Anselmo sem fogo
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«Estes factos obrigam a ter constantemente presentes, com temor e tremor, os perigos patológicos das religiões. Talvez nunca se tenha meditado suficientemente na grandeza heróica daqueles que preferiram o ateísmo a ficar presos de um deus que humilha, escraviza e anula o Homem.»
É claro que é uma apreciação simpática para nós, ateus (embora o «heroísmo» me pareça um exagero). Mas, depois de ter batido no peito e confessado pecados ao ponto de reconhecer alguma razão aos ateus, Anselmo Borges deita ao mar a rede de pesca:
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«No entanto, o Homem é por natureza religioso, no sentido de estar constitutivamente aberto à questão de Deus enquanto questão. Essa abertura, independentemente da resposta, positiva ou negativa, que se lhe dê, é que é o fundamento último da dignidade humana. Precisamente porque é abertura ao infinito.»
Este argumento é daqueles que me faz sorrir. O homem é «naturalmente religioso» porque inventou a religião? Então também seria «naturalmente científico» porque inventou a ciência, ou «naturalmente ideológico» porque inventou as ideologias, ou «naturalmente jogador de xadrez» porque inventou esse jogo. Evidentemente, Anselmo Borges responderá que a ciência e o xadrez não fundamentam a «dignidade humana». É uma opinião, mas mais atrás Anselmo já reconhecera implicitamente que a religião, historicamente, sempre foi a maior inimiga da «dignidade humana», e que foi até o principal instrumento da humilhação e escravização da humanidade… Em que ficamos?
Mas continuemos com Anselmo Borges:
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«A religião enquanto fé no Deus infinito e pessoal foi mediadora da tomada de consciência da infinita dignidade de ser Homem. Esta é a intuição e a parte de verdade da tese de Feuerbach ao querer reduzir a teologia a antropologia.»
Novamente, mais um jogo de palavras vazio de sentido. Acrescenta-se o adjectivo «infinito» a duas abstracções («Deus» e «dignidade») e postula-se uma associação espúria. Infelizmente, a maior parte do pensamento religioso actual está reduzido a jogos de palavras deste género, o que poderá ser um sinal de que já nem os sacerdotes têm fé. Mas, assim, também não serão eles a ajudar-nos a compreender como a humanidade criou a religião. (Aparentemente, foi a seguir à linguagem e à música…)