One Nation Under God (1)
A sociedade americana, mergulhada na sua multiplicidade cultural, não se consegue livrar do fascínio pelas mitologias modernas. Recentemente, uma sondagem efectuada pela Gallup, uma das mais conceituadas organizações em termos de estudo da opinião pública norte-americana, revela que, em igualdade de circunstâncias dos candidatos, o eleitorado americano teria como última opção um candidato assumidamente ateu!
Devo dizer que considero este tipo de sondagens, por si só, degradantes. Uma sociedade em que ainda fazem sentido este tipo de sondagens está, com certeza, ainda muito longe de atingir o pleno estágio de sociedade justa e demonstra uma fixação em valores fictícios de moralidade, no mínimo, doentios.
Não vejo na sondagem uma única hipótese onde encaixaria uma posição pessoal. Não me consigo imaginar a limitar o meu voto por qualquer das características a votação. Valores como integridade, seriedade, capacidade de liderança ou sentido de justiça são, assim, arremessados para fora da discussão como se de factores supérfluos se tratassem!
Já no ano passado, um estudo da Universidade do Minnesota revelava que os ateus seriam o grupo que menos confiança transmitia aos norte-americanos, isto apesar de representarem menos de 3% da população.
Neste estudo, uma vez mais, o factor da moralidade é apontado como decisivo para estes resultados. A ilusão de que numa sociedade ateísta se assistiria ao declínio da moralidade é vista pelos norte-americanos como um argumento válido! Isto só tem justificação numa sociedade intoxicada culturalmente pela religião.
Podem-se encontrar razões recentes na sociedade norte-americana para esta forte influência religiosa – os atentados do 11 de Setembro, o recurso escandaloso a Deus nos discursos de George W. Bush – mas, na verdade, enquanto a tolerância parece aumentar em relação a outras minorias, os ateus permanecem lá bem no fundo da lista de preferências.
Naturalmente, as reacções começam a surgir; Sam Harris, Richard Dawkins e Daniel C. Dennett são apenas as faces mais visíveis do que, espero, virá a ser um forte movimento cívico contra a fantasia, a mitologia, o misticismo e a ficção.
(Diário Ateísta/Penso, logo, Sou Ateu)
Perfil de Autor
Casado e pai de duas filhas, nunca revelou tendências para o sobrenatural. Aos oito anos aprendeu a dizer "Somos surdos, Senhor" no lugar de "Ouvimos, Senhor". Defende que o ateísmo deve ser construído à conta dos seus próprios méritos e não baseado nos desméritos das religiões. Fundador e webmaster do Portal Ateu, prefere abordar as questões de laicidade, moral e cultura. Blog pessoal: Penso, logo, sou ateu. Também no Twitter e no Facebook.