As provas de Mike Jones em relação aos contactos homossexuais que manteve durante três anos com Ted Haggard, um dos mais veementes ululadores contra a «sodomia» e um grande impulsionador da emenda que vai a votos terça-feira banindo o casamento homossexual, devem ser completamente irrefutáveis.
De facto, depois de negar ter mantido relações homossexuais com Mike Jones, o teocrata Ted Haggard, indicado pela Time como um dos 25 evangélicos mais influentes dos Estados Unidos, confessou:
«O facto é que eu sou culpado de imoralidade sexual, e assumo responsabilidade por todo o problema. Sou um embusteiro e um mentiroso».
Nada que nos surpreenda esta admissão da verdade. Resta apenas ver se há repercussões de mais esta evidência clara da hipocrisia dos embusteiros e mentirosos em nome de um mito nas eleições da próxima terça-feira não só nos 8 estados em que vai ser referendada a proibição do casamento homossexual como nas eleições para o Congresso e governador!
Alguns analistaspreveêm uma abstenção elevada nas hostes evangélicas devido a mais este escândalo. Recordando que não só o ódio a homossexuais se restringe aos cristãos como o facto de serem os fundamentalistas cristãos o baluarte indefectível de apoio a Bush e republicanos, podemos apenas esperar que finalmente os ventos da mudança nos Estados Unidos varram a quasi teocracia actual para uma página negra da história desta nação!
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se recusa a incluir nos formulários do censo uma opção específica para os ateus, obrigando-os a se identificarem juntamente com todas as posições diferentes descritas por “sem religião”. Categorias tão pequenas como os hinduístas, dois quais existem poucos milhares no país, merecem a distinção de poderem saber quantos são. Já aos milhões de ateus esse simples direito é negado.
Segundo pesquisa Brasmarket de alguns anos atrás, os ateus representam 1,4% dos eleitores, e são predominantemente homens de grandes cidades. Já segundo o Projeto Juventude do Instituto Cidadania, entre os jovens há somente 1% de ateus, e a maioria deles está no campo. De acordo com pesquisa publicada em 2002 pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social, há 5% de ateus na região metropolitana do Recife, que tem duas regiões com 13% de ateus. Em pesquisa de 2005 com cidadãos maiores de 16 anos, o Ibope apontou o
número de 2% para o grupo “ateu, não tem religião” e 6% para o grupo “é religioso, mas não segue nenhuma; agnóstico”. E para a pesquisa CCR-IBOPE de junho de 2003, 2,3% dos adultos são ateus. Seja como for, os números mais pessimistas indicam mais de dois milhões de ateus no Brasil.
É por isso que, se não for por considerações éticas, o mundo empresarial deve prestar atenção ao segmento dos descrentes ao menos por razões mercadológicas. É claro que uma ou outra empresa pode decidir que simplesmente vai se identificar com os evangélicos, que estão em maior número. E não há nada mais natural do que ganhar dinheiro às custas da religião. Mas o o problema é de outra ordem quando companhias aparentemente neutras se dedicam a promover visões religiosas.
A Sadia, por exemplo, conseguiu ofender de uma vez só milhões de consumidores brasileiros, e mais outros tantos cidadãos em 92 outros países. O grande produtor de frango e outros produtos alimentícios fatura cerca de R$ 7 bilhões e lucra R$170 milhões anualmente, e como toda grande empresa tem um leque de ações sociais nos quais dispende milhões de reais. Mas em nenhum lugar da cadeia de comando houve alguém com sensibilidade o suficiente que enxergasse além de seu pequeno mundo cultural e religioso.
A Sadia escolheu o mote “Cultive os valores” para promover seus kits de natal, e para isso “estudou as tendências dos consumidores e escolheu valores como amor, amizade, fé, perseverança e ética para expressar sua campanha”. Para a empresa, “esses valores foram
escolhidos por serem considerados universais e por abranger todas as culturas e religiões” e “os Kits Sadia também são uma forma de transmitir mensagens positivas (‘Cultive os Valores’) aos funcionários e clientes”. Analisemos cada uma dessas afirmações.
Ora, por certo que fé é um valor bastante popular e naturalmente apareceria com força em qualquer pesquisa de consumidores. Mas vejam o que acontece quando ela fica lado a lado com os demais valores. Uma pessoa sem amor pode ser má ou simplesmente amargurada. Quem nega a amizade é certamente um solitário e provavelmente um autocêntrico, ou incapaz de conviver em bons termos com seus pares. Quem não tem um mínimo de perseverança não consegue levar a cabo nenhum projeto em sua vida, nenhum emprego, nenhum estudo, nenhum relacionamento, nada. E os indivíduos amplamente aéticos são simplesmente canalhas. Ora, e o que são os indivíduos sem fé? O que o conjunto de valores sugere é que deverão ser igualmente ineptos ou condenáveis, figuras de quem se deve ter medo ou pena, como todas as demais.
Os autores dessa monstruosidade não tentaram esconder seu culturocentrismo porque sequer tiveram o discernimento de percebê-lo. Afinal, eles dizem com todas as letras que entendem que a fé “é um valor universal” e “abrange” (ou seja, contém) “todas [itálico acrescentado] as culturas e religiões.” Nada poderia demonstrar ignorância do assunto mais claramente do que isso. Em primeiro lugar, são as culturas e religiões que abrangem a fé, que por sua vez faz
parte delas. Mas tentemos uma interpretração mais suave, imaginando que o texto foi só mal escrito e o que se queria dizer é que os tais valores estão presentes (e não abrangem) em todas as culturas e religiões. Ainda assim haveria dois erros graves, pois diversas tradições religiosas orientais não incluem a fé e porque a fé, mesmo estando presente em todas as culturas, não existe em todos os indivíduos.
Se a fé é uma mensagem “positiva”, o que isso nos diz sobre o conceito que a companhia tem do seu oposto? Existirão dois opostos igualmente positivos? O que uma companhia alimentícia está fazendo ao nos dizer que nossas posições não existem, ou não são positivas?
Mas a coisa não pára aí. Segundo o site criado especialmente para promover os kits, “amor, amizade, fé, perseverança e ética são os verdadeiros valores que fazem com que as pessoas evoluam, empresas e marcas prosperem e transformem o mundo em um lugar melhor”. O Kit
Sadia “é uma mensagem de resgate dos verdadeiros valores que tornarão o mundo melhor”. Não há como escapar da conclusão de que os indivíduos sem fé evoluirão menos, ou nada. As empresas e marcas “sem fé” também estão condenadas ao mesmo destino. E todos eles são responsáveis por atrasar ou impedir a transformação do mundo em um lugar melhor. Em outras palavras, nós e nossas posições fazemos o mundo um lugar pior.
A campanha da Sadia parece viver em um mundo em que os cerca de 4% de ateus do mundo simplesmente não existem. Ou, pior, talvez ela esteja ativamente ignorando esses 300 milhões de pessoas. Para a empresa, aparentemente não somos suficientemente importantes como pessoas. Esperamos que mudem de idéia, pelo menos depois de notar que a quantidade de riqueza movimentada só pelos ateus brasileiros é maior até que a receita total da empresa.
Sugiro aos consumidores dos produtos da companhia no mundo inteiro que deixem clara sua posição quanto a essas afirmações não somente através de suas decisões de compra, mas também de maneira explícita através dos canais de comunicação da empresa: os telefones (55) 0800-702-3355 (específico para o Sadiakits) e (55) 0800-702-8800, o email
duvidas@sadiakits.com.br e esta página. Não deixem de registrar nos comentários as mensagens que enviaram e quaisquer demais respostas que tenham recebido da empresa.
Como uma leitura do nosso espaço de comentários confirma, o que mais irrita os dementes em nome de um mito é o facto de ateus e agnósticos se atreverem a expor em público as suas opiniões. Ingratos arrogantes que deviam agradecer o facto de que já há uns anos os «tolerantes» cristãos deixaram de os incinerar e perseguir activamente, uma demonstração suprema do seu «amor» pelo próximo – agora limitam-se a acirrar os ódios da população contra aqueles a que, segundo eles, se devem todos os males do mundo, pessoas desprezíveis e sem «valores» e restantes epítetos difamatórios sortidos a que todos estamos habituados.
Pior ainda, como carpia o devoto pastor Ray Mummert a propósito da objecção da comunidade científica em relação à pretensão cristã de que o monte de lixo que dá pelo nome de Desenho Inteligente ou IDiotia fosse ensinado nas escolas de Dover em vez do evolucionismo:
«Nós [os cristãos] estamos sob ataque do segmento inteligente e instruído da sociedade»!
De facto, como se atrevem estes ateus inteligentes e instruídos, que a tolerância e amor ao próximo cristãos permitem (há uns tempitos já) continuarem a viver, a pretender ensinar ciência e demais ateias matérias aos jovens e insurgirem-se contra a instrução no único conhecimento que os cristãos reputam necessário: a inenarrante Bíblia?
Continuando com as palavras de Ray Mummert, estas pretensões ateias de «doutrinar» os jovens em ciência conduzirão «à destruição da nossa sociedade»! De facto, devem ser os burros e ignorantes a determinar o que deve ser ensinado às crianças!
Porque como todos sabem, e foi afirmado nas páginas da Nature num artigo sobre IDiotia por um dos «notáveis» do neocriacionismo bíblico, Salvador Cordova, um devoto cristão desde a infância que, como muitos outros, viu a sua fé vacilar na Universidade, a ciência é muito perigosa (para a religião):
«O pensamento crítico e a precisão da ciência começaram de facto a afectar a minha capacidade de acreditar apenas em algo, sem evidências tangíveis».
Aliás, também o representante-mor do Vaticano cá do burgo advertiu os católicos portugueses para os perigos da ciência e da análise racional, destacando que «os discípulos de Cristo não podem cair nesta tentação [usar a razão]».
Assim, os fanáticos cristãos de todas as cores urgem a todos os «bons» crentes resistirem tenazmente a pensar racional e criticamente e incitam à união no combate aos ateus que, determinados em «destruir» a sociedade, contaminam a fé cristã e respectivas «verdades absolutas» disseminando pensamento científico, racional e crítico e se insurgem contra a crescente influência da religião no espaço público dos respectivos países, supostamente laicos!
Como afirma, escandalizado com a ousadia dos ateus, o teólogo Os Guinness, nos Estados Unidos assiste-se a uma rebelião crescente dos ateus ao poder político dos cristãos!
De facto, embora afirme não terem crescido em número, o devoto cristão insurge-se contra os atrevidos ateus que, imagine-se, estão mais organizados e determinados em «minar» a influência da religião na sociedade norte-americana. Influência extremamente benéfica que apenas os ateus, cegos pela sua falta de fé, não veêm e se estende além fronteiras como puderam confirmar em primeira mão os iraquianos!
Ou todos aqueles que beneficiam e beneficiaram da mui cristã tortura para os auxiliar na confissão da «verdade», tornada uma «arma vital» contra o terrorismo recentemente!
Esta insurreição ateia contra a talibanização das respectivas sociedades é descrita como um ataque contra a fé cristã – porque será que todos os fanáticos em nome de um mito consideram um ataque ao cristianismo não os deixarem impor a todos os dislates em que acreditam e os castigos biblícos preconizados aos que não obedecem a esses dislates?
Ataque que o teólogo descreve estar a tornar-se «vicioso e veemente em certos círculos» – o tal segmento mais instruído e inteligente da sociedade – usando como exemplo os recentes livros de Richard Dawkins e Sam Harris, que rapidamente se tornaram best sellers nos Estados Unidos!
Isto é, escrever um livro – ou um blog – expondo uma opinião pessoal sobre religião é um ataque vicioso contra a fé! Claro que os incontáveis livros escritos, encíclicas e demais prosas institucionais descrevendo os ateístas como seres abjectos não são sequer considerados ataques ao ateísmo, são constatações da «verdade absoluta»! Já enjoa mesmo esta pecha para a carpidura e vitimização dos intolerantes cristãos quando coarctados nas suas aspirações totalitárias e integristas!
E, parafraseando Einstein, de facto a estupidez não tem limites!
Os muitos cultos cristãos do Brasil seguem à risca o mandamento de levar o evangelho a toda criatura, nem que para isso tenham que ganhar milhões. A Igreja Internacional da Graça de Deus, por exemplo, aluga diariamente sessenta minutos de horário nobre da TV Bandeirantes, uma das maiores do país, a um custo da ordem de dez milhões de dólares. Embora Deus seja onipotente, Ele se recusa terminantemente a fazer o dinheiro surgir espontaneamente em prol de tão boa causa, de maneira que são os fiéis, provenientes em sua maioria das camadas mais pobre do país, que sustentam a campanha. Mas essa é uma digressão.
Em seu programa “Show da fé” de 18 de setembro, o fundador da igreja, R. R. Soares, sem dúvida em contato direto com o Homem, nos brindou com uma curiosa informação sobre o mundo natural: “um avião só pode cair se não houver nehum justo dentro dele”.
De imediato percebi que qualquer pessoa de boa fé deveria ficar indignada ao máximo. Afinal, poucas semanas atrás sucedeu trágico acidente aéreo com um Boeing da Gol em que morreram todos os seus 154 ocupantes. E agora nos vem o missionário dizer uma coisa dessas? Como
é possível? Por que as autoridades não tomam uma providência? É muito claro que as famílias dos mortos nesse acidente e em todos os demais da história da aviação foram ultrajadas com o que é não somente uma enorme falta de respeito, como também, possivelmente, um crime.
Afinal, as companhias aéreas poderiam evitar todos os acidentes caso embarcassem ao menos um justo em cada vôo, para não se sujeitarem ao maligno acaso de que só pecadores comprem bilhetes — perigo tanto maior nestes dias de tribulação. Companhias ainda mais ciosas da segurança de seus passageiros contratariam dois justos, para o caso de um deles ter fornicado no dia anterior (ou coisa pior), sem que o sistema de vericação de justeza da companhia tenha descoberto.
As famílias em luto e todos aqueles que viajam de avião devem agradecer contritamente a informação do missionário, que não nos estaria disponível se não fosse por sua revelação direta, sem interesse pessoal ou financeiro algum. Creio que tanto cristãos quanto não cristãos podem perceber claramente a grandeza do gesto de Soares, motivo pelo qual insto nossos leitores, de todas as tendências religiosas e eventualmente arreligiosas, a mandarem suas opiniões à Igreja através do endereço http://www.ongrace.com/faleconosco/faleconosco.php.
Evolução do orçamento federal americano em programas de abstinência até ao casamento. Clique para aumentar
A recomendação do governo americano aos cidadãos e cidadãs solteiros pode reduzir-se a uma linha ou casam ou então sexo só depois dos trinta anos!
A mui cristã (e completamente inútil) directiva do governo Bush pretende gastar 207 milhões de dólares dos contribuintes a ensinar aos americanos que:
Assim as directivas permitem a quem quiser gastar dinheiro federal – e apostaria que muitos grupos cristãos vão agarrar o financiamento – identificar «as pessoas entre as idades 12 e 29 anos» que «tenham mais probabilidade de ter filhos fora do casamento» e usar de todos os métodos para os convencer a «adiar a actividade sexual até ao casamento».
Porque será que todos os teocratas cristãos advogam menos estado quando se trata de actividade económica e muito estado a controlar e refrear as liberdades individuais?
Seria interessante ainda saber quantos dos «iluminados» cristãos que tanto se preocupam com a vida sexual alheia apresentam em privado comportamentos como os de Ted Haggard, Jim West ou Mark Foley…
O devoto Tony Blair, que já confessou serem de inspiração cristã a maioria das suas decisões políticas, tal como a invasão do Iraque, defendeu numa entrevista à New Scientist o ensino do criacionismo em escolas públicas.
Tony Blair afirmou que as preocupações dos que questionam o ensino do criacionismo em algumas escolas inglesas (e o ensino em todas do criacionismo e da IDiotia a par do evolucionismo é encorajado no curriculum de biologia introduzido pela Opus Dei Ruth Kelly) são grandemente exageradas!
Numa entrevista em que Blair se declara um adepto da ciência evangélico e renascido (born again em inglês, um termo utilizado para descrever os mais alucinados cristãos fundamentalistas) – uma mui bizarra escolha de palavras para descrever a posição de alguém em relação à ciência – este afirma que os cientistas deviam preocupar-se com temas mais importantes, como sejam o aquecimento global ou organismos geneticamente modificados, OGMs, em vez de com o «inocente» criacionismo!
Aliás, afirmou que uma visita a uma escola em que o criacionismo é ensinado aos pobres alunos, lhe permitiu a opinião:
«Na realidade o que eles asseguram, o que é muito mais importante, é o primeiro ensino disciplinado e de elevada qualidade que a maioria destes alunos alguma vez tiveram».
Ou seja, não interessa que estas crianças sejam ensinadas patetadas como ter a Terra 6 000 anos, sejam instruídas sobre a inenarrância da Bíblia, mais concretamente do Genesis, e mimoseadas com dissertações surreais sobre supostas provas «científicas» que suportam o criacionismo, acreditem piamente no grande dilúvio e na arca de Noé ou que a evolução seja descrita como uma «invenção» de inspiração demoníaca!
O importante é que aprendam a ser bons carneirinhos disciplinados que engolem sem pestanejar todas as palermices que os «mestres» lhes ministrem!
Num completo contrasenso, Blair, que reconhece ser a ciência o motor do desenvolvimento de qualquer país, afirma ainda que:
«Se eu reparar que o criacionismo começa a ser ensinado maioritariamente no sistema educacional deste país, aí sim, penso que é altura de nos começarmos a preocupar».
Ou seja, a estratégia daqueles que regem pela religião as suas decisões políticas é sempre a mesma: primeiro afirmar em relação a algo religioso que é contestado, seja o ensino do criacionismo seja a existência de crucifixos nas salas de aulas, que há problemas mais importantes com que as pessoas que os contestam se deviam preocupar. Depois, menorizar o problema dizendo que a sua dimensão é reduzida: há poucas escolas que ensinam criacionismo – ou exibem cruzetas – é fanatismo laico/ateu preocupar-se com o assunto quando há tantos problemas relamente importantes para resolver. Embora reconheçam que no dia em que for generalizado aí sem é um problema mas enquanto estiver circunscrito só mesmo os fanáticos laicos o invocam! Isto é, devagarinho, ponto por ponto, protestando a «inocência» e a «bondade» das alterações aumentar o poder da religião no quotidiano!
Claro que as desculpas dos fundamentalistas religiosos só enganam os crentes e ignoram as lições da História: quando se reconhece que algo pode vir a ser um problema deve-se envidar todos os esforços para o solucionar antes que esse algo assuma dimensões catastróficas. Especialmente quando esse algo tem a ver com religião.
Por outro lado, como espera Blair – que indica as alterações climáticas despoletadas pela acção humana, a investigação em células estaminais e os OGMs como os problemas em que a comunidade científica devia centrar esforços de explicação para o público – que alguém que foi condicionado na escola a desconfiar dos ateus e demoníacos cientistas acredite nestes quando eles falam sobre outros assuntos?
Ou como explicar que é necessário alterar comportamentos para evitar catástrofes ambientais a crentes que acham que Deus «providenciará»? Ou a crentes que consideram serem estas e outras catástrofes bem-vindas já que prenunciam a volta do «salvador»?
Recentemente a propósito de mais um aviso da comunidade científica de que a vida marinha desaparecerá em meados do século se algo não for feito já, no forum sobre o tema da BBC um devoto muçulmano afirmava que Allah fez o Mundo e como tal é apenas falta de fé dos cientistas a razão do aviso: Allah protegerá os mares da poluição e da pesca excessiva! Estou certa que este tipo de pensamento irresponsável não se restringe aos muçulmanos!
De facto, Ted Haggard, há dois dias presidente da Associação Nacional Evangélica dos EUA e activista contra os casamentos homossexuais, renunciou ao cargo após um «escort», Mike Jones, ter dito ao vivo e a cores numa televisão local que Haggard utilizava regularmente os seus serviços. Haggard admitiu algumas das acusações, nomeadamente admitiu ter comprado anfetaminas ao referido Mike Jones – que assevera nunca ter usado – e ter recorrido apenas aos seus serviços de … massagista!
Aparentemente Mike Jones tem provas da relação … profissional … com Haggard. Jones já respondeu às acusações de motivações políticas para a denúncia, explicando que depois de se ter apercebido que o seu cliente de 3 anos era o mesmo que tanto trabalhara para que fosse a votos na próxima terça-feira uma emenda proibindo o casamento homossexual no Colorado resolveu apenas denunciar a hipocrisia!
Concordo em absoluto com o Boss: dever-se-ia chamar aos que defendem a criminalização da IVG pró-prisão já que pró-vida não são certamente!
De notar a referência nesta notícia do Destak à indicação da Unicef de que se realizam anualmente cerca de 16 000 abortos de vão de escada em Portugal, com graves riscos para a saúde das mulheres que não têm condições para se deslocarem à vizinha Espanha ou a outro país europeu em que a Igreja Católica não tenha tanto peso político. De acordo com a directora da clínica dos Arcos, Yolanda Hernandez, no ano transacto deslocaram-se a esta clínica (uma entre cerca de 120 análogas apenas em Espanha) para interromper a gravidez cerca de 4 000 portuguesas.
Estes dados deixam-me uma interrogação: sendo o aborto o único pecado imperdoável e merecedor de excomunhão automática, qualquer que tenha sido o motivo, mesmo risco de vida para a mulher, quantas mulheres que se reinvidicam católicas cá no burgo o são de facto?
Saberão muitas daquelas que são as responsáveis por não se encontrarem às moscas as igrejas nacionais que foram automaticamente excomungadas pela sua decisão? Não me lembro de algum dos dignitários da delegação portuguesa da multinacional de Roma o ter mencionado nas muitas alocuções sobre o tema com que nos mimosearam nos últimos tempos. Será por temerem perder a maioria dos clientes se o fizessem?
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A semana que antecede as eleições para o Congresso norte-americano e para o lugar de Governador em muitos estados, tem sido fértil em más notícias para os teocratas ( ou religious right).
Assim, Ted Haggard, demitiu-se da sua posição de presidente da National Association of Evangelicals (NAE), o lobby teocrata mais forte nos Estados Unidos já que integra 45 000 igrejas e representa um rebanho de 30 milhões de seguidores. Ted Haggard, um apoiante convicto de G. W. Bush que se reúne com o presidente ou seus conselheiros todas as segundas-feiras, é considerado o responsável pelo apoio incondicional dos evangélicos a Bush na reeleição de 2004.
Ted Haggard, um mui vocal opositor do casamento entre imorais homossexuais, que se juntou a outros influentes teocratas, James Dobson, da Focus on the Family, e Tony Perkins, do Family Resarch Council, num programa transmitido em todos os Estados Unidos para denunciar a abominação inaceitável por um bom cristão, demitiu-se por… ser acusado de ter sexo com um homem, a cujos serviços recorre mensalmente nos últimos três anos!
Mike Jones, o homem em questão, declarou a uma jornalista ter denunciado Haggard, que ulula aos microgones da sua mega igreja ser a homossexualidade um pecado abominável, porque «pensei ter de fazer o que para mim é moral e expor uma pessoa que prega uma coisa e faz o oposto às escondidas». Aparentemente Mike Jones não sabe ser essa a imagem de marca do cristianismo, em todas as suas versões…
Esta semana foi igualmente má para o presidente do oxímero Evangelismo da Ciência da Criação, Ken Hovind, o fundamentalista cristão dono do Dinosaur Adventure Land – um parque biblíco perto de Pensacola, Flórida, em que são apresentadas como verdades absolutas fantasias de que a Terra tem apenas seis mil anos, que o Grand Canyon foi formado num dia como consequência do grande dilúvio biblíco ou que os homens coexistiram com os dinossauros.
Mike Hovind, não obstante os seus protestos de que tudo o que possui não é dele mas sim de Deus e como tal não tem de pagar impostos sobre algo – para além de os seus trabalhadores serem de facto trabalhadores de Deus, logo não precisarem de mesquinhices mundanas como segurança social e afins – foi considerado culpado de fraude fiscal e arrisca-se a uma pena que pode ir até 288 anos de prisão!
Para coroar a semana, foi divulgado um inquérito que revela que afinal os americanos não são tão religiosos como os teocratas tentam vender. Na realidade, 42% dos americanos (adultos) tem dúvidas em relação à existência de Deus, uma percentagem de agnósticos ou ateístas não assumidos que subiu 8% em apenas 3 anos.
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O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.