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Mês: Outubro 2006

12 de Outubro, 2006 lrodrigues

A Mãe de Deus

O dia 13 de Outubro é uma data de extrema importância para os católicos de todo o mundo.

De facto, foi no dia 13 de Outubro de 1917 que a mãe de Deus, ela própria, em pessoa, em directo e ao vivo, apareceu pela sexta vez aos três videntes de Fátima, tal como tinha anunciado que ia fazer no dia 13 de Maio desse mesmo ano.

Nesse dia 13 de Outubro, a Virgem Maria, decerto cansada que a tratassem por esse nome (ela lá saberá porquê), disse aos três videntes que queria passar a ser tratada por outro nome mais actualizado.
E disse-lhes então: eu sou a «Nossa Senhora do Rosário».
Segundo rezam as crónicas da época, os videntes não acharam estranho que a mãe de Deus se referisse a ela própria por «Nossa», em vez de «Vossa». Mas isso é um pormenor de somenos importância.

Já que estava ali sem fazer nada, a Vossa Senhora do Rosário aproveitou a oportunidade e resolveu anunciar que queria que no local das aparições fosse construída uma capela em sua honra.
E lá lhe fizeram a vontade, não fosse o Diabo tecê-las. Olá se fizeram!

Rezam ainda as crónicas da época que foi nesse dia que o Sol dançou no céu.
Embora não se conheça ninguém em concreto que tivesse presenciado este milagre, pois todas as pessoas que foram inquiridas individualmente negaram ter visto alguma coisa digna de nota, o que é facto é que para todos os efeitos o Sol dançou, e isso é o que interessa.

Mas o verdadeiro significado das aparições da Cova da Iria é outro completamente diferente e muito mais importante.
Vejamos então:

Um belo dia a mãe do Deus pai, do Deus filho e do Deus Espírito Santo, isto é, a mãe desta gente toda, resolveu vir ao planeta Terra transmitir uma mensagem aos humanos.
Andava preocupada com a gente, coitada.

E então, decerto persuadida da enorme importância desta divina mensagem, a santa progenitora escolheu como seus interlocutores nada menos do que três pastores analfabetos e meio atrasados mentais.
Ainda por cima as «sopas de cavalo cansado» não os tinham ajudado nada, coitados.

Nunca ninguém lhe perguntou a razão desta escolha. Mas da parte de quem gostava de aparecer às pessoas em cima das árvores, também nada é de estranhar.

Dado o inegável significado simbólico e atenta até a enorme relevância para a História da Humanidade, a mensagem foi de início considerada um segredo divino.
Só foi conhecida aos bochechos e depois de cuidadosamente dividida em três partes.

Na primeira parte, esta senhora «mais brilhante que o Sol» resolveu dedicar-se às banalidades. E lá entendeu dizer aos visionários que deviam rezar muito.
Sim, porque Deus gosta muito que lhe rezem. Faz-lhe bem ao ego, dizem.

Na segunda parte, resolveu dedicar-se às previsões e à futurologia. E lá entendeu por bem prever que a Guerra acabava nesse ano de 1917 e que os soldados portugueses já estariam de volta ao solo pátrio pelo Natal.
O pior foi que a I Guerra Mundial, a tal guerra de 1914-18 acabou, tal como o próprio nome indica, no ano de 1918.
Então não querem lá ver que a mãe de Deus se enganou, coitada?

Finalmente, a terceira e última parte a ser conhecida, aliás mais de meio século depois, fazia mais uma previsão. Desta vez de um atentado ao Papa.
O pior é que as previsões que são conhecidas depois dos acontecimentos que predizem ainda são piores que os prognósticos feitos no fim do jogo.

Ou seja, quer isto dizer que, nesta insigne e extraordinária mensagem transmitida aos Homens, a mãe de Deus numa parte fez um prognóstico no fim do jogo, noutra disse uma banalidade e na terceira, coitadita… enganou-se!

O que é facto é que ainda hoje me custa a entender por que raio terá a mãe de Deus resolvido um belo dia vir à Terra insultar desta maneira os católicos de todo o mundo…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

12 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

Ortiga contra Policarpo

Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse ontem que o aborto «tem que ser também uma questão religiosa». O arcebispo de Braga da ICAR entrou assim em clara contradição com o cardeal-patriarca de Lisboa da mesma igreja, José Policarpo, que afirmara recentemente que o aborto «não é um problema religioso».

As divergências teológicas entre estas duas figuras reflectem-se nas questões operacionais: enquanto Policarpo, o anterior presidente da CEP, afirmou que «queria que fossem os leigos, os pais de família e os médicos a liderar a campanha do “não”», o actual presidente da mesma CEP garante que a ICAR «não se alheará» da campanha anti-escolha e pró-prisão, e não descarta a participação activa da sua seita e o exercício da manipulação religiosa, prometendo explicitamente que «[irá] alertar todos os cidadãos para que votem em consciência e de acordo com a sua fé».

Os dois homens que dirigem a mais importante organização autoritária de Portugal aparecem assim divididos entre a postura mais fundamentalista do bispo bracarense e a atitude mais cautelosa do bispo lisboeta…
12 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

O Vaticano encerrou o Limbo

O Papa JP2, supersticioso e crente em Deus, acabou com o Inferno embora sem efeitos retroactivos. Ainda existia quando Cristo foi visitar a Irmã Lúcia e lhe deu uma bolsa de estudo para visitar o reino de Satanás onde, por coincidência, estava o Administrador do concelho de Ourém, que faltava à missa, resistia o incenso e não consumia água benta.

Agora o Papa Rätzinger acaba com o Limbo. Não há direito. Encerra o parqueamento que, por usucapião, estava reservado à minha descendência para toda a eternidade.

O Sapatinhos Vermelhos foi mais rápido a acabar com o estacionamento das almas que não sofreram a tortura do baptismo, aberto por Santo Agostinho no Século V, do que a reconhecer a teoria da Evolução das Espécies. Esta é ciência, o Limbo é um direito de superfície com prazo de validade sujeito ao poder discricionário do Papa.

A partir de agora, resta para os crentes o Céu. Não sei se o Paraíso arrendado pelo Papa tem virgens e rios de mel para oferecer aos utentes que pagam a taxa moderadora em orações e, sobretudo, em dinheiro. As virgens são inúteis e o mel faz mal às glicemias.

Com a alienação do Purgatório, Inferno e Limbo o património imobiliário celeste fica reduzido a uma courela para Deus jogar às cartas com o Filho, o Espírito Santo e o Papa enquanto S. José serve as bebidas e a Virgem Maria faz as lides da casa.

A pouco e pouco, vai o Céu ruindo e da imensa burla ficam os garridos paramentos com que a clericanalha ganhou a vida durante séculos.

Nota: O encerramento tinha sido previsto pela Palmira em «Os Vagabundos do Limbo».

12 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Ideologia neo-conservadora contra a ciência

Um artigo do astrofísico Rui Curado Silva simplesmente a não perder no Cinco Dias. Que apenas resume o que há anos vimos denunciando no Diário Ateísta. Um pequeno excerto:

«O novo livro de Richard Dawkins (autor de ‘O Gene Egoísta’) intitulado The God Delusion e a edição hors-série a lançar no próximo dia 8 da revista Ciel et Espace, L’Univers a-t-il besoin de Dieu, são duas respostas enérgicas de quem na comunidade científica já percebeu o carácter organizado e profundamente político da tentativa medieval de retorno ao criacionismo.

O padrão que encontramos nestes ataques à ciência encaixam perfeitamente nos mecanismos de controlo social da ideologia neo-conservadora: o controlo do indivíduo através de um moralismo religioso validado por fraudes científicas e o controlo do colectivo confinando o grosso do lucro e da produtividade a grupos empresariais fiéis à ideologia (industrias do petróleo, tabaco e sector alimentar). A tentativa de introdução do criacionismo nas escolas é um exemplo do primeiro mecanismo e o negacionismo do aquecimento global é um exemplo de tentativa de eliminação de obstáculos ao bom funcionamento do segundo. »

12 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Outra guerra dos cartoons?

Um grupo intitulado «Defending Denmark» infiltrou a juventude do partido Danish People’s Party para «documentar as suas associações de extrema-direita». Uma dessas documentações foi um vídeo filmado no campo de Verão da juventude partidária e mostrava um concurso de «desenho» em que os jovens se entretiveram a desenhar cartoons de Maomé, entre outros cartoons alusivos ao terrorismo islâmico.

O filme foi colocado no Youtube (agora retirado) e depois transmitido em dois canais da televisão dinamarquesa.

O primeiro ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que os excertos do vído transmitidos o foram não para «provocar os muçulmanos mas sim para ilustrar o assunto».

Esta explicação não obstou a que o Irão e a Irmandade Muçulmana, mais uma vez confundindo as acções de alguns com uma posição oficial, reagissem contra o sucedido ululando que os cartoons são insultuosos ao Islão e um grupo militante em Gaza ameaçasse os dinamarqueses que se encontram na Palestina. Os governos iraniano e indonésio exigiram explicações aos respectivos embaixadores dinamarqueses. A maioria dos deputados iranianos pediu ao presidente Ahmadinejad para suspender as relações diplomáticas com a Dinamarca.

Ontem a embaixada da Dinamarca em Teerão foi atacada com cocktails molotov e encontra-se temporariamente encerrada.

O governo dinamarquês, entretanto, avisou os seus cidadãos para não visitarem alguns países muçulmanos e espera o conteúdo das orações de sexta-feira para ver se o incidente vai acender outra guerra dos cartoons.

O ministro dos negócios estrangeiros, Per Stig Moller, afirmou numa conferência de imprensa que:

«Nós vamos esperar pelas orações de sexta-feira (no mundo muçulmano) e se nada acontecer talvez este assunto seja ultrapassado».

11 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

As religiões e a paz

As religiões seriam divertidas se não fossem perigosas. Só a fé leva a acreditar que um analfabeto – Maomé – escreveu um livro e uma virgem pariu filhos entre os quais, Jesus Cristo, que se tornou fundador de uma seita que os imperadores Constantino, Teodósio e Justiniano converteram, pela violência, em religião.

Nunca outras ideologias levaram tão longe o fanatismo e a intolerância como as crenças religiosas. Jamais os homens, na sua demência, foram capazes da crueldade que só Deus pode.

Hoje os xiitas e os sunitas matam-se e matam com a mesma desvairada fé com que os alienados cristãos partiam para as Cruzadas excitados pelas homilias de Urbano II.

Constantino, um patife que a ICAR se envergonha de canonizar, proclamou-se o 13.º apóstolo pelos autos de fé, perseguições, exílios forçados, assassinatos, destruição de edifícios pagãos e de bibliotecas com que criou o cristianismo. Das 27 versões dos Evangelhos encomendou a Eusébio de Cesareia um corpo homogéneo. Na primeira metade do século IV foram aprovados quatro.

Marwan, Governador de Medina, mais cauto, para defender a autoridade definitiva do Corão recolheu primeiro todas as versões do Corão e guardou uma única, queimando todas as outras, para evitar confrontações históricas e esconder o dedo humano que as criou.

Ainda hoje um bando de fanáticos vive das piedosas mentiras que os execráveis livros propalaram para desgraça da civilização e consumição da humanidade.

10 de Outubro, 2006 fburnay

A Razão e a Fé II: A Igreja e a Razão (cont.)

Logo à primeira oportunidade de dar liberdade ao pensamento, a religião instituída sofreu um enorme abalo. A racionalidade tinha trazido maus frutos à fé instituída, por duas razões. Por um lado porque existia agora não uma fé mas várias. A luta que assim se formou não se limitou ao belicismo mas também ao debate racional enquanto exercício da crítica. Por outro lado, a dinâmica de poder polarizou-se o que obviamente originou conflitos armados mas agora uma nova forma de interacção era valorizada – a diplomacia que foi, no fundo, a marca humanista nos negócios internacionais.

Uma das mais importantes ferramentas criadas na tentativa de manutenção da antiga ordem foi o Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como a Inquisição, fortalecida em 1542 por Paulo III a partir de órgãos da Igreja já existentes. A perseguição daquilo que era considerado heresia, recorrendo a confissões sob tortura, julgamentos e execuções públicas, a par da prática da censura, foi a tentativa de conservar a influência da Igreja e o seu sistema de pensamento.
Durante muito tempo, o sistema de valores da Europa manteve-se constante. Até ao séc. XIV vigoraram monarquias em regime feudal. Desde aí ao Renascimento começaram a aparecer os primeiros estados-nação, onde a economia predominantemente agrícola deu algum lugar a uma economia baseada no dinheiro e nas trocas comerciais. Em meados do séc. XVII, o sistema de organização das monarquias era considerado obsoleto, injusto e irracional. As pessoas estavam fartas dos abusos de monarcas absolutos, da intolerância religiosa e da falta de liberdade generalizada. Havia pão para uns e não para outros e a injustiça do sistema aristocrático era motivo de ressentimentos.

Os valores de igualdade do Iluminismo que então se espalhavam pelo velho continente ganharam aderência. A ideia de que a racionalidade deve guiar o homem na sua busca da felicidade, os valores do Individualismo como auto-determinação, os princípios de igualdade entre os homens foram as linhas que levaram à Revolução Francesa e à Revolução Americana.

Também publicado no Banqueiro Anarquista.

10 de Outubro, 2006 fburnay

A Razão e a Fé I: A Igreja e a Razão

A fé religiosa, ao contrário do que alguns religiosos nos querem fazer crer, é inassociável à Razão. A ideia peregrina de que a Razão não se opõe à Fé é constantemente publicitada – sempre por pessoas de fé e quase nunca por pessoas sem fé. Este enviesamento é curioso e é também curiosa a posição das religiões, nomeadamente a ICAR, ao promoverem essa ideia.

A oposição entre Fé e Razão tem duas componentes distintas. Uma componente histórica, relativa à dinâmica de poder da religião instituída e uma componente filosófica, independente do tempo e da geografia, que diz respeito à crítica da estrutura lógica e ontológica do teísmo. Estas duas perspectivas aparecem separadas a maior parte do tempo mas houve períodos na História da Europa em que interagiram.

O debate começa há milhares de anos e é provavelmente tão antigo como as próprias religiões. Ao contrário do que muitas vezes se apregoa, o ateísmo e o agnosticismo encontram expressão entre os primeiros filósofos gregos o que sugere que a ausência de fé é tão velha como a própria fé. A recusa da fé começa sempre no exercício do raciocínio e os argumentos ateístas e agnósticos são clássicos – tratam-se de argumentos refutativos transversais aos credos e cuja evolução se prende exclusivamente com a adaptação expressiva a credos emergentes e novas concepções do divino ou do sagrado.

Em termos históricos e no caso europeu, a problemática da Razão e da Fé começa com a escolástica e com a sua tentativa de forçar o acordo entre o saber clássico e a verdade revelada. O resultado dessa mistura foi a visão medieval peripatética ou neoplatónica que, imutável e absoluta, ocupou cerca de mil anos da História da Europa. Assim, desde Agostinho de Hipona até ao séc. XV, a Razão estava confinada ao que a classe religiosa determinava. Considerando-se que não podia haver contradições entre a revelação divina e o que a razão determina, sendo que essa revelação era sagrada e exprimia a Verdade, a Razão tinha claramente de se submeter à Fé nos pontos de atrito.

A História da Europa a partir daí até quase à contemporaneidade, nas suas grandes evoluções, envolve sempre de alguma forma o inverter gradual dessa ordem. E a inversão começa com o Renascimento. No fundo, o renascimento da dúvida depois de toda a Idade Média em que a autoridade dos clássicos não era questionada. A Reforma foi parte desse processo de dúvida, no caso a que me refiro em relação à autoridade papal e da Igreja. As Escrituras foram relidas e novamente interpretadas fazendo um uso do raciocínio individual que deu origem a leituras diferentes. As várias seitas que assim se formaram pela Europa fora, para mal da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), ganharam independência intelectual. Apesar de serem tempos conturbados e de ainda haver perseguição religiosa, um pouco no seguimento da tradição anterior, havia no entanto uma certa frescura no simples facto de haver agora mais liberdade de pensamento. Enquanto a Igreja se ocupava de contrariar essa tendência, tão negativa para o seu poder, as pessoas começavam a recuperar os clássicos. A Igreja perdeu com isso. Veio a perder a Inglaterra e parte dos estados do continente. Na origem dessa infame dissidência esteve, no fundo, a liberdade de pensamento.

Também publicado no Banqueiro Anarquista.

10 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Objecção de consciência

A intolerância, que mais uma vez recordo ser apenas a atitude de não admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adoptada por si mesmo, é indissociável das religiões e dos crentes que seguem estritamente o preconizado por essas religiões.

A nossa sociedade, assente na tolerância e no pluralismo, isto é, no respeito dos direitos humanos que incluem o direito à diferença, é assim intrinsecamente incompatível com o fundamentalismo religioso.

De todos os cantos do mundo nos chegam exemplos da intolerância religiosa, que nos deveriam fazer reflectir e despertar da complacência em relação às religiões, todas elas, e perceber que a única forma de combater o perigo que o fundamentalismo religioso constitui é a defesa intransigente da laicidade. Não temos qualquer legitimidade para condenar os excessos dos fundamentalistas de uma religião se assobiamos para o lado em relação aos excessos dos representantes de outras.

Todos, e não apenas os islâmicos, têm de perceber que no nosso modelo de sociedade não são admitidas manifestações públicas da intolerância das religiões respectivas. O nosso modelo de sociedade assenta no respeito pelo outro não no respeito pelas ideias do outro. Aliás, foi e é construído no debate livre de ideias. A imposição aos outros dos anacrónicos, discriminadores e, em muitos casos, criminosos preconceitos religiosos é anátema para esse modelo de sociedade!

Um exemplo de intolerância religiosa que deveria ser firmamente combatida ocorreu recentemente em França, em que uma adolescente foi apedrejada por colegas no recreio da escola Jean Mermoz em Lyon por ter violado o jejum do Ramadão. Quase tão sintomático como o apedrejamento foi a reacção de Azzedine Gaci, presidente do CRCM (Regional Council for the Muslim Religion) que deplorou a reacção dos alunos, que considerou devida à sua ignorância do Corão – e aproveitou para lançar a farpa de que este deveria ser ensinado na escola.

A deplorada ignorância do Corão não se refere ao facto de este livro «sagrado» pregar a tolerância. Na realidade, todos os livros ditos «sagrados» pregam a observação estrita dos seus anacronismos, isto é, pregam a intolerância de quem não os siga. A ignorância do Corão lamentada refere-se ao facto de que este prevê que as mulheres «que não se sentirem bem», um eufemismo para a menstruação, estão dispensadas do cumprimento do jejum.

Outro exemplo de intolerância islâmica contra a qual medidas firmes deveriam ser imediatemente tomadas está a surgir um pouco por todo o globo e tem a ver com o facto de que os motoristas de táxi muçulmanos se recusam a transportar os infiéis que violam as leis islâmicas. Nomeadamente invisuais acompanhados por «sujos» cães guia ou passageiros que transportem álcool, mesmo em garrafas seladas.

Este exemplo levanta uma questão delicada: se é certo que não podemos tolerar este tipo de comportamento dos motoristas de táxi, especialmente em relação aos invisuais que dependem do transporte público na sua vida profissional e pessoal, em que é que este difere da chamada «objecção de consciência» permitida aos profissionais de saúde cristãos em relação à saúde reprodutiva?

«Objecção» dita de consciência que reflecte apenas preconceitos religiosos e que não se restringe ao aborto terapêutico ou em caso de violação, as condições previstas na limitada lei que temos. Manifesta-se em muitos ginecologistas que se recusam a prescrever ou aconselhar o DIU (na realidade dão informações erradas sobre o dispositivo); manifesta-se na mutilação desnecessária de mulheres no caso de gravidez ectópica, manifesta-se no «sermão» que acompanha a venda da pílula do dia seguinte (que em muitas farmácias nacionais, dirigidas por farmacêuticos católicos, nem sequer é disponibilizada, assim como não é disponibilizado o DIU), manifesta-se na objecção à fertilização medicamente assistida, etc..

Os motoristas de táxi que se recusam a transportar invisuais acompanhados por cães guia também «desejam exercer a sua profissão à luz dos princípios evangélicos» da religião respectiva e reger o trabalho pelo seu equivalente da «luz do valor de Cristo e do Evangelho» . Porque razão devemos penalizá-los por aquilo a que os católicos cá no burgo chamam coerência ou fidelidade à fé respectiva (e na Austrália pelo menos foram retiradas cerca de 200 carteiras profissionais a estes motoristas «coerentes com a fé»), assim como a Testemunhas de Jeová que desejem ser profissionais de saúde, e não devemos penalizar médicos e farmacêuticos católicos que se recusam a cumprir a lei vigente nos países respectivos?

Ninguém deve transportar para o espaço público os preconceitos e aberrações das respectivas religiões. O que fazem na esfera privada, desde que no cumprimento das leis vigentes nos países em que se encontrem, é uma questão de consciência individual. Mas a consciência colectiva das nossas sociedades tem necessariamente de ser completamente dissociada da religião. E especialmente o Direito não só não pode reflectir essas aberrações como deve penalizar de forma inequívoca as manifestações públicas da intolerância concomitante.

O direito à liberdade religiosa não pode ser confundido com o direito à intolerância religiosa. E esse é o ponto fulcral que precisamos urgentemente que os crentes em qualquer religião, não apenas a islâmica, entendam!

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9 de Outubro, 2006 lrodrigues

Deliver Us From Evil

No próximo dia 13 de Outubro vai estrear nos Estados Unidos o documentário «Deliver Us From Evil».
Espero bem que seja em breve também exibido em Portugal.

«Deliver Us From Evil», ou «Livrai-nos do Mal», é na realidade o título adequado para este documentário.
É a história do padre Oliver O?Grady, o mais famoso pedófilo da história da moderna Igreja Católica.

Completamente desprovido de sentido de moral ou de qualquer sentimento de vergonha ou culpa, o padre O?Grady usou o seu carisma e autoridade para violar dezenas de fiéis famílias católicas por todo o Nordeste da Califórnia durante mais de vinte anos.

As suas vítimas vão desde um bebé de 9 meses (!) até a uma senhora de meia-idade, por sua vez mãe de um adolescente também por si violado.

Apesar de repetidos avisos e denúncias, a Igreja Católica conseguiu construir à volta de Oliver O?Grady uma protectora teia de mentiras que iludiu todas as críticas e o protegeu de quaisquer responsabilidades legais.
Documentos da própria Igreja Católica demonstram que desde 1973 o padre Oliver O?Grady violou e sodomizou impunemente um incontável número de crianças, com total e perfeito conhecimento dos seus superiores e das autoridades eclesiásticas católicas.

Enquanto isso, essas mesmas as autoridades eclesiásticas, com especial relevo para o Cardeal de Los Angeles, Roger Mahony, limitavam-se depois de cada escândalo a transferi-lo sucessivamente de paróquia para paróquia.
Apesar de em cada nova paróquia O?Grady uma vez mais começar tudo de novo.

Aliás, é sabido que a só Igreja Católica americana já gastou mais de mil milhões de dólares em acordos indemnizatórios extra-judiciais com vítimas de abusos sexuais para abafar os escândalos e proteger os padres envolvidos.

A autora deste notável documentário, Amy Berg, conseguiu localizar o padre Oliver O?Grady e persuadi-lo mesmo a participar nas filmagens.
O seu relato dos anos que passou nas diversas paróquias da Califórnia é arrepiante, e desprovido de qualquer remorso ou arrependimento.
Mesmo quando confessa abertamente aquilo a que chama «uma irresistível atracção sexual por crianças pequenas, mesmo bebés de poucos meses» e admite abertamente ter usado o ascendente moral que como padre tinha sobre as crianças das sucessivas paróquias por onde passava para depois as violar.

Eis um pequeno filme de uma entrevista com a autora e realizadora do documentário:

Mais perturbadora será talvez a frieza com que o padre Oliver O?Grady calmamente declara que tem a consciência tranquila, e como se considera completamente perdoado pelos seus pecados uma vez que… os confessou já a um padre seu colega.

Resta dizer que ao fim de quase 30 anos de abusos e violações o Padre Oliver O?Grady foi preso e julgado pela justiça americana, e condenado a 14 anos de cadeia.
Depois de cumprir 7 anos dessa sentença foi libertado.
A Igreja Católica Apostólica Romana não o abandonou nesta sua desventura: transferiu-o para a sua Irlanda natal, onde agora uma vez mais apascenta em paz um novo rebanho.
De que obviamente fazem parte crianças de todas as idades…


Clique sobre a imagem à direita ->

para aceder ao site e ver um pequeno “trailer” do documentário que nos relata a mais obscura faceta deste nobre mensageiro de Deus, e nos desvenda que tipo de instituição é na realidade a Igreja Católica Apostólica Romana.

A que tanta gente ainda se arroga orgulhosamente de pertencer…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)