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Richard Dawkins e os fundamentalistas

É sempre divertido ler os ataques acéfalos dos fundamentalistas religiosos aos depravados ateístas que, imagine-se, se atrevem a afirmar para o público em geral o seu ateísmo e desmontam brilhante e habilmente as contradições, disparates, impossibilidades lógicas, enfim, a implausibilidade da mitologia e das ilusões que necessitam para viver.

Os ateístas mais proeminentes são obviamente os alvos privilegiados, mas todas as religiões organizadas se concentram em denegrir os ateístas em geral. Um exemplo é este bocado de lixo publicado no Christian Worldview Network, em que um devoto pastor, sem qualquer sentido do ridículo, comisera sobre as dificuldades que considera estarem indelevelmente associadas aos pobres ateístas.

Os raciocínios circulares, falácias e disparates regurgitados pelo «tolerante» cristão são fabulosamente desmontados num post do Secular South e em outro do Pandagon.

Como seria apenas expectável nem uma das falácias do devoto cristão é contaminada sequer por resquícios de pensamento original, é apenas um sumariar das mui cristãs instigações ao ódio contra ateístas, esses seres imorais e desprezíveis, incapazes de distinguir entre o bem e o mal, a guerra e a paz!

Uma homilia sobre o «horror» de um mundo sem religião, para além das falácias criacionistas expectáveis, é igualmente a reacção de outro devoto pastor ao sucesso do livro «The God Delusion» de Richard Dawkins.

Certamente preocupado com as recentes estatísticas que indicam terem dúvidas em relação à existência de Deus 42% dos americanos e empenhado em demonstrar que todos os males do mundo se devem ao ateísmo, o acéfalo cristão centra as respectivas regurgitações de ódio na afirmação da bondade do divino Criador em contraposição à maldade intrínseca do evolucionismo com que os ateus cientistas explicam o mundo:

«Onde está a beleza na luta de cada organismo por si? Mesmo que o mais competente possa sobreviver um pouco mais, ficam aprisionados numa existência sem objectivo nem significado. Um espectáculo tão lúgubre e sem esperança apenas pode ser descrito como horrível».

Como ironiza PZ Meyers no Pharyngula, noutro artigo demolidor que recomendo, certamente que para os devotos cristãos a realidade de uma gazela a ser devorada viva por um leão assume beleza e sentido apenas se se desenrolar sob o olhar atento e amoroso de um ser sobrenatural omnipotente que a «criou» para esse objectivo…

Mas o devoto pastor continua as suas elucubrações acéfalas com as falácias a que todos estamos habituados, isto é, o reductio ad Hitlerorum e o reductio ad Stalinerorum, os argumentos favoritos – e únicos – dos revisionistas históricos cristãos para apontar os horrores do ateísmo e do evolucionismo.

Isto é, não sei se por ignorância – o que dado o conjunto de inanidades que debitou me parece plausível – ou propositadamente, o pastor agarra-se (ou alimenta) ao mito de um Hitler ateu e darwinista para suportar o seu mito de um Criador inteligente – nem Hitler nem Staline eram evolucionistas (este último rejeitava a evolução e declarava a genética uma pseudo-ciência capitalista) .

Ou seja, como Hitler é reconhecidamente um dos maiores monstros psicopatas que a humanidade produziu, o devoto cristão ignora ou deturpa a verdade histórica para usar o criacionista católico Hitler para advertir os mais ignorantes do perigo quer do ateísmo quer do evolucionismo, que os fundamentalistas cristãos ululam de dedo em riste terem sido as causas do Holocausto!

Em relação à falácia habitual – utilizada recorrentemente pelos mais alucinados comentadores no nosso espaço de debate que mencionam Mao ou Stalin a propósito de tudo e mais umas botas – que tenta identificar laicidade ou ateísmo com estalinismo ou maoismo, já referi que o totalitarismo político não tem nada a ver com laicidade nem com ateísmo.

O totalitarismo político é simplesmente uma cópia fiel do totalitarismo religioso, com todos os ingredientes das religiões desde culto de personalidade do ditador – quasi considerado um «deus», basta pensar no culto a Lenin, Stalin, Mao ou Kim Jong II – a dogmas inquestionáveis, verdades absolutas apenas questionadas por «hereges» merecedores de fogueiras/gulags sortidos.

(continua)

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