse um negócio, como o de Fátima, e recebesse cordões de ouro e dinheiro a troco dos milagres que inventava seria preso por burla.

Um bispo pode dedicar-se ao negócio dos milagres sem que a polícia o incomode, a Ordem dos Médicos o processe, o fisco o persiga e as pessoas sensatas o levem a sério.

E a morta não se queixa.

7 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

Sexo, Padres e Códigos Secretos

Eis uma análise feita por autores que pertencem (ou pertenceram) à ICAR e são profundos conhecedores da teologia e do direito canónico. Dificilmente poderão dizer os créus que nos visitam que o livro foi escrito por inimigos da ICAR e não sei que outros argumentos lhes sobram para continuarem a manter o crime e a hipocrisia.

6 de Fevereiro, 2007 jvasco

Apontamentos acerca do meu SIM

Um espermatozóide está quase a alcançar o óvulo. Neste momento, dão-vos esta escolha: querem que ele fecunde ou preferem evitar que isso aconteça?

Se responderem que preferem evitar que isso aconteça, estão a matar alguém?

Se acreditam no argumento do «ser potencial» terão de responder que sim. Terão de responder que o futuro previsível de uma solução é que uma criança nasça, e no outro caso isso não se sucederá.

Mas aí, sejam coerentes: lembrem-se que o futuro «previsível» de uma mulher ir para freira é que não terá filhos, o que corresponde à morte dos filhos que previsivelmente teria se tivesse optado por outro futuro. Lembrem-se que o planeamento familiar mata imensos seres que previsivelmente nasceriam caso não se tivesse acesso aos métodos contraceptivos.
Sejam contra o preservativo e a pílula como a igreja, mas sejam também contra a castidade e abominem a abstinência. Lembrem-se que as mulheres que optaram por ter menos de 10 filhos provavelmente estão a matar seres humanos potenciais, e vejam sempre como eticamente incorrecto que as pessoas não se esforcem para ter o máximo número de filhos que podem. Construam um mundo superpovoado e cheio de incubadoras – as mulheres.

Sei que qualquer pessoa decente e civilizada sente repulsa por esta visão, e mesmo os defensores do não que usam o argumento do «ser potencial» não acreditam nisto.

Eles acreditam que existe uma diferença entre o momento antes do espermatozóide fecundar o óvulo, e depois.

A partir daí, acreditam que já existe um ser humano. A grande diferença, dizem, é o ADN.

Deixem-me dizer-vos: o ADN não define um ser humano.
Deixem-me repetir-vos: o ADN não define um ser humano.

O ser humano não está no ADN. O nosso «eu» não está no ADN.

Existe um argumento simples e ilustrativo: os gémeos verdadeiros têm o mesmo ADN.
São a mesma pessoa? Não.

Não existe uma pessoa sem cérebro.
Peço ao leitor que faça a seguinte experiência imaginária: o leitor está num hospital apetrechado com tecnologia do século XXX, um órgão vital seu está em perigo, se não for substituído, o seu corpo vai morrer. Ao seu lado está outro indivíduo – chamemos-lhe Augusto. Foi envenedado, e embora no hospital possam salvar um órgão deste paciente, o corpo do Augusto está condenado a perecer. Assim sendo, a equipa do hospital opta por trocar o orgão do leitor em perigo pelo orgão do Augusto que podem salvar.

Se trocarem o coração, apenas vai existir um sobrevivente: o leitor.
A mesma coisa para os pulmões, os rins, o fígado, quase qualquer órgão.

Mas se trocarem o cérebro, não é o leitor quem sobrevive. É o Augusto que fica com um novo corpo.

A pessoa está no cérebro, e o embrião não tem qualquer neurónio formado. Não tem actividade cerebral.

Não, o embrião não é uma pessoa.

E se para mim me parece cruel e desumano obrigar uma mulher a suportar uma gravidez que não deseja, eu não posso aceitar o argumento de que isso é feito para salvar alguém: ninguém está a ser salvo, só um mito e uma ilusão.