28 de Fevereiro, 2007 jvasco
Boas leituras
De cabalas e da insustentável estupidez dos teocratas
Momento zen de segunda
Violência em nome de Deus
Todos da Palmira, no Random Precision.
De cabalas e da insustentável estupidez dos teocratas
Momento zen de segunda
Violência em nome de Deus
Todos da Palmira, no Random Precision.
«Neste post vou-me aventurar num tema no qual não estou muito à vontade, e peço já desculpa por qualquer calinada. Mas o Jónatas Machado apontou a conservação da energia como evidência contra a teoria da evolução e a favor da sua fé criacionista, e é precisamente o contrário.
Na mecânica Newtoniana, e num espaço-tempo plano, podemos considerar o sistema como invariante a translações no tempo; ou seja, não interessa quando contamos o instante 0. A consequência disso é a conservação de energia, com energia sendo um valor com uma dimensão (um escalar). Daqui tiramos a tal regra simples que a variação da quantidade de energia num sistema é igual à energia que entra menos a que sai, porque nenhuma é criada nem destruída.
Temos duas formas de calcular isto. Podemos somar a energia que passa por toda a superfície do sistema, ou somar a variação de energia de cada volume infinitésimo dentro do nosso sistema. Se considerarmos os nosso sistema partido em volumes minúsculos, a energia que sai de um entra nos vizinhos, excepto para os que estão na fronteira do sistema e trocam energia com o exterior. A integração de variações em volumes infinitésimos dá assim o mesmo valor que o total de energia que atravessa a superfície. Num sistema isolado não entra nem sai energia, e a variação total é zero.
Com a relatividade isto complica-se. Num espaço-tempo curvo não podemos separar a coordenada do tempo da mesma maneira, e o que é conservado é um vector com quatro dimensões (momento e energia). Os detalhes da matemática ultrapassam-me, mas o resultado, trocado por miúdos, é que agora as duas formas de calcular a variação total de energia do sistema dão valores diferente: somar a energia que passa por toda a superfície não dá o mesmo que somar as variações em volumes infinitésimos porque não estamos a somar valores escalares mas sim vectores definidos em pontos diferentes do espaço-tempo.
Normalmente podemos ignorar a relatividade, e usar a formulação simplificada da conservação de energia. Na evolução e em toda a biologia a variação de energia de um sistema é sempre a diferença entre a que entra e a que sai, quer seja a Terra toda quer seja uma bactéria. Mas na cosmologia é preciso complicar a matemática para modelar o universo em expansão, e a conservação não se reduz a uma frase simples como a de Jónatas Machado:
«Os evolucionistas deveriam compreender que o seu sistema é um “non starter”, na medida em que a lei da conservação da energia afirma que em todos os processos os componentes que entram são equivalentes aos que saem»
Aqui na Terra todos os seres vivos persistem e evoluem à custa do Sol, que fornece energia de sobra para alimentar estes processos. No universo como um todo não se aplica a versão simplificada da lei da conservação de energia. Quando aplicamos correctamente as leis que conhecemos vemos que a expansão do nosso universo pode gerar todas as partículas de que tudo é feito. Não há contradição entre a cosmologia, a evolução, e a conservação de energia, desde que aplicada correctamente. Como alternativa à cosmologia e evolução, Jónatas Machado propõe:
«Criar algo a partir do nada é impossível. E no entanto, nós aqui estamos.[…] Isso é inteiramente consistente com a ideia de que Deus criou o Universo, numa semana de Criação muito especial e absolutamente singular»
Os criacionistas rejeitam a evolução por considerar que é impossível. Rejeitar o impossível é boa ideia, e neste caso é apenas um erro (não é impossível). Mas o passo seguinte é absurdo, pois defendem a criação ex nihilo precisamente por ser impossível. E não é só o criacionismo fundamentalista que sofre desta incoerência. Um dos principais argumentos para a existência de um deus criador sempre foi a necessidade aparente de uma primeira causa, e os teólogos apoiavam-se na filosofia natural por indicar que todo o efeito teria causa. Hoje em dia sabemos que não é assim. Ao nível sub-atómico muitos efeitos nem podem ter causa. O mesmo raciocínio que justificava inferir um deus criador até ao século XX obriga agora a rejeitar essa hipótese. Não só é desnecessário como é aparentemente impossível que um deus tenha criado o universo.»
——————————–[Ludwig Krippahl]
Se o sr. Domingues tivesse escrito que os africanos são «cretinos», seria racista. Se tivesse designado os judeus por «quadrilha de idiotas», seria anti-semita. Se tivesse chamado «estúpidos» aos brasileiros ou aos chineses, seria xenófobo. Se o Público tivesse editado um artigo aludindo à «burrice» católica, dez bispos gritariam «a ICAR está a ser perseguida». Se o alvo fossem os muçulmanos, haveria uma crise internacional. Se um militante do PS (ou de outro partido) tratasse, nos jornais, os do PSD (ou de outro partido) de «estúpidos», «cretinos» e «idiotas», seria excluído do debate público. No entanto, este género de linguagem ordinária é permitido a um grupo específico de portugueses, os sacerdotes católicos. Haverá justificação para se ser eticamente menos exigente com estes senhores? Eu penso que não.
O artigo referido veio na sequência de uma célebre campanha do jornal Público, durante a qual o militante clerical António Marujo tentou convencer os leitores de que iam laicistas a casa das pessoas impedi-las de fazer presépios ou de sairem para a «missa do galo». A campanha era montada a partir de falsidades e meias-verdades, e duvido que Frei Gambozino Domingues não o soubesse. Foi grosseiro gratuitamente.
Por um misto de paternalismo e comiseração por quem ganha a vida a vender uma banha da cobra chamada «ressurreição», a contar patranhas sobre as leis da natureza e sobre acontecimentos históricos, e a meter-se na vida dos outros, muitas pessoas tendem a ter padrões éticos mais baixos para os sacerdotes católicos. É um erro. Qualquer padre pode compreender que a «ressurreição» é treta, e que não é por querer agradar a divindades abstractas que se deve ajudar as pessoas concretas. Resta acrescentar que certos ingénuos e ingénuas acham Frei Gambozino «tolerante». Eu não percebo se os insultos que profere são toleráveis para essas pessoas. Para mim, não são.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
«No outro post (aqui) escrevi que a informação numa sequência de elementos, por exemplo uma molécula de ADN, é determinada pelo número de tipos diferentes de elementos e pelo número de elementos na sequência. Isto é verdade para especificar sequências em geral.
Mas se queremos transmitir uma sequência em particular podemos reduzir a quantidade de informação. Por exemplo, o número e, base dos logaritmos naturais, é uma dízima infinita não periódica: 2.718281828459… Mas pode ser especificado como (imagem tirada da wikipedia)
No outro extremo podemos imaginar uma sequência infinita aleatória. Esta só pode ser codificada com uma quantidade infinita de informação, porque não se pode codificar aquela sequência aleatória de forma mais concisa.
Isto revela o antagonismo entre especificidade e informação. Algo que possa ser especificado de forma concisa pode ser codificado com pouca informação, e algo que tem mais informação não pode ser especificado de forma tão concisa. Daí o contra-senso na exigência criacionista. Citando Jónatas Machado:
«O melhor que os evolucionistas conseguem é dizer que a complexidade especificada contida no DNA surge por mutações aleatórias e selecção natural.[…]
As mutações benéficas são raras, não são seleccionáveis e não acrescentam informação complexa e especificada ao genoma.»
Quanto mais especificado menos informação. Por isso é claro que as mutações não podem ao mesmo tempo aumentar a especificidade e a informação. As mutações acrescentam informação precisamente por serem aleatórias e não específicas. O que aumenta a especificidade é a selecção natural, que o faz à custa de reduzir informação eliminando preferencialmente as variantes com menor desempenho na luta pela reprodução.
O problema não está na teoria da evolução, mas na contradição que é o conceito criacionista de informação especificada.
Para saber mais sobre a constante e»
——————————–[Ludwig Krippahl]
Não são os ateus que destroem a Igreja Católica, como o Papa e os bispos nos acusam, atribuindo-nos uma importância que não temos e intenções que nos são alheias.
O ateísmo não faz proselitismo, limita-se a denunciar as mentiras em que as Igrejas se fundamentam, os crimes com que escreveram algumas das páginas mais negras da sua história e a obstinada resistência à democracia e à modernidade.
A ICAR foi a voz do feudalismo quando as transformações económicas e sociais se encarregaram de o liquidar; defendeu o absolutismo monárquico contra o liberalismo, a monarquia contra a república, o nazismo contra a democracia. As posições reaccionárias foram sempre bandeiras dos padres, bispos e Papas, assumidas com particular zelo nos dois últimos pontificados.
Numa sociedade de classes a ICAR quis ser a porta-voz de interesses antagónicos; num mundo que evolui e se transforma quis manter os dogmas e o imobilismo moral e social. Ficou só, num combate em que os jovens fugiram dos seminários e a sociedade entrou em choque com a última teocracia europeia – o Vaticano.
A contracepção, o aborto, o divórcio, a eutanásia, a homossexualidade, a clonagem e, sobretudo, a emancipação da mulher, reduziram a moral católica a um anacronismo que nem os crentes tradicionais estão dispostos a suportar.
E, se o apoio a todas as ditaduras, com excepção das comunistas, não contribuiu para o prestígio do último Estado totalitário da Europa, também o comportamento do seu clero não ajudou o prestígio do seu Deus.
Assim, a ICAR vai morrendo enquanto outras Igrejas, quiçá mais fanáticas, surgem com a violência das suas mentiras apoiadas no poder dos Estados que controlam, numa orgia mística e num desvario de violência e crueldade, como sucede com o fascismo islâmico.
Há-de ser a laicidade a ganhar a inteligência dos homens e a impor o Estado de direito ou serão as religiões a ditar as regras de conduta da Humanidade e a fazer regredir a civilização.
As religiões são incompatíveis com a democracia. A vocação totalitária só lhes permite fingir que se acomodam enquanto as não podem minar. As religiões fogem da liberdade como a ICAR diz do diabo em relação à cruz e os islamitas de Maomé face ao toucinho.
inquérito realizado pela revista USA Today/Gallup:
Se o seu partido nomear um candidato, devidamente qualificado, para as eleições, e que seja ____, votaria nessa pessoa?
Católico: 95% Sim | 4% Não
Negro: 94% Sim | 5% Não
Judeu: 92% Sim | 7% Não
Mulher: 88% Sim | 11% Não
Hispânico: 87% Sim | 12% Não
Mormon: 72% Sim | 24% Não
Casado pela terceira vez: 67% Sim | 30% Não
Com 72 anos de idade: 57% Sim | 42% Não
Homossexual: 55% Sim | 43% Não
Ateu: 45% Sim | 53% Não
e se fosse “uma mulher negra, de 72 anos, homossexual e ateia”? “divorciada”? 🙂
[também no esquerda republicana]
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.