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Cruzada católica contra a liberdade de consciência

Imagens tiradas daqui.

Não obstante todas as prelecções do cardeal-patriarca de Lisboa de que na questão do referendo à despenalização da IVG a Igreja não está «em disputa com o resto da sociedade», todas as manifestações eclesiásticas indicam que esta disputa assume, como indica este folheto, os contornos de uma cruzada!

Para além de uma argumentação completamente imbecil, primária e irracional – uma vez que não têm um único argumento objectivo para se oporem ao alargamento das condições previstas na lei actual em que o aborto é permitido – a Igreja recorre a uma campanha terrorista de desinformação e a chantagem emocional, manobras inaceitáveis num estado de Direito, democrático e laico, para coagir os mais incautos ao voto pró-penalização!

Num estado de Direito democrático e laico não se criminalizam os pecados de uma qualquer religião, mesmo a que seja maioritária nesse país! A reparação do «Coração Imaculado de Maria» não é um argumento racional muito menos um argumento admissível num país civilizado!

Pode-se ler nesta carta:

«Como vos falei na circular de Outubro este é um problema que ameaça a paz no nosso país. O aborto é um pecado grave e é preciso reparar o Coração Imaculado de Maria».

Uma ameaça para a paz social são estas manobras divisionistas da ICAR, que disfarça o facto de estar em cruzada contra a liberdade de consciência das mulheres com comunicados inconsequentes de José Policarpo que alerta os párocos não poder ser a missa «lugar de campanha» – algo que nem o próprio Policarpo cumpre, já que foi o tema escolhido para as suas últimas homilias – uns dias antes de vários bispos se terem empenhado nas respectivas homilias na campanha pelo NÃO, por exemplo, o bispo de Angra, o bispo de Leiria ou o bispo da Guarda.

Acho revelador que o ataque desenfreado aos valores civilizacionais que devem reger um estado moderno por parte deste último dignitário da ICAR passe por um argumento económico, apelando ao egoísmo dos devotos, esgrimindo não deverem querer os «desinteressados» católicos que os dinheiros públicos sejam utilizados no combate deste problema de saúde pública!

Eu voto SIM por uma questão de valores e os meus valores não são negociáveis nem têm preço! Aparentemente o mesmo não se passa com muitos católicos, pelo menos assim o entende Manuel da Rocha Felício, bispo da Guarda!

Uma passagem por uma urgência de ginecologia, onde são remediados diariamente os muitos problemas resultantes de abortos de vão de escada ou de auto-aborto com Citotec, barato e fácil de adquirir no mercado clandestino, revelaria a profunda hipocrisia destes dignos representantes da Igreja de Roma que tanto se preocupam com o dinheiro que custará ao SNS a despenalização prevista no referendo mas ignoram os custos muito mais elevados, mesmo em termos económicos, do aborto clandestino!

Se «o aborto é uma questão de consciência», como afirmam estes dignitários católicos, algo que pertence ao «campo da liberdade pessoal e da consciência» acrescenta Policarpo, porque razão a Igreja se acha com legitimidade para negar à mulher quer a liberdade pessoal quer o direito à liberdade de consciência?

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