Cientistas unidos contra a religião
Há mais de dois anos que alertamos os nossos leitores para a guerra que prevíamos iminente entre as religiões do livro e a ciência. Com grandes protestos dos nossos leitores católicos que asseveravam ser a sua uma religião completamente compatível com a ciência, escrevemos muitas dezenas de posts* alertando para o problema e desmascarando todas as patetadas criacionistas.
Dois anos passados as nossas previsões, infelizmente, mais uma vez se concretizaram. Como seria expectável, já que para recuperar o integrismo perdido é absolutamente necessário às religiões que os crentes acreditem nas patetadas que vendem como «verdades absolutas reveladas» e que são de facto reveladas como cretinices absolutamente absurdas pela ciência.
Os nossos avisos de uma guerra iminente entre religião e ciência eram escarnecidos pelos fanáticos de serviço ao nosso espaço de comentários como alarmismos sem justificação. Fanáticos de serviço que agora se referem ao evolucionismo em particular e à ciência em geral, como cientifismo, isto é, a irracional «religião» dos abominados ateus!
Felizmente já muitos na comunidade científica se aperceberam do carácter organizado e profundamente político das investidas das religiões organizadas contra a ciência, guerra aberta cujo fim é um retrocesso civilizacional ao pré-Iluminismo. Esta regressão é indispensável para as religiões recuperarem a hegemonia medieval, quando a religião dominava todos os aspectos do quotidiano e quando todo o poder estava de facto na mão dos clérigos não dos governantes.
Boa parte da comunidade científica já despertou da complacência em relação às religiões e apercebeu-se que a contemporização com as patetadas religiosas não pode continuar!
Assim, a revista Nature de amanhã apresenta um artigo que traça o quadro negro do criacionismo na Europa e alerta para a necessidade da comunidade científica se empenhar na luta contra o movimento anti-evolucionista em que os fanáticos de todas as religiões se empenham neste momento.
De igual forma, o Washington Post de há uns dias noticiou a formação de um Think Thank para promover o uso da razão. O anúncio, acompanhado de uma declaração em defesa da ciência e da laicidade, expressa as preocupações de vários cientistas sobre o poder nefasto e desmesurado da religião na política norte-americana em especial, em que a esmagadora maioria das decisões são tomadas com base na fé e não na razão.
O The Center for Inquiry-Transnational combate a influência nefasta da religião na política (e na sociedade) pugnando para que as decisões políticas sejam baseadas solidamente na razão – ou seja, na ciência – e não na irracionalidade – isto é, na religião.
A ameaça que constituem as religiões foi ainda analisada durante três dias no Salk Institute for Biological Studies em La Jolla (San Diego), Califórnia, num evento recheado de prémios Nobel apropriadamente intitulado «Para além da crença».
Como afirmou Steven Weinberg logo no ínicio da conferência «O Mundo precisa acordar deste longo pesadelo da crença religiosa. Tudo o que os cientistas puderem fazer para enfraquecer o poder da religião deve ser feito e pode ser de facto a nossa maior contribuição para a civilização».
Não poderia estar mais de acordo e nada me poderia dar mais satisfação que ver as minhas preocupações com o desvario fundamentalista que infectou o Mundo serem partilhadas pela comunidade científica internacional! E confirmar que o antídoto para o vírus religioso que utilizamos no Diário Ateísta já há uns anos, o livre pensamento, o racionalismo, a divulgação da ciência e a demolição dos disparates religiosos, é preconizado abertamente como um dever dos membros da comunidade científica – se não quisermos regredir para um passado sangrento e obscurantista!
* São demasiados artigos para indicar as hiperligações. Podem ver os resultados da pesquisa no ateismo.net sobre o tema aqui, aqui ou aqui.