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Mês: Dezembro 2006

17 de Dezembro, 2006 ricardo s carvalho

emoções: divinas ou humanas?

tenho observado, em muitas das discussões nas caixas de comentários, que muitos dos defensores da religião usam como argumento a “divindade” das emoções (sejam elas quais forem, mas sendo um exemplo típico o “amor”). para todos esses, gostaria de chamar a atenção para o mais recente livro de marvin minsky, entitulado “The Emotion Machine: Commonsense Thinking, Artificial Intelligence, and the Future of the Human Mind”.

marvin minsky é um cientista cognitivo norte-americano, no campo da inteligência artificial, co-fundador do laboratório de inteligência artificial do MIT. marvin é professor no MIT desde 1958, recebeu o Turing Award em 1969, o Japan Prize em 1990, o IJCAI Award for Research Excellence em 1991, e a Benjamin Franklin Medal do Instituto Franklin em 2001.

no site da amazon, podemos encontrar a seguinte nota, referente ao seu último livro:


«[…] Vinte anos depois de “The Society of Mind”, onde introduziu o conceito que “as mentes são aquilo que os cérebros fazem”, Minsky mergulha mais fundo na questão da inteligência artificial. […] De facto, por forma a compreender realmente a mente humana, Minsky sugere que provavelmente teremos que construir um máquina capaz de replicar precisamente as funções que que queremos estudar. Assim, ele rejeita a ideia de consciência como um “Eu” unitário, em favor de uma “nuvem descentralizada” de mais de 20 processos mentais distintos. Nesta prespectiva, estados emocionais como o amor ou a vergonha não são o oposto de pensamento racional; ambos são formas de pensar, diz-nos Minsky. […] »

17 de Dezembro, 2006 ricardo s carvalho

porque é que deus não cura os amputados?

um site interessante, que pode ser encontrado aqui, coloca-nos a seguinte pergunta: “porque é que deus não cura os amputados?”. da introdução desse site, retiro o seguinte texto:


«[…] Se deus é real e se deus inspirou a bíblia, então deveríamos adorar deus e a bíblia, tal como lá nos é pedido. […] Deveríamos focar a nossa sociedade em deus e na sua palavra infalível, pois as nossas almas eternas dependeriam desse equilíbrio.

Por outro lado, se deus é imaginário, então a religião é uma ilusão completa […] sem sentido. Neste caso, deveríamos eliminar deus da nossa sociedade pois deus não tem qualquer sentido. Acreditar em deus não seria mais do que uma superstição tonta […]

Mas como podemos decidir, de forma conclusiva, se deus é real ou imaginário?

[…] deveríamos dedicar algum tempo a analisar alguns dados. É isso que fazemos quando nos perguntamos, “Porque é que deus não cura os amputados? […] »

encontra-se de seguida uma exploração muito interessante desta questão, baseada na pergunta que nos é colocada à partida. mas para além disso, este site pergunta-nos ainda:


«[…] Isto coloca a questão: O que aconteceria se seres humanos inteligentes e racionais se começassem a unir por forma a curar esta ilusão e assim transformar o nosso mundo num mundo melhor? […]

Mas como? Como podemos iniciar um processo de melhoramento da nossa sociedade, por forma a que esta se torne mais racional e menos religiosa? Como podemos fazer essa transição de uma forma que seja positiva e não destrutiva? Como podemos mudar algo que tem sido o status quo durante milhares de anos? […]

Chegou uma altura em que um grupo de pessoas na minoria disse, “isto é errado, e temos que fazer alguma coisa para o corrigir”. Estas pessoas começaram a falar abertamente do problema. Depois, outras pessoas na minoria começaram a juntar-se e a minoria cresceu. Depois, a minoria começou a influenciar algumas das pontas exteriores da maioria. E uma vez que esse processo se iniciou e ganhou momento suficiente, as pessoas cairam nos seus sentidos. […] »

para todos aqueles que lutam por um mundo melhor!

17 de Dezembro, 2006 ricardo s carvalho

quem quer ser milionário?

david sklansky é jogador de póquer profissional, e é considerado uma das maiores autoridades mundiais em jogo (com destaque para o póquer). recentemente, david decidiu fazer uma aposta, no valor de 50 mil dólares, que pode ser de interesse a alguma parte dos nossos leitores(as) (infelizmente, a aposta restringe-se a pessoas de cidadania norte-americana). david aposta 50 mil dólares com qualquer americano(a), que passe num detector de mentiras em como acredita que (a) jesus voltou dos mortos, e (b) adultos que não acreditem em (a) quando morrerem não irão para o “céu” (ambas as afirmações com confiança de 95%), david aposta que consegue sair-se melhor num teste de QI do que o(a) apostador(a). todos os detalhes da aposta podem ser encontrados aqui. para aqueles dos nossos leitores(as) que acham que se qualificam fica a pergunta: quem quer ser milionário? ou será que ninguém se sente à altura do desafio?

17 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Aborto: uma questão de Direito – II

Quer a reflexão ética contemporânea, que recusa uma base exterior, isto é, transcendental ou sobrenatural, para a moralidade, quer a reflexão científica, que demonstrou a base biológica da moral, não permearam a nossa sociedade do século XXI. Pelo contrário, há cada vez mais exemplos perfeitamente anacrónicos da imiscuição dos obsoletos códigos morais religiosos no direito que rege uma série de países.

E não falo apenas daqueles onde a Sharia é uma realidade – e onde não é reconhecida a dignidade da mulher -, falo igualmente de Portugal, onde muitos pró-prisão – que ululam não o serem já que bramem não querer ver na prisão as «assassinas», apenas as consideram umas pobres coitadas sem capacidades intelectuais e morais que abortariam pelas mais «fúteis» razões se o aborto fosse despenalizado – se arrogam a julgamentos de valor assentes em morais religiosas igualmente obsoletas sobre as motivações de uma mulher que aborta!

Um Portugal que também não reconhece dignidade intrínseca à mulher já que regista a maior taxa da Europa de violência contra as mulheres, onde se estima que uma em cada três mulheres seja vítima de violência por parte do companheiro! Ou seja, onde um em cada três homens considera legítimo punir fisicamente a mulher cujo comportamento não se coadune com o modelo mariano que ainda impera! Onde a pena por assassinato é reduzida em 4 anos por ser considerada circunstância atenuante a recusa da vítima em «manter relações sexuais» com um marido abusivo!

Se de facto não existirem razões para considerarmos que o embrião é uma pessoa – e nos próximos posts espero mostrar que não há razões éticas ou científicas para tal, apenas dogmas religiosos – a criminalização do aborto é apenas mais uma forma de violência contra a mulher. Que é obrigada por uma sociedade que não lhe reconhece dignidade intrínseca – mas concede essa dignidade a um embrião sem consciência de si nem do meio ambiente – a abortar em condições desumanas e humilhantes, com reais perigos para a sua saúde física e psicológica. Que a relega para um sub-mundo de abortos de vão de escada onde é evidente a exclusão da mulher de uma sociedade que lhe impõe deveres mas não lhe reconhece direitos, uma sociedade com leis feitas por homens contemplando apenas os direitos dos homens!

Uma sociedade mais justa e livre é necessariamente uma sociedade em que não existam quaisquer formas de violência de género! Não quero viver numa sociedade que produz jovens como aquele que motivou a Campanha do Laço Branco, apenas mais uma contra a violência sobre a mulher, e aquela que, como docente na maior escola de engenharia do país em que uma fatia crescente do corpo discente são mulheres, me toca mais fundo.

A campanha foi instituída em 1991 em resposta ao crime ocorrido em Montreal, Canadá, no dia 6 de Dezembro de 1989. Nessa data, um jovem de 25 anos invadiu uma sala de aula de uma faculdade de Engenharia e ordenou aos homens presentes para se retirarem da sala, permanecendo somente as mulheres.

Após gritar «Vocês são todas feministas!», o jovem assassinou 14 mulheres por não suportar a mera possibilidade de as mulheres fazerem engenharia, um curso que ele considerava reservado a homens. Presumo que por não suportar a ideia de viver numa sociedade sem discriminação de género, em que as mulheres podem ser engenheiras e outras profissões «masculinas», suicidou-se em seguida.

Por tudo isto e porque não há qualquer razão de ordem ética ou científica para considerar que um embrião/feto até às dez semanas é uma pessoa, voto SIM no referendo de dia 11 de Fevereiro! Porque o SIM ao referendo é igualmente uma forma de progredirmos na construção da sociedade que gostaria fosse a minha!

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(continua)
17 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Aborto: uma questão de Direito

«Concebida como referência constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais, o conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-constitucional e não a uma qualquer ideia apriorística do homem» Vital Moreira e J. J. Gomes Canotilho, Constituição da República Portuguesa Anotada, 1° volume, Almedina, Coimbra.

No próximo referendo de dia 11 de Fevereiro os portugueses são chamados a decidir nas urnas se deve ou não ser descriminalizada a interrupção voluntária da gravidez, vulgo aborto, até às 10 semanas de gravidez.

E é tão só esta a questão a que temos de responder! Sem folclores falaciosos a contaminar a discussão, devemos reflectir se a interrupção da gravidez até às dez semanas, praticada sobre um embrião -até às oito semanas de gestação – ou um feto, deve ser ou não considerada um crime!

Uma vez que o direito penal deve ser totalmente independente de considerações morais ou religiosas e que crimes sem vítimas – assentes em morais religiosas que criminalizam ou proibem pecados como a homossexualidade, o aborto, o divórcio, o adultério, a fornicação, etc. – não devem ser penalizados, a reflexão que deveria ser feita incide sobre o que é o ser vivo – e ninguém duvida que se trata de um ser vivo – que será abortado.

Isto é, dever-se-ia fazer uma reflexão ontológica sobre o embrião ou feto, decidir se é já uma pessoa, como o consideram os pró-prisão – que se referem falaciosamente ao abortamento de um bébé -, ou apenas uma forma de vida humana que ainda não é uma pessoa. Se esta forma de vida sobre a qual se exerce o aborto ainda não é uma pessoa não faz sentido criminalizar o aborto e devemos deixar ser a mulher a optar por continuar ou não uma gravidez indesejada! Deveremos deixar à mulher a escolha difícil de consciência sobre o abortamento de um ser vivo que não é uma pessoa mas é uma forma de vida humana, numa sociedade que referendaremos igualmente ser uma que reconhece a mulher como um «ser autodeterminado e capaz de escolhas responsáveis e morais»!

Mas esta opção só pode ser tomada se considerarmos que o embrião ainda não é uma pessoa! Ninguém, excepto os pró-prisão mais fanáticos que ululam ser o embrião um «bébé» mas aceitam o «assassínio» de um «bébé» se decidido por pessoas «competentes» e capazes de escolhas «morais»- categoria de onde excluem as «fúteis» mulheres-, preconiza a pena de morte!

Se chegarmos à conclusão que um embrião é uma pessoa então, quaisquer que sejam as implicações dessa conclusão, problemas de saúde pública ou outros, o aborto deve ser considerado um assassínio e proibido em quaisquer circunstâncias excepto como legítima defesa, isto é, excepto para salvar a vida da mulher!

Mas em que critérios nos devemos basear para classificar esta forma de vida humana? Em critérios religiosos ou em critérios assentes na ciência e na razão? Em que ética devemos assentar a decisão, numa ética secular racional ou numa ética religiosa dogmática?

Relembro que desde o Iluminismo os filósofos defendem dever a ética (e mesmo a moral) ser fundamentada não em valores religiosos mas sim na compreensão da natureza humana. Foi o falhanço do projecto renascentista que forneceu o pano de fundo no qual a nossa cultura se torna inteligível: uma cultura onde o debate ético é visto como indissociável da religião e esta continua transposta para o Direito, mesmo em Estados supostamente laicos.

Uma ética secular racional será muito mais forte que uma moral dogmática religiosa, até porque os tempos conturbados que vivemos corroboram Feuerbach: «quando a moral se baseia na teologia, quando o direito depende da autoridade divina, as coisas mais imorais e injustas podem ser justificadas e impostas».

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(continua)
16 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

É dura a vida dos tartufos.

O proselitismo é uma doença senil do cristianismo e a doença infantil do islamismo. Ambas as religiões procuram açambarcar o mercado da fé, pelo medo, corrupção ou intriga, conquistando o maior número de clientes.

O ódio que consome os dementes da Deus imagina fogueiras para esturricar hereges, instrumentos de tortura para supliciar ateus e barbaridades ignotas para agradar ao Deus apocalíptico saído do bestiário dos livros sagrados.

Nenhum crente se interroga sobre o menino Deus que nasceu no Natal e ressuscitou três dias depois, na Páscoa. Apenas cumprem os desvarios com que os padres lhes formatam a cabeça para poupar serradura.

Quando os clérigos são broncos e acreditam, eles próprios, em Deus, à custa de quem vivem, mandam os crentes mais boçais travestir-se de ateus e viajar aos blogues dos ateus para espalharem a cizânia e a intriga, esperando que os ateus desistam de revelar vinte séculos de pantomina.

Uns, dizem-se ateus mas não gostam do Diário Ateísta; apreciam alguns colaboradores mas detestam outros; não acreditam em Deus mas escrevem ensopados em água benta, com um cilício na coxa e um crucifixo entre os lábios. Outros, dizem que é uma pena não haver um blogue ateísta com outro nível intelectual e uma linguagem mais pia.

Conhecemos os tartufos, sabemos do que são capazes para terem uma assoalhada no Céu e o conforto de um padre na Terra. São escravos do medo, carregando o peso da alma que é preciso salvar, nem que seja através da mentira, dissimulação e insultos.

Bem-aventurados os pobres de espírito. É dura a vida dos tartufos.

16 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

8 de Dezembro – VI

Ao longo desta série de posts* fica claro que todo o reinado de Pio IX é pautado pelo combate à perda de poder político da Igreja – que confirma a citação de Antero de Quental, isto é, consistiu em «fortificar a ortodoxia, concentrando todas as forças, disciplinando e centralizando; empedernir a Igreja, para a tornar inabalável» – ou seja, para tentar recuperar a hegemonia perdida Pio IX acentuou fortemente as prerrogativas papais na área religiosa, debitando dogmas e proclamações sem qualquer discussão prévia dentro da Igreja. Assim, o dogma que criou o feriado que inspirou esta série foi o primeiro definido e proclamado – na bula Ineffabilis – apenas pelo Papa, sem o apoio de um concílio.

Mas o que marca o pontificado deste Papa absolutista que se arrogou a declarar-se infalível – não por coincidência, no mesmo ano em que a Itália anexou os estados pontifícios – são a encíclica Quanta cura (1864) e seu famoso apêndice, o Sílabo de Erros, ou mais concretamente o Syllabus complectens praecipuos nostrae aetatis errores (Sílabo que abarca os principais erros do nosso tempo) que, para além da defesa da intolerância religiosa, condenam explicita e veementemente a democracia, a laicidade, a pretensão dos governos em legislar sem os auspícios do papa, o feminismo que dava os primeiros tímidos passos, o progresso e a civilização moderna. Enfim, tudo que fosse ou parecesse moderno merecia o anátema da Igreja de Roma, que bramia estar sob ataque de forças demoníacas empenhadas em desacreditar ou destruir os dogmas da fé!

Mas as manobras de Pio IX para segurar as rédeas do poder secular, nomeadamente a centralização no Papa de todo o poder, foram contraproducentes para as ambições papais já que os governos europeus viram claramente os propósitos de Roma e uma onda de saudável anti-clericalismo varreu a Europa como resposta. Como o confirma a carta circular em que o chanceler Bismarck alerta em 1872 os governos europeus para o facto de, após o concílio Vaticano I, os bispos se terem tornado meros instrumentos do Papa. Num discurso no Reichstag em 1872, Bismarck afirma mesmo que:

«Não acredito que, depois dos dogmas recentemente expressos e publicamente promulgados pela Igreja Católica, seja possível a um poder secular chegar a uma concordata, sem que esse poder seja, em certa medida ou de alguma maneira, humilhado.»

Otto von Bismarck unificou a Alemanha sob o controle prussiano e após a incorporação dos estados católicos do sul e parte do que é hoje a Polónia, não via com bons olhos que os católicos, representados pelo Partido do Centro Católico – o tal que uns anos depois deu de bandeja a chancelaria a Hitler -, colocassem a autoridade papal acima da autoridade do estado alemão. Assim, tentou restringir e conter o poder político de Roma com a Kulturkampf (a luta cultural devidamente condenada por Pio IX na encíclica de 1875 Quod Nunquam), especialmente com o Kanzelparagraph – que ameaçava com até dois anos de prisão os clérigos que fizessem declarações políticas dos púlpitos – e, por exemplo, a introdução do casamento civil.

Para além da Alemanha, o despotismo papal que se traduzia na recusa de Pio IX em reconhecer a legitimidade do poder temporal de qualquer governo que não aceitasse ser regido pelos ditames do Vaticano, nomeadamente a recusa de Pio IX em aceitar o novo estado monárquico constitucional italiano e a excomunhão de todos os católicos que participassem em qualquer processo democrático, tiveram como consequência o oposto do pretendido pelo Papa. De facto, o poder católico na sociedade civil foi diminuindo um pouco por toda a Europa, nomeadamente com a secularização do ensino e a instituição do casamento civil, mesmo em países como a Áustria, um país tradicionalmente católico.

Secularização do ensino que sempre foi um espinho cravado na Igreja de Roma que considerava ser um «direito inalienável da Igreja» a lavagem cerebral desde tenra idade, como é reiterado na encíclica de Pio XI, Divini Illius Magistri. Recordo que as únicas divergências de Pio XI e Pio XII com Hitler e Mussolini tinham exactamente a ver com a educação dos jovens, que ambos carpiam ser direito da Igreja e não dos estados nazi e fascista, respectivamente.

O reconhecimento de que a linha de acção de Pio IX era contraproducente para as ambições de poder de Roma ditou a aparente reconciliação com a modernidade do papa seguinte, Leão XIII (1878-1903), que embora declarando na bula Immortale Dei ser a democracia incompatível com o catolicismo – isto é, com a autoridade da igreja – tentou uma reaproximação menos despótica com diversos governos europeus. O desentendimento com o estado italiano, no entanto, perdurou até ao Tratado de Latrão, assinado no antigo palácio papal em 1929 entre o Papado e o regime fascista de Benito Mussolini (mediante o qual foi criado o Estado do Vaticano e a Igreja recebeu uma astronómica quantidade de dinheiro em troca do apoio à ditadura fascista).

De qualquer forma, e como ligação para os posts seguintes, importa reter que toda a actuação de Pio IX se insere numa luta política de manutenção de poder e sequer remotamente tem a ver com questões de fé. Isto é, os dogmas que introduziu e as declarações que produziu, muitas delas em total discordância com a tradição católica, tentavam simplesmente assegurar o poder temporal de Roma.

Assim, a proclamação por Pio No No, em total discordância com a própria doutrina da Igreja, de que o aborto é um pecado imperdoável, merecedor de excomunhão automática, qualquer que seja o momento em que seja feito, tem de ser contextualizada na sua guerra desesperada contra o modernismo e a ciência e não traduz qualquer reflexão teológica sobre o tema. Reflexão teológica desencorajada por Roma a partir de então já que a negação da declaração quasi dogmática e quasi infalível de Pio IX, sem qualquer suporte teológico, filosófico ou ontológico, lançaria suspeitas sobre os restantes dogmas «infalivelmente» declarados !

* 8 de Dezembro
8 de Dezembro – II
8 de Dezembro – III
8 de Dezembro – IV
8 de Dezembro – V

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15 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

As incoerências do ditador Bento 16

B16 é o último teocrata da Europa e um dos últimos chefes de um Estado totalitário, de opereta, situado no coração da Itália.

O travesti com mais luxuoso guarda-roupa e chapéus bizarros, com que aconchega as orelhas, tem da ética uma noção rudimentar e da vontade de Deus certezas inabaláveis.

Não se confirma que o velho inquisidor acredite em Deus, mas é do seu ofício vender a ideia às pessoas timoratas e à legião de empregados que vivem – e bem -, das orações, indulgências, missas e outros pios divertimentos impostos pelo medo ou mantidos pelo hábito.

Quem esperasse do Vaticano – um bairro de sotainas, soturno e pouco recomendável -, um apoio à ciência, o empenhamento na democracia, a defesa dos Direitos do Homem, certamente se desiludiria.

Mas pasma-se que o proclamado representante de Deus, iluminado pelo Espírito Santo – uma pomba que ilumina o pensamento dos Papas e engravida virgens -, seja tão rápido a amaldiçoar um bispo, a quem JP2 já o tinha feito, e demore tanto a fazê-lo a criminosos do delito comum.

Um bispo é excomungado pela segunda vez por defender o casamento dos padres e a ordenação de mulheres, enquanto um padre condenado a 15 anos de prisão, ou uma freira condenada a 30, ambos por genocídio, aguardam a bênção papal.

15 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Obesidade e espantalho SNS

Suplemento da Nature de 14 de Dezembro de 2006: Obesidade e diabetes (acesso livre)

Na falta de argumentos para explicarem bem explicadinho porque razão os pró-prisão subscrevem a pena de morte – já que ululam ser um assassínio o aborto por opção da mulher mas aceitam sem problemas o aborto por opção médica -, o recurso ao espantalho SNS é a falácia de eleição dos que já começaram a invadir o ciber-espaço com lamentos de que nas condições actuais do país este «não se pode dar ao luxo de pagar os prazeres despreocupados e bem passados das meninas, que por descuido não tomaram as devidas precauções» justificando assim que «VOTO NÃO,NÃO E NÃO!!!!!!!!».

Claro que é impossível assentar em argumentos éticos ou ontológicos a posição insustentável de se ser a favor, no país pioneiro da abolição da pena de morte, do «assassínio» de uma pessoa por opção médica e seria mais que expectável ser a campanha dos pró-prisão assente exclusivamente em falácias, mas esta é tão imbecil que eu esperaria, quiçá optimisticamente face aos dados vindos a lume recentemente, que o NÃO recorresse a falácias mais subtis!

De facto, se alguém considera justificação para manter a criminalização do aborto não querer pagar dos seus impostos «os prazeres despreocupados e bem passados das meninas» porque razão não se há-de criminalizar outros prazeres, que não sexuais, igualmente despreocupados e bem passados e sem serem acauteladas as devidas precauções, que acarretam custos muito superiores, pelo menos uma ordem de grandeza quiçá duas a breve trecho, para o SNS?

Nomeadamente refiro-me aos prazeres da mesa que resultam na obesidade e implicam uma panóplia de doenças crónicas, como a que é abordada especialmente neste suplemento da Nature, a diabetes tipo II, mas igualmente outras disfunções metabólicas incluindo doenças cardiovasculares, a maior causa de morte em Portugal.

Porque razão deve uma fatia larga dos nossos impostos pagar as consequências da sandes de courato de alguém que, inundado de informação sobre as causas da obesidade bem como sobre as formas de a evitar, persiste neste comportamento irresponsável sem tomar as devidas precauções, nomeadamente exercício regular?

Com base no que parece ser o sustentáculo único da argumentação pró-prisão, que o comportamento «irresponsável» que acarrete problemas de saúde pública deve ser criminalizado, será que consideram igualmente criminalizar a obesidade? Considerarão igualmente criminosos os fumadores? Ou os que não fazem exercício regular?

15 de Dezembro, 2006 lrodrigues

Is that a newspaper in your lap, or are you just happy to see me?

Parece que a moda pegou!

Primeiro foi o pastor Ted Haggard.
Conhecido pela sua homofobia e pela veemência com que se manifestava em tudo o que se relacionasse com os homossexuais e os seus direitos, Ted Haggard acabou por se demitir da presidência da «Associação Nacional Evangélica» e por reconhecer que mantinha há vários anos um relacionamento homossexual.
Depois foi a vez do Reverendo Paul Barnes.
Igualmente célebre pelas suas arengas homofóbicas e pelo apoio às recentes campanhas contra os casamentos homossexuais naquele estado norte-americano, Paul Barnes, pastor principal de uma igreja evangélica do Colorado, acabou se demitir depois de confessar ser homossexual e de sentir sexualmente atraído pelo mesmo sexo desde os cinco anos de idade.
Como se não bastasse, a «moda» chegou à Suécia.
Uma vez que a Suécia é normalmente tolerante no que respeita à orientação sexual dos seus cidadãos, que é normalmente encarada com toda a naturalidade, não são vulgares os escândalos relacionados com a homossexualidade ou com figuras mais ou menos públicas que subitamente resolvem «sair do armário».
Mas quando é um alto quadro do Partido Democrata Cristão, apesar de a sua identidade não ter sido revelada, que está envolvido num «escândalo homossexual», até na Suécia isso é notícia.
Principalmente porque se trata de um partido ultra-conservador que pugna ferozmente pelos «valores tradicionais da família» e que não simpatiza mesmo nada com a tolerância sueca pelos direitos dos homossexuais.
Pois o bom do democrata cristão foi primeiramente visto num carro com outro homem a, digamos assim, manipular-lhe o pénis.
(De facto, há eufemismos fabulosos!)
A coisa podia bem ter ficado por aqui, não fosse o manipulado não estar ainda satisfeito com o desempenho do manipulador.
Vai daí o nosso democrata cristão resolveu estacionar o carro noutro local mais recatado onde acabou por ser apanhado, enfim… com a boca na botija.
(Eu não digo que há eufemismos fabulosos?)
Chamada a polícia, o ilustre democrata cristão negou veementemente que estivesse envolvido em qualquer actividade sexual, embora pudesse perfeitamente parecer isso pois, explicou, não estava mais do que inclinado para ler o jornal que o seu companheiro tinha pousado no colo…
Como dizem os nossos amigos do «Renas e Veados»:

A homofobia é tão gay!…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)