Os defensores incondicionais da vida
Já tinha referido as ululações do secretário da Conferência Episcopal Espanhola, Juan Antonio Martínez Camino, contra a disciplina de Educação para a Cidadania, que, contrariamente ao que se passa com a Educação e (I)moral Católicas, vai ser obrigatória para todos os níveis de educação.
A contestação da sucursal espanhola da multinacional de Roma a tão ateia disciplina foi ontem concretizada numa manifestação de ululantes católicos em que participou a organização Hazte Oir, um dos tais «movimentos de defesa da vida» a que o presidente da CEP apela a que «intervenham, e nessa vertente a Igreja possa ter a sua participação a nível social», na questão do referendo à IVG.
Trocando por miúdos as palavras de Ortiga, o arcebispo de Braga instiga os movimentos pró-prisão nacionais, todos com fortes ligações não só à sucursal nacional da ICAR como à tal congénere ultra-conservadora espanhola – confirmando que a questão do aborto é simplesmente uma questão religiosa – a assumirem em nome da Igreja a imposição a todos das patetadas em que acreditam, especialmente consagrando na lei a criminalização dos «pecados»!
Para que não existam dúvidas em relação à talibanização de Portugal no caso de o terrorismo psicológico dos pró-prisão ter sucesso e a resposta ao referendo for «Não», é necessário entender o que não foi explicitado na afirmação do dignitário católico em relação à actual lei, que permite o aborto terapêutico:
«pode existir uma lei, mas não quer dizer que seja moralmente boa, pode até ser errada».
De facto, para a Igreja Católica «o aborto, mesmo por razões terapêuticas, deve ser absolutamente proibido», isto é, nem mesmo quando o feto é «um agressor injusto» (gravidez ectópica) e quando «pareça desejável salvar a vida da mãe» é legítimo fazê-lo.
Assim, os aliados dos nossos pró-prisão estão a organizar uma manifestação de apreço e felicitações aos deputados da Nicarágua pela aprovação da mui «católica» lei que proibe qualquer tipo de aborto, mesmo para salvar a vida da mulher. E seguem os ditames do actual Papa ao condenar os adeptos do «feminismo radical» – o tal que se arroga a «reindivicar exigências» ateias para as mulheres, como seja o direito à vida – que protestaram a aprovação da lei!
De facto, esta lei é uma sentença de morte para pelo menos as 400 mulheres que anualmente apresentam na Nicarágua uma gravidez ectópica – uma gravidez extra-uterina, frequentemente uma gravidez em que o embrião se fixa nas trompas de Falópio – e em que o embrião não tem qualquer hipótese de sobrevivência!
Volto a recordar que o que está em jogo no referendo que se aproxima é simplesmente a talibanização de Portugal. Se este teste ao poder político da Igreja for positivo, o bando de fanáticos ululantes cá do burgo – ajudados pelos partidos políticos que precisam dos votos dos católicos para sobreviver – não vai dar tréguas enquanto não forem revertidas as (poucas) conquistas civilizacionais dos últimos 30 anos. Nomeadamente o reconhecimento de (alguns) direitos à mulher, entre eles o anti-católico direito à vida e à saúde…
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