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Mês: Dezembro 2006

25 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

Policarpo faz campanha política na noite de «consoada»

José Policarpo aproveitou o espaço que as televisões (incluindo a pública, para vergonha de todos) lhe dão no dia 24 de Dezembro, para fazer campanha pela criminalização do aborto e pela investigação, julgamento e detenção das mulheres que abortam. Na mesma mensagem, o cardeal patriarca de Lisboa da ICAR aconselhou os sindicatos a afastarem-se de «ideologias», e defendeu a «criatividade» no «direito internacional» no que diz respeito à «globalização e deslocação de empresas».

O privilégio de Policarpo poder falar de política nas TV´s no dia 24 de dezembro resulta de representar o maior grupo de portugueses que se supõe acreditarem na mitologia cristã, segundo a qual teria existido um homem há dois mil anos com poderes sobrenaturais.

25 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

Rui Rio não «proibiu» o natal?

À atenção de António Marujo, jornalista do Público: o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio de seu nome, não concedeu tolerância de ponto aos trabalhadores da câmara no dia 26 de dezembro. Por menos do que isto, há quem já tenha sido acusado de «proibir» o natal. Porque será que ninguém junta este caso à «guerra» que o criativo jornalista do Público inventou nos últimos dias? Afinal, o verbo «proibir» não passou a ter o sentido que se quiser?
24 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Glória a Frei Galvão – parteiro e santo brasileiro

Frei Galvão ultrapassou o padre Cícero na corrida para a santidade. O Padre Cícero Romão Batista tinha a mais elevada cotação na Bolsa da Fé mas viu as acções de Frei Galvão subirem com o anúncio da compra de dois milagres pelo Vaticano.

O Brasil, apesar da devoção que os portugueses levaram, juntamente com a varíola e sífilis, nunca tinha produzido um santo. Há terrenos mais férteis, destacando-se a Itália com toneladas de ossos de taumaturgos, relíquias fétidas a necessitar de incineração, para defesa da saúde pública, e santos detritos com cheiro a incenso e mofo.

A Pátria de Jorge Amado foi finalmente distinguida com um santo que interferiu num parto depois de ter morrido em 1822. Os obstetras estão obsoletos, basta um cadáver de que a parturiente seja devota para resolver os problemas de uma bacia estreita, um útero mal formado ou uma distocia.

É verdade que Frei Galvão já podia há muito ter-se estreado no ramo milagreiro, na área da obstetrícia, mas foi o impulso de João Paulo II para a produção de milagres em série, com certificados de garantia e atestados médicos, que fez nascer a onda de milagres que percorre o mundo católico.

Nesta noite, em que se comemora o mito cristão do nascimento de Cristo, o Brasil que se ajoelha e papa missas, o País que debita a Bíblia e reza novenas, os pobres que se atiram à hóstia para sentirem algo no estômago, devem agradecer a Bento 16 por ter reconhecido o segundo milagre de Frei Galvão e rubricado o primeiro alvará de santo.

Bendito seja o Brasil e o seu santo Galvão, já biografado pelo Daniel Sottomaior.

24 de Dezembro, 2006 jvasco

Votos de…

A Igreja Católica está muito preocupada com o que está a acontecer ao Natal. Desta vez, vou dou-lhes razão. Não se admite que uma tradição tão antiga seja perdida, ou que se descure o seu significado religioso. É certo que vivemos num país laico, e que não era esta a religião original dos povos Ibéricos do neolítico, nem dos Celtas que os substituíram, nem dos Romanos que vieram depois. Mas é esta religião que está na base, na raiz mais antiga, da nossa cultura Europeia. E esta cultura é de todos, não só dos crentes.

Dizem que foi milagre o que aconteceu naquela noite de inverno, e devemos respeitar esta tradição cultural e religiosa. Celebremos por isso o deus que fez o óleo de um dia arder durante oito. Que este milagre da poupança vos sirva de exemplo nesta quadra, e um feliz Hanukkah para todos.

——————————–[Ludwig Krippahl]

24 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Rapsódia em religião menor


Morrer por um mito
Alison Mallinder, Testemunha do Jeová, morreu devido à sua recusa em receber uma transfusão de sangue ou quaisquer produtos derivados numa cirugia no Royal Hallamshire Hospital em Inglaterra. Allison só informou os médicos das restrições impostas pela seita a que pertence na véspera da histeroctomia a que se submeteu e, não obstante os avisos médicos, decidiu prosseguir a intervenção.

Jesus Cristo, rei da Polónia
Quarenta e seis deputados polacos, 10% da câmara baixa do parlamento deste país, submeteram uma proposta de lei que fará de um mito, a que chamam Jesus Cristo, o rei deste país. A proposta, apoiada pelo partido de extrema-direita LPR (Liga das Famílias Polacas), pelo conservador PiS (Lei e Justiça) e pelo PSL (Partido dos Camponeses) será apreciada em Janeiro. O deputado do PiS Artur Gorski disse que ele os colegas «rezam na capela do Parlamento pela coroação de Jesus» que se o for fará companhia à rainha do Polónia, a semper virgo Maria, assim proclamada há 350 anos pelo rei João Casimiro.

Conto do vigário em alta nas igrejas americanas
Em 1989 a North American Securities Administrators Association, a associação mais antiga de protecção ao investidor, descobriu que 15 000 pessoas foram ludibriadas em 450 milhões de dólares via esquemas centrados em igrejas. Os números explodiram nos últimos anos. Entre 1998 e 2001 a mesma associação descobriu serem 80 000 as vítimas de contos do vigário (literalmente) e que os montantes envolvidos atingiam quase dois biliões (americanos) de dólares.

Deborah Bortner, ex-presidente do grupo, afirma num press release que «Já vi mais dinheiro roubado em nome de Deus que de qualquer outra forma».

Guerra ao Natal: uma invenção muito lucrativa
Como há muito afirmo, a invenção e encenação de perseguições aos cristãos, para além de manter a clientela, é indispensável para assegurar às organizações cristãs um fluxo confortável de doações monetárias. Assim, a inexistente Guerra ao Natal inventada pelos fundamentalistas cristãos norte-americanos tem sido muito rentável em termos financeiros este ano. De facto, os «kits» natalícios, auto-colantes, pins e demais parafernália para combater uma ficção, vendidos a um preço muitas ordens de grandeza superior ao seu valor real, venderam-se como amendoins.

Como diz o reverendo Barry Lynn, director executivo da Americans United for the Separation of Church and State. «(A guerra ao Natal) é apenas um esquema fraudulento de angariar fundos».

24 de Dezembro, 2006 dsottomaior

Frei Galvão

Gentes católicas da Terra de Santa Cruz, regozijai: já temos o nosso próprio santo.

Foi divulgado hoje que já pode ser marcada a cerimônia de canonização de frei Galvão, o primeiro santo natural da Terra de Vera Cruz. O motivo é o o “milagre duplo” de uma gravidez de alto risco levada a termo e a cura de uma doença grave do recém-nascido. Segundo essa mãe, “o Brasil inteiro precisava disso. Somos um País muito católico e precisávamos ter um santo nosso”.

Determinar a causa de um evento muitas vezes não é tarefa fácil, e uma das tentações que marcam esse caminho é imaginar que se um evento antecede outro, então é causa dele. Post hoc ergo propter hoc (depois disso, portanto por causa disso), ou Post hoc para os íntimos, é o nome que se dá a esse erro comum. Afinal, anteceder os efeitos pode até ser condição necessária para estabelecer uma causa, mas não é suficiente.

No entanto, é exatamente essa falha em que se se baseia um processo de canonização, assim como a crença em milagres operados por santos: “primeiro eu rezei ao santo, depois meu pedido se realizou, portanto foi realizado pelo santo”. Na verdade, essa é uma mistura de Post hoc com a falácia divina, também conhecida por argumento da incredulidade: “não consigo imaginar como isso aconteceu, então foi Deus”.


Como todo passe de mágica deve vir acompanhado de uma falsa demonstração de que não há truque algum, a Igreja só se pronuncia pela veracidade de uma cura miraculosa se o parecer de junta médica não encontrar nenhuma causa natural para ela. Mas são apenas espelhos e fumaça, pois os médicos e a igreja sabem que essa causa sempre existe, e se chama remissão espontânea.

Vejam bem, esse não é um deslize argumentativo lateral ou ocasional. Toda a história de santos milagreiros, canonização após canonização, “milagre” após “milagre”, milênio após milênio, é um sem-fim de variações do mesmo tema. É sempre a mesma falácia, praticada incessantemente pelo bilhão de católicos vivos e todos mais que os antecederam. Não é apenas um erro crasso, mas um erro crasso entronizado como instituição essencial e permanente da Santa Madre Igreja. Errar é humano, mas sacramentar o erro é profundamente religioso. Esse é um dos muitos motivos pelos quais a religião é coisa das mais perniciosas ao intelecto e à vida humana.

No caso do santo brasileiro, a história não pára por aí. Uma das causas dos milagres teriam sido as “pílulas” ingeridas pela mãe, que contêm três minúsculos pedaços de papel com uma mesma inscrição do Ofício da Santíssima Virgem. Que essas pílulas sejam vendidas e gerem recursos para a Igreja é um pensamento vergonhoso e descabido. Elas são gratuitas. Mas é impossível deixar de ver os benefícios secundários que trazem à Igreja, como o aprofundamento da fé e portanto das doações dos fiéis, a um custo virtualmente nulo. E quem poderia culpá-la? A Igreja precisa se sustentar de uma maneira ou de outra, pois os saldos das contas no Vaticano não crescem às custas de intervenção divina, por estranho que pareça.

As pílulas chegaram a ser proibidas em 1998 pelo cardeal arcebispo de Aparecida, D. Aloísio Lorscheider. Lorscheider chegou a afirmar que os “papeizinhos” eram reflexos da superstição, comparou-os a remédios falsos e disse que as 10 irmãs do mosteiro que os produz não podiam
prejudicar seu dia-a-dia de dedicação integral às orações e penitências (vide referência).

Que uma vida inteira dedicada a atividades rigorosamente inócuas para o restante do mundo não possa ser interrompida para outra atividade inócua é uma pérola à parte do pensamento cristão. Mas o fato é que hoje em dia as pílulas continuam, pois na Igreja Católica, o que conta é a vontade popular. Quando convém, é claro. Mas afinal é de se perguntar que curioso efeito elas teriam.

Será que o nosso sistema digestivo reconhece a diferença entre papéis com diferentes inscrições, dada que a composição e a proporção de tinta seja a mesma? Será que, analogamente à “memória” da água” dos preparados homeopáticos, cada disposição de caracteres impressos leva a tinta a diferentes arranjos moleculares, uma vez dentro do sangue? Ou será que o efeito vem da celulose, que não é digerida nem absorvida, mas permanece no intestino? Impossível discernir, minúsculos humanos que somos perante a imensidão do Senhor. E nem a Igreja alimenta esse tipo de busca pelo saber, que realmente não importa e está fadado a levar a pensamentos impróprios. O que importa é crer.

Se minhas hipóteses reducionistas são pequenas demais e a ingestão é meramente simbólica, talvez um gatilho para a ação sobrenatural, então por que criar qualquer tipo de mediação material? Por que não basta o simples pedido a um deus que tudo pode, tudo vê e tudo ouve? Será necessário impor atividades inúteis uma após a outra para estar bem aos olhos do Criador? Estará aí o mérito do fiel? Por que é que as ações de quem deseja uma cura se parecem tanto com os passos necessários para amplificar o efeito placebo? Primeiro o sujeito se compromete com o tratamento, de corpo e alma, depois ingere uma substância na qual ele tem grande crença e por fim uma eventual cura recebe o fantástico bônus de elevar o status do doente, literalmente às alturas.

Mas deixemos essas especulações vãs, pois o conteúdo das inscrições das pílulas acrescenta leva o evento aos limites do surreal: “Depois do parto, permanecestes Virgem. Mãe de Deus, intercedei por nós”. Ah, bom.

Vamos ver se eu entendi isso…

Um certo religioso que viveu no século retrasado alucinava um sujeito de quase dois mil anos antes que, apesar de ter sido preso, torturado e assassinado aos olhos de todos, é tido atualmente como onisciente, onipresente, onipotente e onibenevolente. Para sermos honestos, não temos como saber se o religioso alucinava ou se ele apenas alegava alucinar para com isso ganhar status entre seus pares. Bem, mas esse religioso, de quem se dizia que levitava e podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, criou certas “pílulas” de papel onde se lê que uma mulher manteve seu hímem intacto após conceber e deu à luz àquele mesmo ser onipotente, que foi o mesmo que a fecundou sem sexo ou sêmen. Segundo o religioso, a ingestão das pílulas teria efeitos curativos sobre virtualmente qualquer mal, o que é atestado pelo fato de que, entre as milhares de pessoas que já ingeriram as pílulas, algumas delas sofrem posterior remissão.

Exemplos como esse deveriam deixar claro como a religião é essencialmente incompatível com a ciência e o pensamento crítico. Infelizmente, eles costumam ser encobertos pela novilíngua do cristianismo, que impede os menos inclinados a expor tais eventos pelo que realmente são: afrontas ao intelecto, desprezo para com a verdade, e um enorme, monstruoso desperdício de recursos humanos e econômicos, que poderiam estar postos ao verdadeiro uso da caridade e do amor ao próximo se não fossem essas sandices investidas de imunidade tributária. Simplesmente não há como respeitar a religião.

23 de Dezembro, 2006 lrodrigues

Algumas citações no Solstício de Inverno

«God? He doesn?t exist, the bastard!»
– Bertrand Russell

«Acreditar em Deus é desprezar todos os mistérios do mundo e todos os desafios à nossa inteligência. Simplesmente desliga-se a mente e diz-se: foi Deus que o fez».
– Carl Sagan

«A fé é a grande escapatória, a grande desculpa para se fugir à necessidade de pensar e avaliar as evidências. A fé é acreditar ?apesar de?, e até talvez precisamente ?por causa?, da falta de provas».
– Richard Dawkins

«Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas a fazer coisas boas e más pessoas a fazer coisas más. Mas para termos boas pessoas a fazer coisas más, para isso é preciso uma religião».
– Steven Weinberg

«Eu sou contra a religião porque ela nos ensina a contentarmo-nos com a nossa incompreensão do mundo»
– Richard Dawkins

«Eu não tento imaginar um Deus pessoal; para mim é suficiente contemplar em admiração a estrutura do mundo na medida em que os nossos inadequados sentidos nos permitirem apreciá-lo».
– Albert Einstein

«A ideia de Deus sempre me foi completamente estranha e parece-me até muito ingénua»
– Albert Einstein

«Talvez haja fadas no fundo do jardim. Não há provas disso, mas como também não podemos provar que não as há, deveremos então ser agnósticos no que respeita a fadas?».
– Richard Dawkins

«Se por Deus se entender um conjunto de leis da física que regem o Universo, então esse Deus claramente existe. Mas esse Deus é emocionalmente insatisfatório… não faz muito sentido rezar à lei da gravidade»
– Carl Sagan

«Penso que na discussão dos problemas da natureza deveríamos começar não pelas escrituras, mas antes pelas experiências e demonstrações».
– Galileo Galilei

«Penso que nenhuma forma de religião deveria ser ensinada nas escolas públicas»
– Thomas Edison

«A maior parte das pessoas pensa que é preciso Deus para explicar a existência do mundo e especialmente a existência da vida. Estão erradas, embora a educação que recebem não lhes permita aperceberem-se disso».
– Richard Dawkins

«Eu não acredito na imortalidade do homem; e considero que a ética é um conceito exclusivamente humano e não diz respeito nem depende de qualquer autoridade sobrenatural».
– Albert Einstein

«Se as pessoas são boas porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável».
– Albert Einstein

«Sempre que a moralidade se basear na teologia, sempre que a razão estiver dependente de uma autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser estabelecidas e justificadas»
– Ludwig Feuerbach

«Quando as pessoas não aprendem os instrumentos para julgarem por si próprias e seguem unicamente as suas esperanças, então estão semeadas as sementes para a sua manipulação política»
– Stephen Jay Gould

«Se foi algum espírito que criou o Universo, então foi um espírito muito malévolo».
– Quentin Smith

«Qualquer das grandes religiões da actualidade é, no sentido Darwiniano, uma vencedora da sua luta entre as culturas; de facto, nenhuma delas floresceu por tolerar as suas rivais».
– Edward O. Wilson.

«Podemos citar centenas de referências que demonstram que o Deus bíblico é um tirano sanguinário; mas basta alguém encontrar duas ou três passagens que digam que Deus é amor, para nos acusarem de fazer citações fora do contexto».
– Dan Barker

«Pensar que Deus vai acorrer em auxílio de alguém e vai violar as leis da natureza para o ajudar, é o cúmulo da arrogância»
– Dan Barker

«Acredito que muitas pessoas se afastam daquilo que está estabelecido como religião simplesmente pelas suas implicações morais e intelectuais»
– John Dewey

«É às religiões que se deve esta inédita disparidade entre o homem e a mulher»
– Taslima Nasrin

«Toda a concepção de Deus é derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a menosprezarem-se a si próprias e a dizerem que são miseráveis pecadores e tudo o mais, isso parece-me desprezível e indigno de criaturas humanas que se respeitem».
– Bertrand Russell

«A ideia de Deus é um conceito antropológico que eu não consigo levar a sério»
– Albert Einstein

«Eu não preciso do conceito de Deus para explicar o mundo em que vivo»
– Salman Rushdie

«Vocês acreditam num livro que fala de feiticeiros, bruxas, demónios, paus que se transformam em cobras, animais que falam, comida que cai do céu, pessoas que caminham sobre a água e toda a espécie de histórias mágicas absurdas e primitivas e depois vêm dizer que nós é que precisamos de ajuda?»
– Dan Barker

«O que eu fiz foi demonstrar que é possível determinar pelas leis da ciência o modo como o Universo começou. Neste caso, não é necessário apelar a Deus para explicar como começou o Universo. Se isto não prova que Deus não existe, pelo menos prova que Deus não é preciso para nada»
– Stephen Hawking

«Um assunção generalizada, e que a maior parte das pessoas da nossa sociedade aceitam, é que a fé religiosa é especialmente vulnerável à ofensa e deve ser protegida por uma parede de respeito incrivelmente espessa; um respeito tal, que é até diferente daquele que as pessoas devem umas às outras».
– Richard Dawkins

«Acusam-me repetidamente de blasfémia. Mas o que é facto é que eu não posso ser condenado por um crime contra uma vítima inexistente».
– Dan Barker

«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis»
– Thomas Jefferson

«Deus não passa de uma infame chantagem de medo, de um amesquinhamento ignóbil e indigno de quem tem um mínimo de respeito por si próprio, não é mais do que uma desculpa cobarde de quem não tem a coragem e a dignidade suficientes para olhar a morte de frente e para, antes, aproveitar e desfrutar em liberdade cada um dos momentos que a vida nos proporciona».
– LGR

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

23 de Dezembro, 2006 lrodrigues

Uma sugestão

O site noticioso israelita «Haaretz.com» relata que Miriam Shear, uma judia americana de visita a Israel, foi repetidamente agredida por um grupo de fanáticos judeus ultra-ortodoxos, simplesmente porque, quando viajava num autocarro em Jerusalém, se recusou a dar o seu lugar a um homem e a mudar-se para os bancos traseiros.

Foi no dia 1 de Dezembro de 1955 que Rosa Parks que viajava num autocarro em Montgomery, no estado norte-americano do Alabama, se recusou a levantar-se para dar o seu lugar a um passageiro de raça branca.
O seu posterior julgamento e condenação por «desobediência civil» despoletou o mais famoso movimento de resistência contra a segregação racial nos Estados Unidos, liderado por Martin Luther King, Jr.

Mais de 50 anos depois desta atitude incrivelmente corajosa de Rosa Parks, estão pelos vistos muito longe de, por esse mundo fora, terminarem estes abjectos comportamentos de segregação e discriminação e esta imbecil persistência na intolerância e no preconceito, sejam em razão da raça, da religião, do sexo ou até da orientação sexual.

Por isso, não posso deixar de me dirigir às deputadas Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda, da bancada do PS, que têm conseguido evitar o agendamento por parte da maioria parlamentar de que fazem parte de qualquer forma de solução legislativa que reconheça efectivamente os direitos dos homossexuais e possibilite o seu casamento, e a quem faço uma pequena sugestão:
– Que dêem um pulinho até Jerusalém, que façam uma viagem de autocarro e se sentem nos bancos da frente.
Talvez aprendam qualquer coisa!…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

23 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O aborto no Mundo e as práticas actuais – III


Especialmente didáctico é o cálculo deste parâmetro – o número médio de IVGs efectuados por mulher – nos países da América latina onde, por pressões religiosas, o aborto é criminalizado. Embora a estimativa do número total de abortos nestes países, baseada no número de mulheres hospitalizadas ou mortas em consequência de um aborto clandestino, possa pecar por defeito, os valores calculados – referentes à década de 90 – falam por si. No gráfico estão representadas em dois tons de azul estimativas assentes em diferentes formas de cálculo da percentagem de mulheres que necessitam recorrer aos serviços de saúde após um aborto clandestino.

De acordo com os dados, nestes países onde a influência do catolicismo se traduz na criminalização do aborto – nalguns mesmo para salvar a vida da mulher* -, todas as mulheres realizarão em média entre 1 a 1,5 abortos ao longo da vida!

Isto é, nestes países em que o aborto é criminalizado, a taxa estimada de aborto por mulher, mesmo a mais conservadora – que assume que 67% das mulheres sujeitas a um aborto clandestino recorrem a um hospital público na sequência de complicações pós-aborto – é francamente superior, com as excepções já referidas por anormalmente altas, à que se verifica em países onde este é permitido!

*Recordo que na origem da actual lei que proibe qualquer tipo de aborto na Nicarágua mesmo em caso de perigo de vida da mulher, estão as pressões da Igreja católica. No rescaldo da mui mediática interrupção da gravidez de uma criança de 8 anos, grávida na sequência de violação, a Igreja, pela voz do bispo Abelardo Mata, declarou ser o aborto «um crime abominável mesmo quando disfarçado por atenuantes pseudo-humanitárias como aborto terapêutico».

O poder da Igreja Católica na Nicarágua, especialmente efectivo em tempo de eleições, resultou numa lei que é uma sentença de morte para muitas mulheres neste país. Jazmina del Carmen Bojorge, uma jovem de 18 anos que morreu devido a complicações de uma gravidez, foi apenas a primeira vítima desta tão católica lei!

23 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O aborto no Mundo e as práticas actuais – II


Um exercício igualmente didáctico que a consulta das estatísticas a nível mundial disponíveis permite efectuar, diz respeito ao número médio de IVGs efectuados por mulher, calculado multiplicando por 30 e dividindo por mil o número de abortos por mil mulheres em idade fértil (dos 15 aos 44 anos) realizados em países com estatísticas de confiança.

Ficaram de fora da análise países como o Vietname ou a Roménia, em que apenas há dados sobre as IVGs realizadas em organismos estatais, mas que mesmo apenas com estes dados apresentam valores muito altos, 2,5 e 2,34, respectivamente, que reflectem no primeiro caso o baixo grau de eficácia do método contraceptivo mais utilizado neste país, o DIU, e no segundo, assim como em quase todas as ex-repúblicas soviéticas, não só vestígios do conservadorismo comunista em relação a políticas de educação sexual como especialmente o difícil acesso a métodos contraceptivos.

De qualquer forma, este exercício permite-nos concluir que, excluindo Cuba – onde o embargo torna os contraceptivos mais fiáveis de difícil acesso – e as ex-Repúblicas soviéticas pelas razões apontadas, nos países ocidentais em média uma em cada duas mulheres realizará um aborto ao longo da vida. Mesmo nos países que apresentam as taxas mais baixas a nível mundial – Bélgica, Holanda, Alemanha e Suiça – quase 1 em cada 4 mulheres interromperá uma gravidez indesejada.

Isto é, o aborto não é uma questão residual como pretende Vasco Pulido Valente, o nosso fazedor de opinião recentemente transformado em cruzado na inexistente guerra ao Natal! O aborto é uma realidade que não podemos ignorar pretendendo que apenas fúteis e irresponsáveis mulheres a ele recorrem! Mesmo utilizando «religiosamente» os contraceptivos mais eficientes todas as mulheres fertéis têm uma probabilidade, calculada de forma conservadora, de pelo menos 1,5 gravidezes indesejadas!

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(continua)