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Mês: Novembro 2006

28 de Novembro, 2006 jvasco

Galileu no Teatro Aberto

Infelizmente este artigo chega tarde de mais. Já não posso aconselhar uma peça que saiu recentemente de cena.

Ainda assim, não gostaria de deixar passar a oportunidade de elogiar a excelente interpretação que o Novo Grupo fez da peça de Bertolt Brecht, a respeito da vida desse incontornável cientista.

Como é natural a peça também foca o importantíssimo papel que a Igreja teve no atraso científico, tecnológico e cultural da sociedade. Ao longo do texto, é muitas vezes equacionada a oposição entre uma sociedade rica e desenvolvida e uma Igreja forte e poderosa.

Mas Bertolt Brecht foi mais longe, sendo mais profundo, na minha opinião. Optou por contrapor o obscurantismo (representado, naturalmente, pela religião) com tudo o que de reconfortante pode ter, à liberdade, com todos os desafios e lutas inerentes, associando-a ao conhecimento, à lucidez, à racionalidade. À verdade.

E creio que essa oposição é o coração de todo o seu texto.

Se porventura a peça voltar a estar em cena, não percam a oportunidade.

28 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

A fé e o ódio

A fé e a intolerância são irmãs gémeas. As Igrejas odeiam-se com uma veemência que estarrece as pessoas civilizadas e transmitem o ódio dos seus líderes à multidão de crentes que as seguem. Faz parte da sua natureza.

Os chefes religiosos estão menos interessados no martírio do Deus que promovem do que no poder que possuem. Não são as ideias que os separam, são os interesses e a disputa do mercado.

Os católicos e os protestantes mataram-se cristãmente, durante séculos, até que o Papa e os bispos foram metidos na ordem.

Em 1054 surgiu o grande cisma entre católicos e ortodoxos e, num acto de mútuo amor, as seitas divididas excomungaram os crentes da concorrência. Deus estava, há muito, de baixa e o Diabo desleixara-se na manutenção ao Inferno, desactivado e incapaz de supliciar os malditos.

Católicos e ortodoxos viveram mútua e reciprocamente excomungados durante 911 anos sem que a maldição os apoquentasse. Quando em 1965 Paulo VI e Atenágoras se desexcomungaram, ao mesmo tempo, nada se alterou. A maldição de Deus é fácil de suportar, difícil é aguentar as bênçãos do clero.

O Papa é de todos os ditadores o que tem mais poder económico e uma hierarquia mais rígida. Umas vezes alia-se ao Islão contra o Judaísmo, outras ao protestantismo contra a liberdade. Agora busca nos cristãos ortodoxos o apoio de que carece contra a demência islâmica.

Na viagem à Turquia, o velho autocrata tenta provar que o país não está em condições de entrar na União Europeia sem se dar conta que ele próprio não cabe no espaço de liberdade que o laicismo criou e onde os ditadores são indesejados.

28 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Se não acreditas no Deus cristão vais para o Inferno

Matthew LaClair, um jovem que há um ano se tornou notícia quando recusou recitar o pledge of allegiance ou juramento de lealdade com que as crianças americanas iniciam o seu dia – jurando fidelidade à bandeira e a uma nação indivisível sob Deus -, volta a animar a blogoesfera americana e os media de New Jersey, estado onde se situa a Kearny High School onde estuda.

O professor de História de Matthew, um devoto pastor baptista que dá pelo nome de David Paszkiewicz, que não acredita na separação Estado-Igreja – a que chama «engenharia social» – e acha que desde o jardim de infância as crianças devem ser ensinadas a não tolerar «comportamentos sexuais desviantes», utiliza as suas aulas para proselitar os estudantes, ameaçando-os com o inferno se não acreditarem no Deus cristão e nos dislates que debita!

De facto, no meio das patetadas criacionistas usuais dos fanáticos cristãos – tais como terem os dinossauros estagiado na Arca de Noé ou serem anti-científicos o Big Bang e o evolucionismo enquanto o criacionismo bíblico é comprovado por … profecias bíblicas -, em vez de História Paszkiewicz ulula para os seus estudantes que a Bíblia é a palavra de Deus e que quem não aceita Jesus vai para o Inferno. Acerca de uma das estudantes da classe, muçulmana, o devoto cristão lamentou o seu destino inevitável se não se convertesse à única verdadeira religião.

Matthew LaClair, não-cristão, não achou muita piada que os delírios de Paszkiewicz fossem debitados numa escola pública e pediu uma entrevista com o director da escola em que essencialmente pretendia não só uma desculpa pelas ofensas vociferadas pelo devoto pastor como uma correcção das afirmações falsas e anti-ciência deste. Umas semanas depois, o director, aparentemente outro devoto cristão – Paszkiewicz não sofreu qualquer sanção, disciplinar ou outra – acedeu ao pedido do estudante.

Confrontado com as declarações de LaClair, o devoto pastor mentiu com quantos dentes tinha e negou ter debitado as afirmações que Matthew reproduziu, nomeadamente negou ter ameaçado com o Inferno os descrentes no Deus cristão.

Mas Matthew, que aparentemente conhece bem os fanáticos cristãos, temia exactamente isto: que como bom cristão o professor mentisse descaradamente por um mito e ninguém acreditasse na palavra de um estudante, nomeadamente um que a escola não tem em grande consideração devido à sua postura face ao juramento de lealdade, contra a de um professor e gravou as alucinações religiosas do pastor nas aulas supostamente de História! Delírios dos quais alguns podem ser escutados aqui (gravação a que cheguei via Pharyngula)!

Depois de Matthew mostrar dois CDs em que tinha gravadas as aulas do pastor este recusou continuar a conversa sem a presença de um representante do sindicato e lançou uma acusação de ateísta à «caça do grande (!) peixe, o grande (!) cristão que é professor» a Matthew.

Nem o professor (obviamente) nem algum responsável da escola emitiram qualquer pedido de desculpas pelo inaceitável comportamente de David Paszkiewicz…

27 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

Em defesa do Papa Bento XVI

Os milhares de fanáticos que ululam nas ruas da Turquia não são meros manifestantes que detestam um homem de negócios que anda a vender a fé – Bento XVI -, são bandos de intolerantes que se julgam detentores da verdade única e do único Deus verdadeiro.

Impedir a livre circulação de um indivíduo contra quem não existe qualquer mandado de captura, é um acto de proselitismo que a demência da fé alimenta. Não interessa se o Papa é igual aos que o contestam, se o monarca absoluto do Vaticano pensa de Maomé o que este pensava do toucinho, se está igualmente convencido de que as mentiras da sua Igreja são verdades únicas e o seu Deus o único com certificado de garantia.

O que está em causa é a liberdade de circulação de pessoas e mercadorias, direito de que gozam o Sr. Ratzinger e a água benta. As bênçãos que leva, e não precisa de declarar à alfândega, destinam-se apenas a quem aprecia mercadorias sem existência física.

Nenhum país é livre se não assegurar a liberdade de circulação, mesmo aos charlatães, enquanto não transitar em julgado uma sentença de um tribunal independente que os reconheça como tal e os condene.

Não está em causa gostar ou não de um indivíduo de quem Deus, se existisse, também não gostaria. Está em causa a liberdade.

Eis a razão de um ateu para defender o direito do Papa católico, embusteiro de milagres, indulgências e outras trapaças, a viajar pelo mundo e a promover os seus negócios. É, aliás, o direito que os ateus reclamam para denunciar as mentiras da fé.

Combater ideias sem molestar as pessoas é um direito democrático que os beatos não aceitam. É por isso que a laicidade do Estado se torna tão necessária e urgente.

27 de Novembro, 2006 jvasco

Provado cientificamente

A palavra provar tem dois significados diferentes. A demonstração, como na matemática ou na lógica. E testar, como provar um fato ou prestar provas. Parece-me que uma grande dificuldade em compreender a ciência vem de confundir estes dois significados.

Um leitor deste blog (João Silveira) comentou que não posso provar cientificamente que a minha mãe gosta de mim. Engana-se. A minha mãe deu já muitas provas de gostar de mim, em muitas ocasiões que testaram o seu amor por mim. É assim que a ciência prova: testando. Está provado cientificamente que a minha mãe gosta de mim.

O problema é pensar que a ciência prova as coisas como a matemática. A prova dedutiva é útil na manipulação de modelos simbólicos (equações, proposições lógicas, e assim por diante), mas não é uma forma de adquirir conhecimento. Se todos os mafaguinhos são calafráticos, e se o Jibidim é um mafaguinho, então prova-se que o Jibidim é calafrático. Mas o que é que isso adianta?

Para tirar algum partido desta prova tenho que encontrar mafaguinhos, determinar se são todos calafráticos, e verificar se o Jibidim é um mafaguinho. E para isso preciso de provas no outro sentido. Preciso de definir os termos, especificar hipóteses, confrontar previsões com o que observo, para pôr à prova a adequação do modelo à realidade. Sem isto fiz apenas um jogo de palavras sem utilidade nem sentido, mesmo que provado por demonstração lógica. É por isso que a ciência nos dá modelos da realidade que são rigorosos, precisos, e úteis: tudo na ciência é para provar, no sentido de por à prova, e toda a ciência está provada, no sentido de ter prestado provas.

O Bernardo Motta revelou a mesma dificuldade quando propôs que a diferença entre esta abordagem e a fé (a Católica, pelo menos) é uma diferença de «visão do mundo»:

«A virgindade de Maria, para mim, é algo de perfeitamente natural e normal, porque tenho uma visão do Mundo que não é positivista. [… O] crente instruído não acredita num dado dogma “porque sim”. Acredita porque esse dogma faz todo o sentido dentro da “weltanschauung” católica. Perfaz um todo coerente de uma beleza que nos convence da sua veracidade.»

Isto é apenas um passo do processo científico: a construção do modelo. Criar uma representação simbólica coerente, elegante, mesmo bela. Pode ser o dogma Católico, pode ser a economia de Marx, pode ser a psicologia de Freud ou a mecânica Newtoniana ou a Relatividade de Einstein. São modelos; palavras e símbolos encadeados duma forma lógica e estruturada.

Mas, como disse Thomas Huxley, mesmo a teoria mais bela pode ser morta por um facto feio. Podemos dizer que o nosso modelo vem da intuição, ou é revelado, ou é metafísico, transcendente, o que quisermos. Mas enquanto não prestar provas de que corresponde à realidade não é mais que o Jibidim e os mafaguinhos calafráticos.

A crença e a ciência não se distinguem pelas suas visões diferentes do mundo. Visões do mundo tem a ciência às dúzias, e muda-as regularmente. Até o dogma Católico já fez parte da ciência ocidental, e nenhum Católico rejeitaria provas científicas da virgindade de Maria ou da ressurreição de Jesus por virem de outra visão do mundo. Apenas o faria se as provas fossem contrárias à sua doutrina. E aqui é que está a diferença. A ciência quer modelos para compreender a realidade, por isso além de os construir também os testa, corrige, rejeita, melhora, e substitui.

A religião quer modelos para acreditar que são realidade, por isso limita-se a enfeitar um modelo com palavras sonantes. Aceita tudo o que facilite a crença. Rejeita tudo o que indique erros no modelo. Como adora o modelo, nem percebe a necessidade de o pôr à prova. Não se testa; tem-se fé. Mistério. Milagre.

Treta.
——————————–[Ludwig Krippahl]

27 de Novembro, 2006 Ricardo Alves

A proibição do véu na Turquia

«No meu campus, ninguém pode aparecer com uniforme religioso. Se hoje levantássemos a proibição do lenço, amanhã apareceriam de chador e no dia seguinte de burqa. No fim, estariam a bater nas jovens com vestidos modernos. Vimos no Irão como pode acontecer depressa.»

(Ural Akbulut, reitor da Universidade Técnica de Ancara, no Público de 26/11/2006.)
26 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

Iraque – Violência religiosa

Se, cada vez que morre um iraquiano, vítima da violência sectária, pensássemos no carácter pacífico das religiões, detestaríamos Deus e os seus prosélitos.

Os iraquianos que sucumbem na orgia de sangue, que o tribalismo e a fé se encarregam de levar a cabo, lembram aos agressores o maior erro histórico deste século, mas ilustram a crueldade que só Deus pode.

Quando as rivalidades étnicas entre xiitas e sunitas atingem uma violência intolerável, a que ninguém consegue pôr cobro, vêm à memória as guerras religiosas entre católicos e protestantes que dilaceraram a Europa.

Então era a obediência ao Papa que estava em jogo, misturada com um negócio de indulgências, hoje é o ajuste de contas por umas divergências antigas sobre Maomé, com um genro de permeio.

Os sunitas ganham o Paraíso a matar xiitas, estes têm acesso a matar aqueles. Se vissem o estado lastimável em que chegam, desistiam das 70 virgens que julgam à espera!

Talvez por isso as virgens que aguardam os dementes da fé permaneçam eternamente virgens.

26 de Novembro, 2006 Palmira Silva

In memoriam Mario Cesariny

Cruzeiro Seixas,Mário Henrique Leiria, Natália Correia e Mário Cesariny de Vasconcelos na galeria Otollini, por ocasião da exposição «O cadáver esquisito e pinturas colectivas no meio século da Revolução Surrealista», Fevereiro de 1975.

«O Homem só será livre quando tiver destruído toda e qualquer espécie de ditadura religioso-política ou político-religiosa e quando for capaz de existir sem limites»
Mário Cesariny, declarações reproduzidas em «A única real tradição viva», que o próprio Cesariny reuniu no substancial «A intervenção surrealista» (Assírio & Alvim, 1997).

«O ex-surrealista, o rigoroso e ateu e anti-clerical Mário Cesariny de Vasconcelos»* faleceu esta madrugada com 83 anos.

Com Alexandre O’Neil, António Pedro, José-Augusto França, Marcelino Vespeira, Moniz Pereira, António Domingues e Fernando de Azevedo fundou o Grupo Surrealista de Lisboa, um movimento inspirado no lançado, em 1924, pelo francês André Breton – que Cesariny conheceu em Paris quando frequentava a Academia de La Grande Chaumière- que se propunha a «mudar a vida» e «transformar a sociedade».

Um artista polivalente, com uma extensa obra plástica e poética pontuada de um corrosivo humor, Cesariny foi o dinamizador da prática surrealista em Lisboa, não só com a criação do referido grupo como de «antigrupos» – como Os Surrealistas, com Henrique Risques Pereira, António Maria Lisboa, Fernando José Francisco, Carlos Eurico da Costa, Mário-Henrique Leiria, Artur do Cruzeiro Seixas e Pedro Oom – com a mesma orientação mas questionando e procurando um grau extremo de espontaneidade, objectivo que permeia toda a sua obra poética.

Para Cesariny, homossexual assumido, o amor, «a única coisa que há para acreditar», é «o único contacto que temos com o sagrado. As igrejas apanharam o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel».

*in Pacheco versus Cesariny – Folhetim de feição epistolográfica, Luiz Pacheco, Editorial Estampa, 1974.

26 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Regeneração cardíaca e células estaminais

Embora na última década, a investigação cardiovascular tenha conhecido um crescimento exponencial que se traduz num melhor conhecimento das alterações moleculares associadas à insuficiência cardíaca, este aumento de informação não teve o resultado esperado na prática clínica, visto que esta doença ainda apresenta um prognóstico sombrio, constituindo presentemente umas das principais causas de morte no mundo industrializado.

A insuficiência cardíaca é assim um problema de saúde pública com elevados índices anuais de morbi-mortalidade, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. O tratamento clínico com os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA) e os betabloqueadores, melhoraram o prognóstico dos pacientes sintomáticos, mas o tratamento farmacológico apresenta grandes limitações, sendo o número de pacientes refractários muito alto.

Esta situação pode mudar em breve graças a descobertas revolucionárias descritas em dois artigos publicados online na revista Cell na passada quarta-feira.

Uma equipa de cientistas do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School em Boston, liderada por Kenneth Chien, identificou células estaminais embrionárias em ratos que se podem transformar nos vários tipos de células que constituem o coração, cardiomiócitos, células endoteliais vasculares e células musculares lisas.

Os cardiomiócitos são células altamente diferenciadas que param a sua multiplicação logo após os primeiros anos de vida. A morte dos cardiomiócitos, por exemplo como consequência de um enfarte do miocárdio, origina uma fibrose tissular, que dependendo da extensão pode levar a insuficiência cardíaca.

A equipa de Chien tinha descrito num artigo anterior um grupo de células precursoras do músculo cardíaco a que chamaram células islet-1 (isl1+). Estas células, que são definidas pela presença da proteína is11, foram encontradas nos tecidos cardíacos de ratos e humanos recém-nascidos.

Neste artigo os cientistas descrevem o que acontece a estas células, que podem ser obtidas de células estaminais embrionárias, que, para sua grande surpresa, são percursoras não apenas das células que constituem o músculo cardíaco mas igualmente de todo o tipo de células cardíacas.

Como afirmou Chien, «Este estudo documenta um paradigma para a cardiogénese, em que se mostra que a diversificação das linhagens de células musculares e endoteliais derivam de uma decisão a nível de uma única célula, a célula multipotente isl1+ que é uma célula progenitora cardiovascular».

No segundo artigo, a equipa liderada por Stuart Orkin do Howard Hughes Institute em Chevy Chase, Md., isolou células de um embrião de rato que expressam um gene cardíaco específico, o Nkx2.5+. Estas células diferenciam-se espontaneamente em cardiomiócitos e células do sistema de condução cardíaco – que conduzem os impulsos eléctricos que permitem os batimentos do coração. Com alguma surpresa verificaram que algumas destas células – que expressam um segundo gene, o c-kit e a que chamaram c-kit+Nkx2.5+ – se transformavam em células musculares lisas.

As células Isl1+ estudadas por Chien podem dar origem às células c-kit+Nkx2.5+ descritas por Orkin, mas a relação precisa entre os dois tipos de células é um tema que necessita ser investigado.

«Não se sabe qual é a relação entre estas células, se é que há alguma. Uma pode ser a predecessora da outra ou podem ser linhas separadas» afirmou Orkin apontando que as as células estudadas pelas duas equipas parecem corresponder a campos diferentes de progenitores cardíacos. Estudos anteriores indicam que os campos cardíacos primário e secundário geram estruturas no lado esquerdo e direito do coração, respectivamente.

A descoberta destas células mãe específicas para tecidos cardíacos é extremamente promissora para terapias regenerativas de corações doentes. A regeneração usando células estaminais embrionárias totipotentes tem riscos associados à possibilidade de crescimento descontrolado destas dando origem a teratomas, um tipo de tumor.

Dada a posição oficial do Vaticano em relação à investigação em células estaminais, e ao facto de que para a Igreja de Roma uma célula estaminal – assim como um óvulo fertilizado e um embrião – é uma pessoa, usar para fins terapêuticos uma célula estaminal embrionária, como ululou Tarcisio Bertone, secretário da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé «Do ponto de vista ético, é como pôr fim a uma inocente vida humana».

Para serem coerentes com a sua «ordem moral natural, isto é, cristã», os fundamentalistas católicos que ululam contra «o comportamento profundamente leviano, promíscuo, debochado e, sobretudo, egoísta» das «homicidas» de vida não nascida dever-se-iam abster deste tipo de tratamento quando ele for disponibilizado. Mas claro, os pró-prisão na realidade estão-se nas tintas para a defesa da vida, apenas querem ver punidas as levianas, promíscuas, debochadas e egoístas mulheres, pelo que neste, como em outros temas, não é de esperar qualquer coerência dos fundamentalistas católicos…

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26 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Separação da Igreja e do Estado na Noruega

Como o Ricardo já tinha referido, a situação anacrónica de um dos países menos religiosos do mundo, a Noruega, em que existe uma religião oficial e uma igreja de estado a que pertencem nominalmente 88% mas de facto apenas 10% da população, está prestes a terminar.

A discussão pública sobre a separação entre o Estado e a Igreja na Noruega iniciada há uns meses – que inclui a possibilidade de um referendo sobre o tema – num país em que a larga maioria da população apoia a medida, foi reforçada pela decisão de há uns dias do órgão máximo eclesiástico, o Sínodo Geral, que votou maioritariamente (63 contra 19) a favor da separação da Igreja e do Estado neste país.

Como referiu igualmente o Ricardo, a Igreja da Noruega, luterana, é liderada pelo Rei da Noruega, com o Storting (Parlamento Norueguês) como órgão legislativo supremo. A Constituição desta monarquia impõe que a família real e pelo menos metade dos membros do Governo professem a religião de Estado, uma imposição bizarra num país em que desde 1964 uma emenda à Constituição permite a todos os habitantes o direito de praticar a sua religião ou não religião livremente.