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Mês: Novembro 2006

10 de Novembro, 2006 jvasco

Sam Harris e as razões para acreditar

Neste espaço tanto eu como a Palmira colocámos alguns vídeos de Sam Harris disponíveis no you tube.
No entanto, à medida que acompanho as conversas entre os comentadores, sou levado a crer que muitos passaram ao lado de tais videos, talvez por serem longos. Assim sendo, tomei a iniciativa de traduzir alguns trechos, neste caso a respeito do respeito que se deve ter, ou não, pelas crenças alheias:

«Nós não respeitamos as crenças das pessoas: nós avaliamos as suas razões. Se as minhas razões forem boas, um indivíduo racional tenderá a concordar com elas.

Se eu vos dissesse que acredito que existe um diamante gigante, do tamanho de um frigorífico, enterrado no meu quintal, pode ocorrer-vos perguntar ‘porquê?’. Se em resposta eu dissesse ‘esta crença dá muito significado à minha vida’ ou ‘não gostaria de viver num universo em que não existisse um diamante gigante enterrado no meu quintal’, seria bastante claro que respostas deste tipo seriam profundamente desadequadas. Pior: seriam as respostas de um lunático ou de um idiota. Respondendo dessa forma, desqualificar-me-ia para qualquer posição de responsabilidade na nossa sociedade.

Mudamos de assunto para a religião, para as exigências morais de uma alegada super-inteligência invisível, para o que acontece depois da morte, e subitamente já tudo é possível.»

«Nós não respeitamos as crenças de outros. Em todos os assuntos nós avaliamos as suas razões. Se eu chegasse aqui e dissesse ‘o holocausto nunca existiu’, vocês não teriam qualquer obrigação de respeitar a minha crença a respeito da história da Europa.
Nós não respeitamos os negacionistas do holocausto, os negacionistas não se tornam reitores de universidades; as pessoas que acreditam que o Elvis está vivo não se tornam senadores. Nós não aprovamos leis contra a adoração do Elvis ou a negação do holocausto, mas marginalizamos com sucesso tais pontos de vista.

Em qualquer aspecto da nossa vida, estar muito certo de algo com um número reduzido de provas ou indícios, ou em contradição com um enorme número de provas ou indícios é sinal que algo está errado com essa mente, é sinal de que não se pode confiar nessa pessoa.
E no entanto, no que respeita à Fé, nós adulteramos as regras completamente. […]

Quando acreditamos que algo é verdadeiro, estamos a esforçarmo-nos por representar a realidade nos nossos pensamentos. É a diferença entre crença e desejo […] E ou temos boas razões para as nossas crenças, ou não temos.
Em todas as áreas da nossa vida, nós exigimos boas razões e desconfiamos de quem não tem boas razões para as suas crenças fundamentais.

Realmente existe um conflito entre religião e ciência.
Tem havido muita produção académica a respeito de tal conflito. Realmente existe um conflito aqui. Porque em última análise o que está em jogo é ter boas razões ou más razões. Todas as religiões fazem alegações a respeito de como o mundo funciona, todas elas descrevem como é que a realidade funciona.
Ou Jesus vai voltar, ou não. Se ele voltar, vindo das nuvens, o critianismo perdurará revelado enquanto ciência. Será a ciência do cristianismo. E qualquer cristão que quiser poderá dizer ‘bem te avisei – aqui está ele, olha para os seus poderes mágicos’, e qualquer cientista mentalmente são será convencido por uma demonstração suficiente de poderes mágicos. Estas alegações parecem ser factuais.»

10 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Os bailes da pureza


Uma das últimas modas entre os fundamentalistas cristãos norte-americanos são os bailes da pureza em que os fanáticos cristãos se comprometem a defender a «pureza» das respectivas filhas pré-adolescentes e adolescentes e estas prometem manterem-se sexualmente «puras» até ao casamento. Ou mais concretamente:

«Eu prometo manter-me sexualmente pura… até ao dia em que ofereça o meu corpo como prenda de casamento ao meu marido… eu sei que Deus me exige isso».

Ao que o pai responde:

«Eu escolho perante Deus proteger a minha filha como a sua autoridade e protecção na área da pureza. Eu serei um homem íntegro e responsável enquanto a dirijo e guio e rezo pela minha filha e serei o sumo sacerdote da minha casa».

Absolutamente arrepiante! Uma regressão assustadora para uma sociedade patriarcal em que as mulheres são meras mercadorias ao cargo de homens, e em que o «sumo sacerdote» se encarrega de assegurar que a mercadoria não é «estragada» até a entregar ao domínio de outro homem! Mais uma expressão clara da misoginia do cristianismo, nomeadamente evidencia a falta de confiança nas «imorais» Evas cuja sexualidade deve ser estritamente controlada por homens!

9 de Novembro, 2006 Ricardo Alves

Vitória para a liberdade de expressão na Turquia

A historiadora turca Muazzez Çig foi absolvida da acusação de «incitamento ao ódio religioso» num julgamento em Istambul. A acusação partiu de um advogado muçulmano e baseou-se no facto de a historiadora, que tem 92 anos de idade, ter escrito num livro que o véu foi usado pela primeira vez por sacerdotisas sumérias que iniciavam sexualmente rapazes como parte de rituais de fertilidade.

Muazzez Ilmiye Çig é reconhecida na Turquia como uma especialista na civilização suméria, mas tabém como uma laicista militante. Já escreveu à mulher do actual primeiro ministro (o islamista Recep Erdogan) aconselhando-a a que desse o exemplo e não usasse o véu islâmico em público.

À saída do tribunal, Muazzez Çig foi aplaudida por uma multidão.
9 de Novembro, 2006 fburnay

Vaticano «amargurado»

O Vaticano pediu a anulação da marcha de orgulho gay a ter lugar em Jerusalém, apresentando como razão o facto de ofender as crenças de judeus, muçulmanos e cristãos. Diz o Vaticano que a liberdade de expressão se deve submeter a «justas limitações» já que ofende as crenças das pessoas.

Se as pessoas se sentem ofendidas com uma marcha é graças a instituições como a ICAR que ajudam a propagar noções erradas e injustas sobre a sexualidade do ser humano. O Vaticano esquece-se que muitos dos que participarão nessa marcha são também judeus, muçulmanos e cristãos. E ignora todos os crentes que se entristecem pelo mundo fora com os preconceitos da Igreja. Não se sentiram eles também ofendidos pelo Vaticano?

A justificação apresentada espantar-me-ia se não fosse apresentada por quem é. O que está em causa é o direito à não-discriminação e à liberdade de expressão. Isso ofende os crentes porquê? É ofensivo fazer uma marcha? É ofensivo ter-se orgulho? Não. O que ofende os crentes é o facto de os outros serem homossexuais. Os crentes sentem-se ofendidos, veja-se, porque os outros não são como eles acham que deviam ser. Os crentes sentem-se ofendidos com a orientação sexual dos outros. Para os crentes, são pecadores os que querem marchar em Jerusalém e isso ofende-os. Isto é que são as «justas limitações» do Vaticano. A susceptibilidade arbitrária das pessoas, o seu humor volátil, o preconceito, o carácter sagrado de uma cidade que alguns julgam que lhes pertence simplesmente porque têm uma determinada fé de entre três. A liberdade ofende? Se a expressão ofende o Vaticano, o Vaticano não gosta dessa liberdade. É justamente a mesma justificação apresentada pelos fanáticos islâmicos em relação às caricaturas de Maomé.

Não esquecer que Bento XVI também “ofendeu” muçulmanos extremistas por causa de uma citação histórica. No exercício da sua liberdade de expressão, tão inviolável como a de qualquer outra pessoa, o papa viu-se a mãos com o mau humor de alguns muçulmanos que se mostraram muito ofendidos com a licenciosidade do bispo de Roma. Não haverá um único espelho em todo o Vaticano?

9 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

A hipocrisia de Bento 16

B16, inveterado celibatário, incapaz de permitir a interrupção voluntária do celibato ao clero, é adversário feroz do divórcio. Não se estranha, pois, que apele aos bispos para manterem «a unidade e unanimidade» sobre princípios que quer impor à humanidade.

O último teocrata europeu é incapaz de aceitar a liberdade individual e de respeitar o pluralismo. Quem desconhece o casamento, que nega a si próprio e ao imenso exército de sotainas e hábitos que escondem a clericanalha, como pode compreender o divórcio?

E quanto ao aborto? Que leva um autocrata, misógino e intolerante, a querer na cadeia as mulheres que, voluntariamente, interrompam a gravidez? Um cínico, dirá que o Papa quer proteger os fetos para matar pessoas, lembrado dos assassínios da ICAR, ao longo dos séculos.

Quanto aos casamentos homossexuais, ninguém lhe pede a bênção, apenas se lhe pede que não interfira nas decisões individuais e que, como guardião da moral, que julga ser, diga qual é a sua opção sexual, a menos que seja sexualmente neutro.

Se a hipocrisia matasse ninguém aceitava o lugar de Papa.

8 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Sex, drugs, Ted Haggard and Election Day

Ainda é cedo para saber os resultados definitivos das eleições de ontem nos Estados Unidos mas aparentemente muitos evangélicos ficaram em casa ou não votaram nos candidatos republicanos. De facto, os resultados intermédios são claramente a favor dos democratas e, pelo menos na Câmara de Representantes, os republicanos perderam a maioria que detinham há 12 anos.

Em relação às eleições para o Senado o ultra conservador teocrata Rick Santorum, o grande defensor da IDiotia e o católico fundamentalista que afirmou não terem os adultos direito à privacidade da sua vida sexual- e como tal deveriam ser criminalizados a homossexualidade, o adultério e a «fornicação» em geral – não foi reeleito, perdendo o lugar da Pensilvânia para Bob Casey.

Perderam ainda a re-eleição os senadores republicanos do Ohio e Rhode Island. Os republicanos perderam para já os governadores de Ohio, New York e Arkansas.

As notícias menos animadoras dizem respeito à emenda que pretende banir o casamento homossexual que passou na South Dakota, South Carolina, Colorado, Idaho, Tennessee, Wisconsin e Virginia. Apenas no Arizona os resultados preliminares indicam que não vai passar. Parece que os últimos escândalos não demoveram os fundamentalistas cristãos nos outros estados de impor aos restantes a sua pseudo moral bafienta e hipócrita!

Os eleitores do South Dakota rejeitaram aquela que seria a lei mais estrita do aborto em todos os Estados Unidos, quasi tão estrita como a da Nicarágua, que o permitia apenas para salvar a vida da mãe … com a Sodomized Religious Virgin Exception, claro!

7 de Novembro, 2006 Ricardo Alves

A ética é natural?

Parece-me evidente que o nosso sentido ético, a nossa consciência do que podemos ou não fazer aos outros, é inato. Tenho a certeza de que a ética não caiu do céu aos trambolhões, atirada pelo «Grande Manitu» ou pelo «Deus» de Moisés; e sei também que os filósofos se limitam a teorizar conceitos que encontraram na rua. As ciências da natureza explicarão um dia como desenvolvemos o nosso sentido ético. Começam a aparecer estudos com esse objectivo.

A diferença mais relevante entre o nosso comportamento social e o de outros primatas não é a propensão para cooperar: os leões também cooperam quando vão à caça. Não é sequer a expectativa de reciprocidade na interacção entre indivíduos: os chimpanzés também esperam que se devolvam favores. A diferença é que os humanos armazenam a informação suficiente para recordarem o comportamento pretérito dos outros membros do grupo, e portanto para decidir (ou não) cooperar em função da experiência acumulada.

A parte inata da ética humana talvez seja um dia estabelecida. O facto de termos desenvolvido uma cultura complexa que codificou essas regras e muitas vezes as tentou inverter (através da religião, por exemplo), não facilita o trabalho. Uma parte da nossa «ética natural» poderá ser inata, e outra parte poderá resultar inevitavelmente da lógica de grupo. Em qualquer dos casos, é uma linha de investigação que acabará por explicar muitas regras sociais de que a religião se apossou.
7 de Novembro, 2006 jvasco

Jesus gostava de espadas?

«Não vos venho trazer a Paz, mas a Espada»
Mt.10:34

«Agora, quem não tem uma espada venda o manto e compre uma»
Luc.22:36

«Teme o príncipe, porque não é em vão que ele traz a a espada. Porque ele é ministro de Deus vingador, para punir aquele que faz o mal»
Rom.13:4

Mas há mais…

7 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Unidos pelo ódio

A Parada Internacional do Orgulho Gay, programada inicialmente para 10 de Agosto, em Jerusalém, que mereceu a união em uníssono das vozes mais ululantes dos fundamentalistas islâmicos, judeus ortodoxos e católicos na condenação do evento e foi adiada por razões de segurança vai realizar-se na próxima sexta-feira, dia 10 de Novembro.

De facto, não obstante os protestos e pedidos de proibição de todos os fanáticos em nome de um mito, o procurador geral de Israel afirmou não existirem razões para proibir o evento, apesar de a polícia considerar que o evento se pode tornar muito violento: «Nós achamos que o perigo potencial à vida e o derramento de sangue é mais importante que a liberdade de expressão» declarou o porta voz da polícia, Micky Rosenfeld.

De facto, milhares de judeus ortodoxos protestaram sábado passado a realização do evento, que culpam pela guerra do Líbano e pela derrota sofrida na mesma. Os devotos judeus promoveram distúrbios durante três dias em protesto pela parada, queimando lixo, fazendo barricadas e apedrejando a polícia. As habituais ameaças de morte a todos os que nela participam foram mais uma vez ouvidas.

Como ululou o rabi Moshe Sternbuch, que preside ao tribunal Eda Haredit, durante a manifestação, «Nós não tivemos sucesso no Líbano devido à obscenidade e promiscuidade existente na Terra Santa. Não há pior distúrbio que esta parada vergonhosa».

Parece que para os devotos seguidores das religiões do livro – cujos crentes protestam serem religiões de paz e amor – sem se perceber bem porquê, aparentemente por «castigo» de um mito que apenas se manifesta para punir «sodomitas», os odiados homossexuais são os culpados por todos os atentados terroristas e insucessos bélicos no globo, do Médio Oriente, como uiva o fanático pastor da Igreja Baptista de Westboro, à Europa!