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A Igreja católica e os milagres

Jesus era um pobre judeu cuja superstição da época e umas pantominas escritas no Antigo Testamento converteram em Cristo (Salvador).

Os mais embrutecidos e supersticiosos começaram logo numa histeria anti-semita, a acusar os judeus de não aceitarem o simpático charlatão como filho de Deus, tal era a ansiedade de confirmar uma profecia. É verdade que o rapaz era dado à pregação e aos milagres, um dos raros empregos do sector terciário, que muitos rapazes pobres do seu tempo tentaram com menos êxito.

Os milagres começaram por ser a prova da divindade e acabaram como demonstração da santidade. Jesus fez milagres em vida porque era o seu ofício e fonte de rendimento. Depois de morrer saiu do ramo e deixou os truques para os cadáveres dos seus devotos. O rendimento fica para os padres porque não há família que se atreva a reivindicar os direitos de autor como herança.

No Vaticano há uma repartição que adjudica e passa certificados de garantia aos milagres, que no tempo de João Paulo II se multiplicaram como cogumelos. Têm médicos avençados por todo o lado, capazes de tudo a troco de indulgências.

Há muito que se esperam milagres fora do campo da saúde porque transformar água em vinho dá cadeia. Só Jesus conseguiu ressuscitar mortos, porque os jornalistas andavam ocupados com uns escândalos em Galileia e a televisão ainda não tinha sido inventada.

Admitiu-se que o Opus Dei arranjasse milagres de jeito para S. Josemaria Escrivá, que redimissem o apoiante de ditadores, o amigo de Franco, o aldrabão que comprou o título nobiliárquico de Ballager, o sevandija que chamou porca e puta à dedicada secretária de muitos anos, Maria del Cármen Tapia. Mas, não.

Apenas a cura do cancro duma freira, que a madre superiora desconhecia que estivesse doente, e da radiodermite de um médico. Nem um olho de vidro conseguiu pôr a ver, nem a um manco pôs pernas iguais – ainda que tivesse de cortar-lhe a mais comprida -, nem a um maneta fez crescer a mão. Se como homem foi odioso, como milagreiro foi um fracasso.

A Igreja católica anda pelas ruas da amargura. Já nem nos milagres, que eram o seu forte, consegue um prodígio de jeito.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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