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O regresso do véu

A questão do véu marcou, nas últimas semanas, a opinião pública de três países europeus. No Reino Unido, Jack Straw afirmou que pede às mulheres muçulmanas com quem se reune que tenham a cara visível; na Holanda, Rita Verdonk (a tal que chegou a retirar a nacionalidade a Hirsi Ali) quer proibir o uso da burca nas ruas; em França, alguma extrema direita quer interditar o véu em todo o território.

Desde que comecei a escrever neste blogue que tenho defendido a lei francesa de 2004 que proibiu os «símbolos religiosos ostensivos» nos serviços públicos. Porque defendo a laicidade do Estado e porque, num país como a França que retirou os símbolos religiosos dos edifícios públicos há um século, é hoje necessário impôr regras aos fundamentalistas que tentam instrumentalizar as alunas muçulmanas para provocarem nas escolas públicas a segregação dos sexos, tensões entre comunidades confessionais, e o avanço de um programa obscurantista e reaccionário. Entendo portanto, igualmente, que uma professora não pode dar aulas de véu, e muito menos de cara tapada, uma questão que se colocou recentemente na Inglaterra (o mesmo é válido para uma advogada num tribunal).

No entanto, não defendo que se proíba o uso da burca ou de máscaras na rua, a menos que haja razões de segurança, ou quando é necessário romper com um passado de submissão da mulher. Nesse espírito, a Tunísia tem a minha compreensão por proibir o véu nas ruas, como a Turquia também a tem por o proibir nas universidades e no parlamento. Num país como a Holanda, não defenderia a proibição da burca nas ruas, mesmo sendo (e é) um símbolo e um instrumento da autoridade familiar ou clerical, da desigualdade dos sexos, e de uma ideologia totalitária. Quando vi mulheres de cara tapada num supermercado do Seixal ou num centro comercial da capital, senti um desconforto e uma revolta semelhantes ao que sinto quando vejo os «cabeças rapadas» que se passeiam orgulhosamente por Lisboa.

Por tudo isto, espanto-me com a ingenuidade de alguma esquerda multiculturalista (refiro-me a Joana Amaral Dias no 5 dias) que parece não compreender o real significado das burcas e dos véus. Nos anos 60, eram raros os véus nas capitais árabes. Foi a revolução islamo-fascista de Khomeini, em 1979, que os trouxe de volta. Desde aí, os véus tornaram-se um instrumento e um símbolo de um movimento islamista que pretende escravizar as mulheres (e os homens) do mundo muçulmano, e que detém o poder no Irão, na Arábia Saudita, na Palestina, no Sudão e na Somália. Mais importante do que defender o direito de ter comportamentos extremistas e separatistas, deveria ser, penso eu, combater contra uma ideologia totalitária, obscurantista e machista como o islamismo. E entender o que têm para dizer tantas mulheres de origem muçulmana que não encaram o véu como apenas mais um trajeum direito»?), mas sim como o símbolo e instrumento de opressão feminina que efectivamente é.

Quanto à lei francesa que proibiu os símbolos religiosos ostensivos, há razões para fazer um balanço essencialmente positivo. Das muitas centenas de alunas que usavam o véu, apenas algumas dezenas foram excluídas da escola e remetidas para o estudo em casa. E as escolas privadas islâmicas não proliferaram. Não é por acaso que os muçulmanos de França têm uma opinião positiva da laicidade, e que em França apenas 46% dos muçulmanos se vêem primeiramente como tal (e 42% se vêem primeiramente como franceses), enquanto no Reino Unido 81% se vêem primeiramente como muçulmanos (e apenas 7% como britânicos)…

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