Valores cristãos
Uma sondagem do Barna Group descobriu, para grande consternação dos teocratas americanos, que «Os grandes líderes cristãos americanos são desconhecidos do grande público, mesmo entre cristãos» enquanto Denzel Washington é não só conhecido por praticamente todos os americanos como apresenta quase um pleno de aprovação – em contraste com os baixissimos níveis favoráveis aos cinco líderes escolhidos.
Fazendo soar todas as campainhas de alarme, o presidente do grupo evangélico, George Barna, interpretou os resultados como indicando que «o cristianismo está a perder o seu poder na cultura americana» indicando ainda que «os cristãos estão mais sintonizados para questões de cultura e divertimento que para questões de fé» e conclui que tal acontece «porque mesmo os líderes mais importantes da comunidade cristã têm ressonância limitada com a população». E, horror dos horrores, «Estes números indicam que milhões de cristãos dedicam mais da sua energia mental à literacia cultural que à literacia bíblica».
Diria que, infelizmente, as conclusões do evangélico estão longe da realidade, e demasiados americanos na população em geral demonstram que de facto o cristianismo não perdeu o seu poder, político especialmente. Basta olhar para o item «Os evangélicos pensam diferente» em que Barna indica que em relação à população em geral os evangélicos brancos apresentam maiores níveis de aprovação de G. W. Bush e uma visão mais negativa de Bill Clinton, por exemplo. Em relação à literacia bíblica basta pensar na percentagem de americanos que acredita piamente nas patetadas criacionistas para confirmar que não só impera nesta faixa da população como a iliteracia cultural é de facto a sua imagem de marca. Aliás, carpem que «Nós [os cristãos] estamos sob ataque do segmento inteligente e instruído da sociedade»!
Por outro lado, são os que apresentam um maior nível de aprovação dos «grandes líderes cristãos» escolhidos por Barna, onde se incluem aberrações como o reverendo Doomsday (dia do juízo final) Tim LaHaye – co-autor da série apocaliptica «Left Behind», fundador da American Coalition for Traditional Values, da Coalition for Religious Freedom, da organização anti-feminista Concerned Women for America e do Institute for Creation Research – e James C. Dobson, fundador e presidente da maior organização teocrata americana e uma das mais radicais, – a organização fundamentalista Focus on the Family – que comparou a investigação em células estaminais embrionárias com as experiências nazis conduzidas com pacientes vivos, durante e antes do Holocausto.
Não sei exactamente qual o objectivo do preocupado evangélico com este artigo, provavelmente tentar mudar os hábitos televisivos dos cristãos norte-americanos, o que não deve ser difícil dada a quantidade de redes cristãs de televisão onde os delírios dos referidos lunáticos podem ser apreciados ao vivo e a cores.
Como nota de curiosidade, uma das sondagens produzidas pelo Barna Group, que publica anualmente o relatório «State of the Church» em que analisa o estado da nação em relação ao cristianismo, foi retirada da página do grupo por pressão das organizações cristãs que não queriam pública essa informação.
A sondagem tão execrada pelos teocratas indicava que, contrariamente ao que é ululado por todos os flavours do cristianismo que se reclamam os grandes defensores da moral e bons costumes e da «família», a taxa de divórcio nos Estados Unidos apresenta os valores mais elevados nos cristãos conservadores e os valores mais baixos entre… ateus e agnósticos! Assim como a taxa de aborto apresenta o seu máximo entre… católicos!
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