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Mês: Outubro 2006

21 de Outubro, 2006 jvasco

Ciência e naturalismo, parte 2

Ao meu outro post sobre esta matéria um leitor comentou: «o objecto de estudo para poder ser alvo de uma abordagem científica […] tem que ser material, concreto, ou seja natural». Este comentário merece consideração porque me parece exprimir uma opinião muito comum, e porque me parece estar parcialmente certo.

Mas vou começar pelo que penso estar errado. Por um lado, o objecto da ciência não tem que ser material. A velocidade não é material. A energia também não. O principio de incerteza de Heisenberg, a selecção natural, o conceito biológico de espécie, a cinética duma reacção química, entre muitos outros exemplos, mostram que a ciência aborda muito mais que apenas a matéria. Alguns obstarão que estes não são os objectos da ciência, que são apenas as hipóteses e teorias que a compõem. Mas não podemos distinguir as hipóteses dos objectos da ciência, pois quando estudamos algo estudamos sempre observações e hipóteses. Quando estudamos a gravidade, podemos ter uma hipótese materialista que diz que a gravidade é mediada pela troca de partículas de matéria. Mas podemos igualmente ter uma hipótese não materialista, que diz que a gravidade é uma distorção na geometria do espaço-tempo. O objecto de estudo não pode ser uma gravidade desligada daquilo que propomos como hipóteses, e todos os conceitos científicos, materialistas ou não, são também objecto da ciência.

Por outro lado, o objecto da ciência não tem que ser natural. Natural e sobrenatural são categorias arbitrárias e irrelevantes para o estudo de qualquer fenómeno. Um exemplo concreto: até ao século XIX, pedras caírem do céu era considerado um fenómeno sobrenatural, relatado em mitos e lendas religiosas, mas rejeitado pela comunidade cientifica como uma violação das leis da natureza. Mas em poucas décadas revelou-se ser um fenómeno perfeitamente natural. O que mudou? Apenas a ideia do que era ou não permitido pelas leis da natureza.

Hoje em dia já nem falamos de leis científicas. No último século a comunidade científica ganhou alguma da modéstia que lhe faltava na época Vitoriana, e sabemos que tudo o que propomos como limites ao natural não passa de teorias sujeitas a revogação, e rotular um fenómeno de ?sobrenatural? não o coloca fora do alcance da ciência.

Finalmente, temos o requisito que o objecto de estudo científico seja concreto. Concordo. A hipótese que «Ah, e tal… deve ser assim tipo uma cena qualquer» não pode ser objecto de estudo científico. Deuses, demónios, milagres e afins muitas vezes não podem ser estudados cientificamente porque os termos são indefinidos. A hipótese que um deus pode acelerar um tomate a uma velocidade superior à da luz é uma hipótese suficientemente concreta para ser científica. A ciência moderna diz-nos para a rejeitar, pois tanto quanto sabemos é impossível acelerar um tomate a uma velocidade superior à da luz. Mas a hipótese que um deus pode violar as leis da física não é uma hipótese científica porque é um disparate. Esta hipótese não escapa à ciência por ser imaterial ou sobrenatural, mas simplesmente porque é uma contradição: «leis da física» designa o que não pode ser violado, nem pelo Zé da esquina nem pelos deuses.

Qualquer hipótese que propõe algo observável pode ser abordada cientificamente, seja sobre entidades naturais, sobrenaturais, materiais ou imateriais. Para escapar à ciência tem que ser impossível determinar a sua verdade, ou por ser uma hipótese acerca do que não é observável (o unicórnio invisível cor de rosa) ou por não fazer sentido (a santíssima trindade).

——————————–[Ludwig Krippahl]

20 de Outubro, 2006 jvasco

Ciência e Naturalismo

«Incomoda-me a ideia que a ciência tem que ser naturalista, e que por isso não pode sequer considerar qualquer explicação que não seja natural. Incomoda-me especialmente por vir esta ideia quer dos que se opõem à ciência quer de alguns que deviam compreender melhor a abordagem científica.

Vamos supor que queremos melhorar as colheitas, e que consideramos duas hipóteses. Uma, naturalista, diz que devemos irrigar os campos e usar fertilizante. A outra diz que devemos propiciar os deuses para que providenciem uma colheita abundante. Há uma forma clara de determinar a melhor hipótese: irrigamos e fertilizamos metade das plantações, e na outra metade sacrificamos vacas, rezamos, ou seja o que for que a segunda hipótese indique como propiciando melhor os deuses. No final medimos quanto foi produzido e já sabemos o que funciona melhor.

O método é o mesmo, e é o Universo que determina a melhor alternativa. É pelo Universo ser como é que nós irrigamos os campos em vez de sacrificar vacas, ou levamos o carro avariado ao mecânico em vez de o levar à igreja. A ciência diz-nos que é melhor fazê-lo desta maneira, mas se fosse melhor fazer da outra, também era a ciência que o iria mostrar pela comparação dos resultados.

O problema com o sobrenatural não é ter deuses, demónios, espíritos ou essas coisas que as pessoas inventam. O problema é que, normalmente, uma hipótese sobrenatural não diz nada. Um deus omnipotente que nunca actua quando está a ser testado não pode ser testado cientificamente. Mas não é por causa do naturalismo; um fertilizante químico que nunca actua quando estamos a tentar observá-lo é igualmente impossível de testar. As coisas que a ciência não pode testar são apenas as coisas que não podem ser testadas, ponto final. Chamar-lhes naturais ou sobrenaturais é irrelevante.

Isto para a ciência como método. A ciência como o corpo de conhecimento científico põe de parte espíritos, deuses, e essas coisas que se diz serem sobrenaturais (mas por que é que um deus não pode ser um deus natural?). Mas estes foram excluídos simplesmente porque parecem não existir, e não por limitação do método. A ciência é bem capaz de excluir o Pai Natal, os unicórnios, e as fadas madrinhas, sejam estes naturais ou sobrenaturais.

E se vivêssemos num Universo diferente a ciência poderia dar-nos faculdades de ciência teológica, engenheira dos espíritos, tecnologia da oração, demonologia aplicada, e o que mais fosse. Se os deuses e espíritos existissem e interagissem connosco, não poderíamos ficar pelo primeiro livro sagrado que nos impingissem. Teríamos que comparar diferentes religiões, testar os profetas, confrontar estas hipóteses de forma a encontrar a verdadeira religião. Tudo isso seria ciência.

Em suma, a ciência não está limitada ao natural. O Universo é que veio sem acessórios sobrenaturais, e a ciência apenas nos diz que é assim que as coisas são.»

——————————–[Ludwig Krippahl]

20 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

Dar o tom, tocar a música, coreografar a dança

A Conferência Episcopal Portuguesa, do alto da sua conhecida experiência e saber em matérias científicas, médicas, contraceptivas e sexuais, publicou uma nota pastoral sobre a despenalização da IVG poucos minutos depois da aprovação do referendo na Assembleia da República.

A estratégia da ICAR é conhecida e já resultou uma vez: começa-se por negar que a despenalização do aborto seja uma questão política (como se a legislação criminal e penal não fosse coutada dos parlamentos democráticos), com o argumento de que se trata de «moral natural» (a «moral natural» é tão «natural» como as «lei naturais», os «tribunais naturais», as «prisões naturais», os «impostos naturais» e os «hospitais naturais»). Sugere-se em seguida que os partidos e as «correntes de opinião» não devem interferir na votação (tentando deslegitimar a laica autonomia do poder político)… O objectivo, claríssimo, é transportar um assunto político e jurídico para o campo ético onde o peso da religião tradicional espera poder influenciar decisivamente as consciências. Acrescenta-se ainda, na nota pastoral, que «a vida não é referendável», como se a ideia de referendar a IVG não tivesse partido, originalmente, de dois católicos desagradados com o resultado de uma votação parlamentar. Garante-se que os bispos não participarão em qualquer «campanha de tipo político», mas ameaça-se que «esclarecerão consciências» (haverá diferença prática?). E finalmente alude-se «ao dinheiro de todos os cidadãos» e repete-se que a «a lei actual (já) é permissiva». Em resumo: não se cede um milímetro.

A resposta aos senhores bispos e aos que dançarão a sua música deve ser clara: as leis de uma República democrática são decididas pelos cidadãos e pelos seus representantes. A República é independente das igrejas e as «leis divinas» (agora alcunhadas de «naturais») só podem obrigar os crentes, e apenas enquanto não contradisserem as leis do Estado. Este referendo é sobre leis humanas.

20 de Outubro, 2006 lrodrigues

Um Problema Conjuntural


«Não só os homossexuais mas também aqueles que os toleram são merecedores da morte»

– Bíblia: Romanos 1:32

«O acto homossexual deve ser punido com a morte».

– Bíblia: levítico 20:13

Moral da história:

A homossexualidade é uma doença incurável que não pode ser tolerada por nenhum bom cristão e deve ser punida com a morte;

A pedofilia é um problema conjuntural que se resolve mudando o padre de freguesia.

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

19 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

Aprovado o referendo sobre a despenalização do aborto

Uma proposta de referendo sobre a interrupção voluntária de gravidez foi hoje aprovada na Assembleia da República com os votos a favor do PS, do PSD e do BE, a abstenção do CDS e os votos contra do PCP e do PEV. As deputadas católicas fundamentalistas da bancada do PS dividiram-se entre a abstenção (Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda), e o voto contra (Matilde Sousa Franco). Na bancada do PSD, Ribeiro Cristóvão absteve-se e Quartim Graça votou contra.

A pergunta será: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».

O possível referendo depende ainda da promulgação do presidente da República.

19 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Anedota do Ano: o CDS e o obscurantismo

Retractação de Galileu ao Santo Ofício

Ribeiro e Castro afirmou que «é o CDS que conduz verdadeiramente a batalha contra o obscurantismo».

Esta declaração bombástica insere-se na campanha pelo «Não» no próximo referendo sobre o aborto, em que o dirigente do CDS-PP, reclamando conhecimento (divinamente inspirado) sobre as origens da vida, proclamou os democratas-cristãos paladinos intransigentes da «criança por nascer» já que «existem cada vez mais evidências de que há vida desde a concepção» .

Na realidade, há vida antes da concepção e, para ser coerente com os valores cristãos que diz defender, Ribeiro e Castro deveria emular outro devoto cristão, o intransigente defensor da vida não nascida G. W. Bush, que há uns meses debitou directivas federais que ordenam serem tratadas nos sistemas de saúde como pré-grávidas todas as mulheres em idade fértil. Isto é, todas as mulheres devem deixar-se de relativismos ateus e assumir o seu papel «divinamente» predestinado de meras parideiras sem quaisquer direitos!

Vindo do dirigente máximo do partido que alberga os grandes defensores do ensino do criacionismo da nossa praça esta surpreendente declaração de luta contra o obscurantismo por parte de Ribeiro e Castro só pode ser entendida como anedota ( e de muito mau gosto)!

Aliás, basta olhar para o panorama mundial da legislação sobre o aborto para se confirmar que este não constitui crime apenas em países em que o obscurantismo está instalado, países cientifica e tecnologicamente atrasados, como a Inglaterra, Alemanha, países escandinavos, etc..

Resta saber se Ribeiro e Castro assume de facto a coerência com os valores cristãos que reclama e exige a pena máxima para o único crime imperdoável* à luz da doutrina cristã.

De facto, tirando rebeldias cismáticas, apenas o aborto é agraciado com excomunhão automática: assassinos e violadores de crianças podem sempre ser perdoados; quem aborta ou quem faz abortos, em quaisquer circunstâncias e seja qual for o motivo, mesmo salvar a vida da mulher, não merece perdão.

Para a Igreja Católica, o aborto constitui sempre «um ataque à vida humana» – subentendendo-se que para a ICAR a mulher é um sub-humano sem quaisquer direitos, sequer o direito a legítima defesa. Como confirmado, por exemplo, pelas declarações do responsável do Conselho Pontifical da Família em relação à recente alteração na legislação da Colômbia, que permite o aborto em caso de violação, malformações fatais do embrião/feto e quando a vida da gestante está em perigo.

Como já escrevi, no cerne da questão do aborto, assim como na questão da investigação em células estaminais ou na clonagem terapêutica em que a argumentação da Igreja é exactamente a mesma, reside simplesmente a questão: têm direito incondicional à vida uma célula estaminal toti ou pluripotente, um óvulo fertilizado e um embrião?

Se os democratas-cristãos, assim como a delegação nacional da Igreja de Roma que já confirmou ser o aborto apenas uma questão religiosa, atribuem a um embrião até 10 semanas o estatuto ético e legal de uma pessoa, então é uma hipocrisia total não pedir pena máxima para quem esteja envolvido no que só podem considerar ser um crime de homicídio!

Não faz sentido afirmar que não se pretende mandar para a cadeia as mulheres que abortam se se considera que elas estão a cometer um crime tão abominável. Apenas faz sentido se admitirmos que o que se pretende criminalizar não é o aborto mas sim a prática de sexo sem intuito reprodutivo. Ou seja, as mulheres que se atrevem a tal pecado e se veêm a braços com uma gravidez indesejada devem estar sujeitas a uma mui democrata e cristã punição: se não prisão pelo menos humilhação pública e/ou risco de vida!

* A Igreja considera o aborto provocado, mesmo em caso de perigo grave da vida da grávida, um pecado gravíssimo. Impõe a excomunhão automática, excomunhão latae sententiae, a todos os que tomam parte nele, consciente e voluntariamente (para além da mulher, familiares, médicos, farmacêuticos, enfermeiras, parteiras, etc.) – Código do Direito Canónico, Canon 1398.

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19 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Dawkins no Colbert Report


Mais uma entrevista brilhante de Richard Dawkins, desta vez no Colbert Report com Steve Colbert,ou antes Dr. Stephen Tyrone Colbert III, DFA.

Gosto da parte em que Dawkins afirma: «Vocês são ateístas em relação a todos os deuses em que não acreditam, eu apenas acrescento um deus mais». E é de uma simplicidade desarmante a pergunta com que Dawkins desmonta os argumentos do personagem de Colbert de que a explicação mais simples para a origem da vida é «deus simplesmente criou-nos»: «E quem criou Deus?»

18 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Terrorismo islâmico, blogs e telenovelas

I am born – a man chooses my name,
I am taught – to appreciate that he did not bury me alive,
I learn – what he wants me to know,
I marry – who he wants me to marry,
I eat – what he wants me to eat,
If he dies – another man controls my life
A father, a brother, a husband, a son, a man

Excerto do poema «Rantings of an Arabian Woman» da blogger saudita Mystique.

O director sírio Najdat Anzur, que dirigiu a série Al-Mariqun (Os renegados), a passar no Ramadão por algumas emissoras árabes, pretende com esta telenovela de 10 episódios tripartidos fazer passar a mensagem aos seus telespectores de que o Islão é uma religião de tolerância e diálogo. O terrorismo de inspiração religiosa é apresentado como uma ameaça global não só para não muçulmanos como para muçulmanos.

Anzur, que realizou no ano passado outra telenovela «didáctica» transmitida por algumas estações árabes durante o Ramadão, Al-Hur al-Ayn, recebeu várias ameaças de morte por parte de um grupo militante que ameaçou assassinar todos os envolvidos na produção de programas que tratem da militância islâmica assim como funcionários das estações que os transmitam.

Outra série, Preachers at the Gates of Hell, transmitida pela Abu Dhabi, dos Emirados Árabes Unidos, trata o mesmo problema, o terrorismo islâmico, com outra abordagem, neste caso mostrando como são angariados e sujeitos a lavagem cerebral os futuros terroristas en nome de Allah.

Mais sinais de mudança – e esperança – encontram-se na blogoesfera, que explode um pouco por todo o mundo árabe, e que, apesar das tentativas de repressão por parte das autoridades, é a melhor forma de criticar não só o fundamentalismo islâmico como os regimes ditatoriais ou pelo menos autoritários instalados na maioria dos respectivos países. Explosão de bloggers que se verifica mesmo em países como a Arábia Saudita.

18 de Outubro, 2006 lrodrigues

Descubra as Diferenças

Que diferenças existirão verdadeiramente entre as religiões?
Até que ponto os princípios filosóficos se distinguirão nas diferentes religiões de todo o mundo?

Serão semelhantes ou distintas as mensagens que o Deus de cada uma das religiões transmitiu aos seus fiéis, e que todos seguem em busca do respectivo Paraíso?
Até que ponto serão diferentes o Deus dos católicos do Deus dos muçulmanos?

Por outras palavras, será que um católico e um muçulmano, enquanto pessoas religiosas e de fé, são de facto diferentes um do outro?

Respiguemos então ao acaso algumas citações da Bíblia e do Corão, afinal os livros sagrados das duas religiões, a que os respectivos fiéis obedecem como sendo a verdadeira palavra de Deus transmitida aos Homens, e que seguem como constituindo os princípios éticos que os regem em cada momento da sua vida.

Afinal, o que os distinguirá?
Vejamos:

«Fazei-lhes a guerra até que a idolatria cesse e a religião de Alá reine de forma suprema»
– Corão: 8:39
«…matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos»
– Bíblia: Samuel, 15:3

«Massacrem os idólatras onde quer que eles estejam… façam emboscadas em todos os lugares em busca deles»
– Corão: 9:5
«E a minha ira se acenderá, e vos matarei à espada»
– Bíblia: Êxodo, 22:24

«A todos os que massacram em nome de Alá, Ele não permitirá que as suas obras se desvaneçam… Ele admiti-los-á no Paraíso e revelar-se-á a eles».
– Corão: 47:8
«E pelejaram contra os medianitas, como o Senhor ordenara a Moisés, e mataram a todos os homens»
– Bíblia: Números, 31:7

Serão, pois, assim tantas as diferenças entre as duas religiões?
Será que um católico se sente assim tão diferente de um muçulmano?

Mas para qualquer católico que se preze, convencido que estará que a sua religião prega o amor e a paz entre os Homens, mas que ainda tenha dificuldade em responder a estas perguntas, não haverá nada melhor do que saber até que ponto o seu Deus deixou bem claro quais os verdadeiros fundamentos do cristianismo.

É que na Bíblia (Mateus 10:34) Jesus Cristo, isto é, o próprio Deus, transmitiu-nos de facto e de forma clara e inequívoca, e até em discurso directo para que não houvesse confusões, quais os fundamentos e os princípios éticos e filosóficos do cristianismo quando nos disse:
– «Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada».

Será que é preciso dizer mais alguma coisa?
Vindas do próprio Deus dos católicos, estas palavras são, de facto, absolutamente esclarecedoras!…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

17 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Democratas Liberais exigem demissão de Ruth Kelly

A expressiva derrota dos trabalhistas nas eleições locais britânicas induziu uma remodelação do executivo de Tony Blair em que a Opus Dei Ruth Kelly, a anterior ministra da Educação, assumiu a pasta da Igualdade e da Mulher, ou como noticiou na época o The Times, a pasta da Hipocrisia.

De facto, é completamente absurdo escolher para uma pasta, que supostamente deveria assegurar a igualdade de direitos a todos os cidadãos britânicos, independentemente das suas escolhas pessoais, um membro desta seita fundamentalista, que considera a homossexualidade uma «depravação grave», «um mal intrínseco», mas também um pecado que todo o político católico, especialmente se membro da Opus Dei, tem por obrigação combater.

Absurdo que se revela na forma como Ruth Kelly tem empastelado uma lei que deveria ter entrado em vigor já este mês – a Sexual Orientation (Provision of Goods and Services) Regulations – que penaliza a homofobia, nomeadamente a recusa de prestação de serviços a homossexuais.

Esta lei, que Kelly encontrou quasi pronta quando assumiu a pasta, tem sido contestada por organizações religiosas, que afirmam que ser a discriminação de homossexuais algo tão intrinsecamente cristão que a lei viola a liberdade religiosa dos crentes que seriam assim penalizados por exprimir publicamente a ética cristã. Ou antes, como ululou Don Horrocks da Aliança Evangélica, que resumiu os sentimentos da comunidade cristã inglesa: «Os homossexuais têm direitos, mas as pessoas religiosas também os têm e potencialmente são incompatíveis».

Kelly pretende que a nova lei não se aplique a organizações religiosas e que estas possam continuar a discriminar homossexuais. Como carpiu Rupert Kaye, presidente da Associação de Professores Cristãos, «As escolas religiosas não podem nem devem ser obrigadas legalmente a respeitar indíviduos ou organizações cujas crenças ou estilos de vida são anátema para os cristãos».

Os preconceitos religiosos de Kelly sobre a homossexualidade, partilhados pelos colegas de governo que pertencem à tendência católica do governo britânico e na origem de uma luta interna dentro deste, traduziram-se num adiamento de pelo menos seis meses na entrada da lei no Parlamento para discussão e numa adulteração, que muitos consideram inaceitável, da proposta inicial do seu antecessor no cargo, Alan Johnson, da ala liberal, isto é, não católica, do governo de Blair.

O adiamento e as alterações à lei levaram os Democratas Liberais a exigir a demissão de Kelly de uma pasta totalmente incompatível com as suas convicções religiosas. Esperemos que Tony Blair reconheça essa incompatibilidade, que devia ser óbvia para todos!