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O Mapa e o Território

«Um mapa é um bom exemplo de um modelo que não se confunde com a realidade. Sabemos que a estrada verdadeira não é um traço encarnado. Um círculo preto representa uma vila, não é a vila que simboliza o círculo preto. Acima de tudo percebemos que o mapa que serve para representar as coisas e não é a paisagem que serve para pôr no mapa.

Noutros casos há mais confusão. Na astrologia, por exemplo, Júpiter simboliza o pai e é o «significador» dos filhos, da educação, da fama. Mas Júpiter é Júpiter. O que simboliza e significa são símbolos, como as palavras com que criamos o modelo. Os astrólogos baralham-se; olham para a paisagem e julgam que simboliza o mapa, quando é o contrário. Os criacionistas também gostam deste tipo de confusão. A metáfora do ADN como linguagem, com letras e palavras, confunde a molécula com os símbolos que usamos para a representar. Mas é o modelo que representa a realidade, e não a realidade que simboliza o modelo.

Mesmo na tradição Cristã menos fundamentalista há uma confusão semelhante. No início era o Verbo, ou seja, o modelo, e a realidade foi criada a partir deste. Colocar o modelo antes da realidade cria dificuldades desnecessárias. Primeiro, exige duas realidades diferentes: uma realidade que observamos, a criação, e outra que não podemos compreender nem observar, o criador. Mas postular algo que nem se observa nem se compreende é pura perda de tempo.

Dá também a ideia que o universo é governado por leis, quando as leis da natureza são descrições e não regras a cumprir. Na verdade, muitas descrevem a ausência de regras. A energia é conservada no tempo porque nenhuma regra especifica um momento especial para contar o tempo (simetria de translação no tempo). A entropia aumenta porque nenhuma regra distingue estados que tenham a mesma energia (são igualmente prováveis). A mecânica quântica descreve muitos fenómenos que não têm uma causa, que simplesmente acontecem com uma certa probabilidade.

Esta confusão do modelo com a realidade leva também a ver o universo como instrumental, como parte de um plano e para um propósito, tal como um cenário ou um mapa. Mas não há razão para crer isso. Os modelos e os mapas servem para compreendermos e representarmos coisas. Os modelos são concebidos com (mais ou menos) inteligência, e para um propósito. Mas o mapa não é o território, e não se pode inferir propósito e concepção inteligente naquilo que modelamos apenas por ser o modelo assim concebido.»

——————————–[Ludwig Krippahl]

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