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Mês: Janeiro 2007

23 de Janeiro, 2007 Ricardo Alves

Cristo será eleito rei da Polónia?

Caro leitor, por vezes o surreal é o real. Só mesmo na clericalíssima Polónia é que se encontrariam quarenta e seis deputados dispostos a levar a votação uma moção para eleger «Jesus Cristo» rei da República polaca.

Tendo em conta que a «Virgem Maria» já é «rainha honorária» da Polónia há 350 anos, sem nunca ter abdicado ou desfalecido no cargo, nem mesmo durante a ditadura comunista, teremos uma monarquia dualista. Só falta saber se a pomba também pode ser eleita.

Não se ria, caro leitor. A Polónia existe e faz parte da União Europeia.
23 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

De bioética, ciência e tolices sortidas – II

Excertos de um texto de Carlos Fiolhais, publicado com o título «BIOÉTICA OU AS TRAPALHADAS EM QUE BIÓLOGOS E MÉDICOS SE (NOS) METERAM»

Há, no Texas, uma cidade com o nome bem latino de Corpus Christi. Fica no Sul da América do Norte nas costas do Golfo do México.

Os habitantes de Corpus Christi votaram no dia 19 de Janeiro de 1991 num referendo municipal para responder à pergunta «quando começa a vida humana». Mais precisamente, a questão consistia em adicionar a lei local à frase «a vida começa com a concepção».

63% dos votantes mostraram-se contrários a tal medida, apesar da abstenção ter sido muito elevada. O jornal de Chorpus Christi deu o maior espaço da primeira página ao resultado do referendo, esquecendo a Guerra do Golfo em que nesse mesmo dia as tropas norte-americanas estavam empenhadas.

Pode-se bem imaginar, sem lá ter estado, a quantidade de argumentos científicos e teológicos, médicos e éticos, que apareceram na campanha eleitoral…

A campanha foi marcada por confrontações violentas. Os argumentos foram, portanto, bem menos intelectuais do que seria desejável. O bispo lá da terra, que usa um chapéu de cow-boy, à moda do J.R. do «Dallas», excomungou sumariamente dois médicos católicos que, ao que parece, dirigiam clínicas onde se praticavam abortos.

Um dos sheriffs do sítio (não, não há só sheriffs nos filmes de cow-boys, também os há em Corpus Christi!) mandou erguer placards com a sua posição sobre o assunto: «My first duty is to GOD», assim mesmo com maiúsculas em GOD e tudo. Um dos activistas da campanha anti-aborto explicou resumidamente o modo como votou no referendo: «Deus quer que salvemos as suas crianças porque esta cidade tem o seu nome».

Inspirado pelo bispo e com a complacência do sheriff, os mais extremistas tentaram fazer «operações de salvamento» nas ditas clínicas, usando a força. A mulher do sheriff foi presa na tentativa de ocupação de uma clínica, pelo que os polícias receberam ordem para não interferir. «Deus está acima da lei», é a tradução da frase do chefe da polícia.

(…)

E em Portugal? Tem-se debatido com profundidade e conhecimento de causa as questões bioéticas, cada vez mais actuais e prementes, tanto da vida como da morte? Têm cientistas e políticos trocado informações e ideias? Têm ao grande público chegado mais do que o «fait-divers» dos jornais, que noticiam o que acontece a norte-americanos e a outros?

O autor destas linhas vai em crer que se se fizesse um inquérito sumário na Assembleia da República sobre o modo como é geneticamente determinado o sexo de um filho ou o que é uma morte cerebral a resposta seria um espelho do que é a realidade do país: ignorância pura e simples dos factos biológicos mais simples. É, evidentemente, imprescindível a ética. Mas, uma ética sem ciência é uma ética analfabeta.

Ninguém nos dias de hoje, quando a biologia é determinante para o futuro do homem, se pode dar ao luxo de ser um analfabeto científico e de nada saber sobre questões que se, se é certo que têm componentes políticas, culturais e religiosas, exigem também e à partida conhecimentos científicos. Os políticos deviam começar por dar o exemplo da alfabetização científica. Quando um dia aprenderem o que é o código genético ou o que é uma mutação in vitro, já será demasiado tarde. A falha de ética ou o défice de ciência, podem, juntas ou separadas, vir-nos a custar o futuro.

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23 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

De bioética, ciência e tolices sortidas

Acho sempre divertido – embora irritante – que a Igreja Católica, empenhada numa cruzada contra a «irracional» ciência e os «terroristas» que a praticam, tente confundir os mais incautos invocando em vão o nome ciência para vender como verdades científicas as maiores barbaridades.

Em relação ao tema aborto ler e ouvir o bispo da Guarda, Manuel Felício, que nem deve ter uma pálida ideia sobre o que seja a ciência – a crer nos abundantes dislates que debita sob a (pseudo)égide da mesma – confirma que a única moral «absoluta» cristã na história do cristianismo é a que estabelece que os fins justificam os meios, e um dos meios banalizados para propagar e manter a fé é o medo, instalado pela mentira e pela ameaça.

Já a homilia de Ano Novo do dignitário católico tinha sido uma elegia da mentira e especialmente das «opiniões tolas», as tais que Agostinho de Hipona tão sabiamente advertiu os cristãos para não pronunciarem. Claro que uma plateia tão analfabeta cientificamente como o seu pregador não se apercebe da tolice abundantemente debitada pelo empenhado pró-prisão. Mas a resposta «científica» apresentada como prova cabal de que o embrião/feto é uma pessoa é tão tola que precisei ler de novo, para mais uma vez confirmar que não tinha ido parar ao equivalente nacional da minha «Cebola» favorita.

Se não vejamos: diz o dignitário que «há uma relação vital que se desenvolve progressivamente entre o feto e a mãe», isto é, a verdade de la Palice que a vida do feto depende da mulher, relação que para o dignitário «é só própria de pessoas e entre pessoas». Não sei se o facto de existir uma «relação vital» entre um parasita e um hospedeiro equivale taxonomicamente o primeiro ao último mas certamente que face a esta explicação Feliciana a ciência vai conhecer uma revolução inaudita!

Mas as tolices felicianas não pararam aqui! Uns dias depois de classificar o aborto como medida de «exclusão social», um Felício à beira da apoplexia ululou em prime time hoje que o «aborto é equivalente à pena capital» e que ele, Manuel Felício, bispo da Guarda, é um embrião.

As excepções já contempladas na actual lei confirmam que a segunda afirmação não anda muita longe da verdade – pelo menos no que a neurónios diz respeito – e assim se explica a tolice da primeira!

E após conversa com outro Carlos de Coimbra, com uma pena tão fácil e erudita como o nosso, mas com apelido que apenas contém esperança de um Portugal cientificamente mais esclarecido, recupero um texto do Carlos Fiolhais, mais um cientista pelo SIM, publicado na revista Omnia no longínquo ano de 1991, de que reproduzo excertos no próximo post. As conclusões do Carlos, velhas de 16 anos, mantêm-se actuais: «A falha de ética ou o défice de ciência, podem, juntas ou separadas, vir-nos a custar o futuro».

Dia 11 de Fevereiro joga-se também o futuro de Portugal, o modelo de sociedade que queremos construir. Se queremos uma sociedade democrática e moderna ou uma sociedade de embriões felicianos. E é preciso que o não esqueçamos! E, principalmente, urge que não deixemos que os fundamentalistas católicos explorem a falha de ética e o défice de ciência da população menos esclarecida para manipular o resultado do referendo para os fins necessários ao integrismo totalitário que ambicionam!

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(continua)
22 de Janeiro, 2007 Ricardo Alves

Merkel quer pôr «Deus» na lei fundamental da UE

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, criticou a «Constituição europeia» ainda em discussão por não conter uma referência às «raízes cristãs» da Europa. Segundo Merkel, «a Europa não é um clube cristão, mas é um clube de valores». É um pequeno progresso: o lema «a Europa é um clube cristão» é da autoria do seu antecessor conservador, Helmut Kohl. Merkel acrescentou: «não aceitaremos, em caso algum, pontos de vista (…) segundo os quais o homem e a mulher teriam oportunidades diferentes».

A chanceler da Alemanha contrastou ainda a «Constituição» europeia com a Lei Fundamental alemã, cujo preâmbulo arranca com um: «concientes da sua responsabilidade perante Deus e os homens…». Informo a senhora Merkel de que esta frase adornou em tempos uma Constituição portuguesa. Era a mesma, veja lá, em que a igualdade perante a lei era ressalvada «quanto ao sexo» pelas «diferenças de tratamento justificadas pela Natureza», o que permitia que às mulheres fossem vedadas certas profissões. Enfim, defender que a igualdade entre os sexos é um valor cristão, é desonestidade pura.
22 de Janeiro, 2007 Ricardo Alves

A mulher que não aperta a mão

Uma agente policial britânica recusou-se a apertar a mão ao seu superior hierárquico. A razão? A religião dela não o permite. Não se sabe como fará para imobilizar um ladrão ou um briguento de rua.

Qual é a religião? A mesma que a faz utilizar um véu. E o Estado britânico acha bem que uma agente policial ande de véu. Agora, também creio que vão «acomodar a diferença» que consiste em não apertar a mão a homens.
22 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

Intolerância cristã


Fanático cristão invade o palco de um teatro onde se exibe a peça «Me cago in Dios» e agride os actores. De facto, a sátira é algo intolerável aos crentes mais fanáticos, que não aceitam que alguém possa agir sem ser de acordo com os canônes da sua Igreja! Muito menos aceitam que se parodiem esses mesmos canônes…

22 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

As posições do NÃO

Um post no SIM ao referendo que explica muitas posições NÃO, explica que o que move muitos não é, como ululam, a defesa da vida, mas sim o incómodo que lhes causa a IVG por opção da mulher. Isto é, o que os incomoda é a liberdade de consciência da mulher.

O post aborda a homilia semanal na RTP de Marcelo Rebelo de Sousa, o responsável com Guterres pela situação aberrante em que nos encontramos, que afirmou ao vivo e a cores ser «contra a penalização da mulher. Às dez semanas, aos cinco meses, aos oito meses

Como Fernanda Câncio escreve, se a pergunta fosse, portanto, «está de acordo que a mulher que aborta – no limite, até aos 9 meses – deixe de ser criminalizada?», o professor Marcelo responderia SIM, concordo.

O professor Marcelo tem assim a curiosa posição de ser contra a penalização da mulher mas ser igualmente contra parte da pergunta do referendo, isto é, a parte «por opção da mulher». Mais concretamente «é muito claro: eu até sou SIM à despenalização mas sou contra uma lei que vai mais longe que a despenalização, que é permitir uma livre escolha sem justificação nenhuma. Um estado de alma permite à mulher abortar. Porque lhe apeteceu, põe em causa uma vida humana».

Mas deixa de estar em causa uma vida humana se a IVG não for realizada por opção da mulher (não se percebendo muito bem por opção de quem admite o professor o aborto até aos 8 meses, mas certamente alguém sem «estados de alma», o marido quiçá)!

Como analisa magistralmente Fernanda Câncio:

«Simplificando, o professor Marcelo criou um slogan que é o inverso, o espelho do tão odiado ‘na minha barriga mando eu’: ‘na barriga da mulher só não pode mandar ela’.

O professor Marcelo não confia nas mulheres portuguesas. Vidas humanas nas mãos – nas decisões – delas, nem pensar. É por isso que o professor Marcelo vota NÃO. É um ‘NÃO, não confio nas mulheres‘.»

Em minha opinião é este tipo de misoginia que está subjacente a muitos votos NÃO. Uma misoginia que menoriza as mulheres, seres dados a «estados de alma» que abortariam por dá cá aquela palha, pelo que a decisão por uma IVG não pode alguma vez ser deixada a estes seres fúteis e ocos!

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21 de Janeiro, 2007 Carlos Esperança

Deus, lei e família

Quando um militar, de baixa patente, habituado à disciplina e condicionado pela obediência, afronta um tribunal;

Quando um «pai» põe em risco a profissão e a subsistência, por amor à filha que não fez;

Quando um homem, por amor a uma criança, arrosta com seis anos de prisão e arrasta na aventura a sua mulher;

Esse homem está cego. Ou a lei. Ou a sua aplicação. Algo é um absurdo que viola a sensibilidade e desafia a inteligência.

Quando um indivíduo descobre acidentalmente que o teste de DNA, que não pediu, lhe adjudica o espermatozóide que deu origem a uma criança que desconhece e a reclama com o amor que nasce de uma análise laboratorial que lhe é comunicada,

Manda a prudência que, antes, se averigúem os sentimentos de uma criança de cinco anos (por quem saiba fazê-lo).

Parecem postergados os interesses e a vontade própria de uma menina que aguarda um drama que ainda não sonha e um destino que pode terminar em tragédia.

É grave que ao juízo dos tribunais se sobreponha o julgamento da rua, mas é igualmente grave que os tribunais percam a sensibilidade, sentimento que, salvo o devido respeito, parece ter estado ausente da, aliás, douta sentença.

E a Igreja católica, tão vigorosa na defesa dos embriões, não tem um padre com opinião neste caso. Os bispos andam a organizar comícios dos movimentos pró prisão e o Opus Dei a recolher fundos para a publicidade.

Quem pagará a novela da SIC para fazer propaganda subliminar para que julgamentos como os da Maia, Aveiro, Setúbal e Lisboa se repitam e se persigam mulheres pobres e desesperadas?!

21 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

Sim no referendo!

Um post indispensável, abordando um tema caro aos pró-penalização – que, a crer nos cartazes, se preocupam mais com dinheiro que com valores -, num blog que deve ser igualmente leitura indispensável: SIM no referendo.

Um ponto de encontro de individualidades da blogoesfera abrangendo todo o espectro político nacional, que têm em comum querer pôr Portugal no mapa das nações civilizadas, democráticas e regidas pela declaração universal dos direitos do Homem (capitalizado).

Porque o que está em causa no referendo de 11 de Fevereito próximo é uma questão de civilização: reconhecer às portuguesas, finalmente, algo que está consagrado há quasi 60 anos, a igualdade de género e a liberdade de consciência!

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