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Cubo da Apple ofensivo ao Islão


De acordo com o The Middle East Media Research Institute, um grupo islâmico afirmou ser a nova loja da Apple na Quinta Avenida, a que muitos chamam a Meca da Apple, uma blasfémia e um insulto ao Islão. O grupo urge os fiéis a espalharem este alerta na esperança de que «os muçulmanos possam parar este projecto».

Na realidade, o edíficio, em operação desde Maio último – isto é, há muito que não é possível parar o projecto – não se chama a Meca da Apple e não serve bebidas alcoólicas como pretende o tal grupo ultrajado por a Apple, ou mais concretamente Steve Jobs, ter esta preferência pelo cubo como o indica o NeXT Cube ou Power Mac G4 Cube.

É certo que a missão do MEMRI é exactamente apresentar material encontrado em sites islâmicos, traduzido directamente das fontes, que de outra forma passaria despercebido. Missão que de acordo com declarações ao Washington Times de Ibrahim Hooper, do conselho das relações Americano-Islâmicas, se traduz em encontrar «as piores citações possíveis do mundo islâmico e disseminá-las tanto quanto possível».

Mas o mero facto de um grupo islâmico se sentir no direito de pedir que seja parado um projecto apenas porque este é referido informalmente como Meca e por acaso foi escolhida uma arquitectura cúbica na sua construção é profundamente rídiculo! Como são profundamente rídiculas, para além de atentórias dos direitos humanos, todas as ululações de blasfémia e insulto às respectivas religiões com que os fanáticos de todas as cores e credos nos têm mimoseado neste início de século!

De facto, os últimos tempos têm sido fertéis em manifestações de ultraje por parte dos representantes mais fundamentalistas de todas as religiões, não apenas a islâmica. A conjunctura actual e a contemporização das autoridades internacionais em relação às reinvidicações rídiculas dos fanáticos de todas as religiões permitem prever que este estado de ultraje se vai perpetuar e acentuar se não for inequivocamente demonstrado que não se aceitam atropelos aos valores que regem as nossas sociedades.

Especialmente agora que a Assembleia Geral das Nações Unidas exortou os estados membro à criação de leis punindo a «blasfémia» via a moção que defende a tomada de medidas contra «a difamação das religiões».

Considerando que tudo e mais umas botas, especialmente a mera existência de ateus e daqueles que não aceitam ser regidos pelas patetadas debitadas como «valores radicados na natureza mesma do ser humano», são tidos como ofensas inadmíssiveis para os fanáticos em nome do seu Deus, os próximos tempos, previsivelmente abundantes em ululações sortidas de ultraje por «ofensas» absolutamente ridículas, vão ser um teste à Declaração Universal dos Direitos do Homem, ou seja, aos valores civilizacionais que supostamente se pretende defender com esta contemporização com os dislates religiosos.

Na realidade, o facto de que os fanáticos de todas as religiões manifestam estridente e muitas vezes violentamente o seu ultraje pelos motivos mais imbecis – invariantemente por não serem impostas a todos as inúmeras proibições indissociáveis das religiões – leva a esta contemporização com as palermices religiosas por parte dos responsáveis políticos dos respectivos países. Responsáveis políticos que sabem serem os ateístas e laicistas francamente mais pacíficos e civilizados nas suas manifestações de repúdio às consequentes violações flagrantes das leis que regem os nossos estados, supostos laicos e assentes no respeito dos direitos humanos.

Para além disso, os crentes «moderados» a que eu chamo civilizados, isto é, que foram permeados pelos valores civilizacionais preconizados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, confundem fanatismo e fundamentalismo com convicção ou coerência religiosas. Como perorava – contra a laicidade e o oxímero «fanatismo laico» – o nosso cavaleiro da pérola redonda, JC das Neves, os «fanáticos religiosos são desequilibrados mas fiéis à sua fé».

Os católicos que apontam a ausência de vozes moderadas do Islão a condenar a intolerância dos seus congéneres na fé mais fundamentalistas deveriam reflectir no facto de que são os primeiros a desculpar com o fervor da fé as manifestações de intolerância e fundamentalismo dos membros do rebanho a que pertencem e a indignar-se com quem os critica.

Para mim não há qualquer diferença entre o ridículo da «ofensa» que dá título ao post e das muitas ofensas ululadas por cristãos nos últimos tempos: contra o Código da Vinci, contra o último disco dos Slayer, contra a peça Me Cago en Dios, contra «rock blasfemo», contra a série da MTV Popetown, alguns episódios de Southpark, representações «blasfemas» de um motivo de da Vinci utilizado na Capela Sistina, contra o programa «Jerry Springer – The Opera», contra obras de arte e publicidade sortidas, enfim, contra tudo e contra todos os que não seguem estritamente as imbecilidades cristãs!

Infelizmente, a maioria dos cristãos em geral e dos católicos em particular, mesmo os civilizados, reconhece como cretinas e insurge-se contra as reinvidicações imbecis dos fundamentalistas de outras religiões mas «compreende» as motivações quando os «ofendidos» que se manifestam são católicos.

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