Loading

Sam Harris e os crentes «moderados»

Sam Harris contradiz imensas imensas afirmações que oiço repetidas acriticamente. Ele fá-lo com bons argumentos, que importa reter. No último vídeo do youtube que coloquei no meu anterior artigo, Sam Harris começa por criticar o facto dos crentes moderados darem cobro à crença fundamentalista, visto que estes criam um tabu no que respeita a creiticar crenças alheias, tabu esse que é totalmente injustificado e patético. Sam Harris também alega que as justificações que os crentes moderados dão para a crença, baseando as suas razões em desejos e anseios, são um flagrante Non Sequitur, que torna tal crença frágil do ponto de vista da consistência intelectual. E continua:

«Outro problema da crença religiosa moderada é que ela não é apenas inconsistente do ponto de vista intelectual, mas também do ponto de vista teológico. É que os fundamentalistas leram os respectivos livros sagrados, e estão certos a seu respeito: eles são tão intolerantes, divisivos, como os Osamas deste mundo sugerem.

Uma vez dignificada a alegação de que a Bíblia ou o Corão são fundamentalmente diferentes de outros livros – sejam as peças de Shakespeare, seja a Ilíada – que estes livros não são literatura, são os melhores livros de que dispomos em termos morais; uma vez dignificada tal alegação, ficamos reféns do conteúdo de tais livros.
O criador do Universo realmente odeia homossexuais.
Se lerem a Bíblia, lerão que, no mínimo, o sexo homossexual é uma abominação aos olhos de Deus – é dito com todas as letras em Levítico, é rectificado em Romanos.

Muitos cristãos imaginam que o Novo Testamento fundamentalmente repudia toda a barbárie que pode ser encontrada no Antigo Testamento: livros como Levítico, Deuteronimo, Samuel II, Éxodo, etc. Isso não é verdade. Podemos apanhar Jesus em metade das suas disposições e podemos deparar com belas palavras e conselhos eticamente válidos, como a regra de ouro.
Mas o mesmo Jesus também disse coisas como, em Lucas 19, ‘Tragam aqui os meus inimigos, que não aceitam minha autoridade, e matem-nos à minha frente’.

Eu garanto-vos que os inquisidores da idade média, que quiemaram hereges vivos ao longo de 5 séculos, tinham lido todo o Novo Testamento – leram o sermão da montanha – eles encontraram uma forma de enquadrar o seu comportamento com o exemplo de Jesus.

Não é acidental que as referências teológicas da Igreja, S. Tomás de Aquino, S. Agostinho […] fossem a favor da morte e tortura de hereges. […]
Nós olhamos para trás, pessoas a serem queimadas vivas, académicos a serem torturados até à loucura por especularem acerca da natureza das estrelas, da nossa perspectiva enviesada do XXI século e pensamos ‘eram lunáticos’.
Não é verdade. Este era um comportamento perfeitamente razoável, tendo em conta aquilo em que se acreditava.
[…]

Outro problema com a crença religiosa moderada é que estes crentes tendem a ser cegados pela sua própria moderação.
É muito difícil para os moderados acreditar que as pessoas acreditam realmente nestas coisas. Quando vemos nas notícias um Jihadista a dizer coisas como ‘amamos mais a morte que o infiel ama a vida’ e então rebenta consigo, os religiosos moderados (não os fundamentalistas) tendem a não acreditar que a crença foi a razão pela qual ele se fez rebentar. ‘Não tem nada a ver com religião: há causas económicas e sociais, a questão da educação, …’

Não sei quantos engenheiros e arquitectos têm de se fazer rebentar para nós entendermos que as causas não são só económicos-sociais. É muito mais sinistro.

É realmente possível ser tão instruído que se saiba fabricar uma bomba nuclear, e ainda assim acreditar nas 72 virgens.»

Perfil de Autor

+ posts