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Mês: Setembro 2006

5 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Abaixo o proselitismo

No dia em que a clericanalha deixar de baptizar crianças de fralda, doutrinar crianças em idade escolar e atormentar velhos em fase terminal, deixo de denunciar as mentiras e crimes das religiões.

Quando, em vez de curarem paralíticos e cancerosos, os cadáveres apodrecidos do catolicismo fizerem crescer membros amputados e crescer o cabelo aos calvos, calo o ridículo da ICAR e os escândalos dos seus padres.

Se um Papa se revelar uma pessoa de bem e deixar de interferir na política dos países democráticos, deixo de denunciar o antro do Vaticano e os crimes que aí se cometem.

Se o dinheiro pilhado aos pobres e o ouro deixado cair nos santuários, por multidões de infelizes e desesperados, for posto ao serviço dos milhões de refugiados, deixo de apontar a cupidez e o luxo dos bazares da fé e de me indignar com os tesouros reunidos no Vaticano.

Quando a clericanalha deixar de aterrorizar crentes com o castigo eterno, as fogueiras perpétuas, o choro e ranger de dentes para quem seja avesso ao incenso e sofra náuseas com a hóstia, abandono o Diário Ateísta e dedico-me a outras causas.

Mas, enquanto os prelados exibirem anelões e passearem as mitras, os mullahs apelarem ao ódio e ao martírio e os rabis clamarem que são donos da Palestina, farei minhas as palavras dessa grande mulher e escritora, George Sand:

«Há cinquenta anos que trago em mim uma maldição que hei-de repetir até à hora derradeira, maldita, maldita, três vezes maldita seja a intromissão dos padres na família».

5 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a negação do evolucionismo II

Para os crentes mais esclarecidos, a linguagem escolhida para negar o evolucionismo é outra, lembra a de Philip E. Jonhson, um dos pais da IDiotia, que afirmou ««Ser um cientista não é necessariamente uma vantagem, quando lidamos com um tópico tão abrangente como a evolução, que se entrelaça com muitas disciplinas científicas e também envolve os toques da filosofia»

Também o Vaticano recorre à «filosofia», isto é, à pseudo-filosofia que dá pelo nome de teologia, para tentar reconciliar esses crentes. Ou seja, como filosofia normalmente não é tema em que sejam fluentes aqueles que têm uma educação mais científica, aquilo que vemos delineado na imprensa é uma apresentação da IDiotia como filosofia da natureza, philosophia naturalis (um termo que designa o estudo objectivo da natureza e do mundo físico, isto é, outro nome para ciência) pelo que, sem se perceber bem como, «os cientistas estão a ultrapassar os limites da ciência» explicando a origem das espécies a partir de um ancestral comum com o ateu evolucionismo, como afirma o padre jesuíta Joseph Fessio, que participou do encontro.

Assim, Fessio afirma que «os neodarwinistas [aka evolucionistas] que negam Deus tiram uma conclusão ideológica que não é comprovada pela teoria». O que é igualmente absolutamente falso, a ciência não nega Deus, apenas conclui que este é uma hipótese desnecessária na explicação do mundo e tal é comprovado não apenas nas ciências da vida mas em todas as áreas da ciência!

Noutras palavras, manipulando sofismatica e habilmente a linguagem, enganando os mais incautos com a pretensão de que filosofia da natureza é algo diverso de ciência, o Vaticano vai atacar directamente a ciência, tentando impor limites, pelo menos na opinião pública, ao que a ciência pode ou não abordar, e indirectamente assestando as baterias nos ateus cientistas.

Pretendendo que, devido ao seu desconhecimento de «filosofia», os cientistas são totalmente incompetentes para explicar os mecanismos da evolução, já que causas sobrenaturais não são contempladas pela ciência – aliás, são negadas pela ciência – e estes deveriam esperar por autorização «superior» das instâncias religiosas, as senhoras absolutas da «filosofia», antes de ousarem explicar algo que só pode ser alvo de uma explicação religiosa (que sofismaticamente tentam igualar a filosófica, quando na realidade religião está nos antípodas de filosofia).

Assim, não é complicado prever que as actas do dito seminário vão estar recheadas de argumentos IDiotas que negam o evolucionismo, que o papa vê como «uma filosofia fundamental … que pretende explicar a realidade como um todo» sem Deus, mas que aceitem a evolução, que é impossível de negar.

Diria ainda que esta aceitação da evolução será fraseada de forma que, embora evidenciando que o Vaticano «aceita» a micro evolução, deixe espaço de manobra para a negação da macro evolução, isto é, a evolução de uma espécie para outra. Macro evolucão que Ratzinger questiona e que é impossível de aceitar já que refuta «a base imutável de toda a antropologia cristã», que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e torna muito complicado justificar o pecado original…

Pecado original de que Ratzinger usa e abusa, nomeadamente para explicar porque as mulheres se devem submeter cristamente aos seus melhores, os homens! E remissão do dito cujo na qual assenta o cristianismo.

Isto é, se não houve pecado original, se o homem evoluiu muito lenta e progressivamente de um organismo unicelular primevo, como justificar a necessidade de um mítico salvador de «almas» incarnado e crucificado – a tal complicação com duas essências que faz parte de uma entidade com três pessoas e uma essência – mesmo com macro evolução «desenhada»? Se, como pretendem alguns teólogos, o pecado original é uma alegoria do pecado indissociável do ser humano, será o designer assim tão incompetente que não conseguiu eliminar essa pecha para o «pecado» do seu desenho – assim como, sei lá, cancro, HIV, etc., para além de inúmeros outros exemplos do «mal»? Ou será necessário recorrer à teoria dos anjos para explicar «desenho malevolente»?

Para além, disso, se houve macroevolução, mesmo «desenhada», em que ponto da evolução fomos mimoseados com almas que necessitam ser «salvas»? Mesmo admitindo apenas microevolução, teria o Neanderthal alma? Se sim, que «pecado» cometeu para «merecer» a extinção? Ou apenas o Homo sapiens sapiens foi agraciado com a dita? Mas então, como se justificam os indícios de comportamento «anímico» que as últimas descobertas arqueológicas indicam para o Neanderthal? E porquê alma no Sapiens e não no seu ancestral Homo erectus? Ou no ancestral mais remoto, o Australopithecus afarensis? E já agora porque não nos outros ramos da mesma árvore evolutiva, por exemplo os restantes primatas?

5 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a negação do evolucionismo

As actas do seminário em que Ratzinger pomposamente «examinou» a evolução vão ser publicadas ainda este ano, de acordo com a agência Reuters, para o ano segundo um teólogo português que participou no encontro.

Enquanto as actas não são disponibilizadas, pela primeira vez em toda a história destes debates anuais de Ratzinger, o que demonstra a importância do tema para a ICAR, podemos olhar para a imprensa católica para apreciar o que foi de facto discutido no dito seminário.

A evolução é um tema recorrente na prosa do corrente Papa, abordado por Ratzinger logo no seu discurso de tomada de posse, em que afirmou «nós não somos o produto casual e sem sentido da evolução». O evolucionismo é assim um perigo que urge eliminar, porque, como confirma Rafael Pascual, decano de Filosofia e director do Mestrado sobre Ciência e Fé no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum – o tal que oferece mui científicos cursos de exorcismo:

«criacionismo e evolucionismo são em si incompatíveis» embora o não sejam «criação e evolução, que, pelo contrário, se encontram em dois níveis diferentes».

Isto é, a ICAR pretende falaciosamente que a criação, ou seja, a origem das espécies, só pode ser abordada «na perspectiva filosófica e teológica» e não faz parte das competências da ciência explicar como surgiram e evoluiram as espécies que povoam o nosso planeta.

De facto, a Igreja precisa arranjar uma história que contemple a evolução, completamente impossível de negar – mesmo o mais ignorante dos créus sabe que o vírus da gripe evoluiu, especialmente agora em que todos esperam o que os acasos da evolução fazem ao vírus da gripe das aves – e negue o evolucionismo. A penas de ir perdendo clientes já que, à luz do conhecimento científico actual, os mitos cristãos são cada vez mais implausíveis e é necessário um grande esforço de dissociação para conseguir ser-se cristão e simultaneamente minimamente esclarecido cientificamente. E a Igreja sabe que acima de tudo precisa de arranjar uma forma «airosa» de alimentar os mitos sem alienar os seus clientes cientificamente mais cultos.

Em primeiro lugar, já conseguiram o primeiro objectivo, instilar dúvidas nos crentes analfabetos cientificamente sobre a aceitação do evolucionismo na comunidade científica, argumentando que a teoria da evolução deve ser vista como uma «teoria científica, com os argumentos a favor, mas também reconhecendo os limites e os problemas ainda por resolver», e como tal não deve ser apresentada «como uma espécie de dogma absoluto, definitivo e indiscutível».

Escolha de linguagem judiciosa que é um acumular de contradictio in terminus científicos, mas que joga com o desconhecimento do público em geral do método científico e joga com o léxico do quotidiano em que «teoria», entendida como palpite, tem um significado completamente distinto daquele que tem em ciência.

Ou seja, este tipo de linguagem faz crer aos clientes mais distantes da realidade científica que há dúvidas na comunidade científica sobre o evolucionismo, que não passa ainda por cima de um palpite «ateu», o que é completamente falso!

(continua)
4 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Bush e Bin Laden do mesmo lado

«Bush e Bin Laden estão efectivamente do mesmo lado: do lado da fé e da violência contra o lado da razão e do debate. Ambos têm uma fé implacável de que estão certos e o outro está errado. Cada um acredita que quando morrer irá para o céu. Cada um acredita que, se pudesse matar o outro, o seu caminho para o paraíso no outro mundo seria mais fácil.»

(Richard Dawkins em entrevista à Salon.)

4 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Deus e os monoteísmos

Admitamos que Deus transmitiu a sua vontade através de Moisés, Cristo e Maomé, que a sua abominável vontade (tão humana que é) pretendeu privilegiar alguns povos em detrimento de outros e que os livros sagrados foram ditados da forma que os apregoam, aos alcoviteiros que dizem, nas circunstâncias que inventaram.

Temos de concluir que Deus era rude, intolerante, vingativo e, sobretudo, um ignorante em questões científicas, além de narcisista e autoritário.

Aquela ideia de ameaçar o género humano com o julgamento no Vale de Josafá, depois de proceder à inauguração de um lago de fogo e enxofre, é demasiado idiota para ser levada a sério.

A exiguidade do Vale não comporta todos os vivos, a quem mandará guias de marcha e assegurará transporte, quanto mais os mortos que desde o princípio do Mundo ameaça ressuscitar.

Fica a questão de saber quem Deus considera homens – o que inclui mulheres, depois de os doutos cardeais terem concluído que também possuíam alma -, isto é, desde quando, na evolução das espécies, começou Deus a atribuir almas.

É difícil imaginar Deus a ditar os dislates de que Moisés, Jesus e Maomé se fizeram eco sem, ao menos, se retirar para aliviar a tripa, comer uns frutos ou beber água. Os santos livros, tão prolixos a registar-lhe as palavras, não referem o meteorismo, a flatulência ou reumatismo que certamente haviam de o afligir.

Como é possível que, com Maomé, o mais ignorante e analfabeto dos profetas, durante vinte anos, entre Medina e Meca, não se queixasse do calor ou proferisse um impropério pela lentidão de raciocínio do profeta?

Há uma só explicação possível. Naquele tempo, a ignorância e a superstição tornavam ávidas as pessoas pelo misterioso e fantástico. As religiões vieram ao encontro dessas necessidades e serviram um Deus amigo delas e inimigo dos seus inimigos que lhes dava algum conforto e tranquilidade.

Deus é a réstia de esperança de todos os desesperos, a mezinha para todas as desgraças, o lenitivo para todos os sofrimentos e, finalmente, a ocupação e modo de vida de uma multidão de parasitas que vive do medo e insegurança alheia.

4 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ali al-Sistani impotente para travar guerra civil no Iraque

Enquanto a violência continua a assolar o Iraque e Bush afirma que não há perigo de uma guerra civil, o ayatollah Ali al-Sistani, o clérigo shiita mais influente no Iraque, avisou que deixará de tentar conter os seus seguidores, admitindo que é impotente para travar a guerra civil que há muito se desenha neste país. Não obstante as notícias da prisão do nº2 da al Qaeda no Iraque, Hamed Jumaa Farid el-Saeedi .

O seu porta-voz, Ali Al-Jaberi, quando interrogado sobre se al-Sistani seria capaz de prevenir a guerra civil respondeu: «Honestamente, penso que não. Ele está muito zangado, muito desapontado». As razões do desapontamento do clérigo, que declarou não mais intervir politicamente, apenas religiosamente, residem no facto de os shiitas ignorarem os seus apelos à moderação e cada vez mais aderirem a grupos militantes e esquadrões de morte.

Numa reunião com o primeiro-ministro iraquiano Nuri Al-Maliki no domingo, o clérigo shiita afirmou que a guerra civil é inevitável se o governo não a conseguir de alguma forma impedir.

O Departamento da Defesa dos Estados Unidos admitiu no seu relatório trimestral ao Congresso (documento pdf) que a violência no Iraque aumentou, atingindo os valores máximos alguma vez registados, com cerca de 792 atentados semanais e 120 mortes diárias.

4 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger acaba com concerto de Natal

O conhecido e afirmado desprezo de Ratzinger pela música moderna foi a razão invocada para a abolição do concerto de Natal do Vaticano. O concerto, introduzido por João Paulo II, cujo objectivo é a angariação de fundos para a construção de igrejas em Roma, viu assim a sua última edição no ano passado. Edição que envolveu a polémica com a brasileira Daniela Mercury, cuja participação foi cancelada devido à sua posição pública de apoio ao uso de preservativo como medida profiláctica da SIDA.

Ratzinger já tinha expresso a sua opinião de que a música pop é um «culto da banalidade» que «já não é mais apoiada pelo povo» e o rock uma «expressão de paixões elementares» um «contra-culto que se opõe ao culto cristão» pelo que a decisão não surpreende ninguém. Como se pode ler no La Stampa, o actual Papa «prefere Mozart e Bach a música pop e assim a tradição foi cancelada. Outro exemplo do legado moderno e colorido de João Paulo II desapareceu».

Aliás mais «concessões» à modernidade estão prestes a desaparecer. As mais importantes as «concessões» à execrada e ateia ciência, área onde a ICAR já demonstrou querer impor os seus anacrónicos e imbecis ditames. Para além da determinação em boicotar e exercer pressão política para impedir a investigação em células estaminais, qualquer que seja a sua origem, muco do nariz – rico nas ditas – ou embriões, temos ainda as anunciadas conclusões do seminário sobre evolução, que diria irem ser debitadas numa linguagem dúbia – que «sossegará» os cristãos mais esclarecidos, que lerão, erradamente, nas entrelinhas que afinal o Vaticano não regrediu para a Idade Média, mas simultaneamente darão alento aos fundamentalistas.

E, como já há muito prevíamos, o marketing subliminar que tenta apontar como culpado dos males da Igreja, nomeadamente a pedofilia no seu seio, o Concílio Vaticano II e os brandos costumes que permitiram, por exemplo, o abandonar das tradições centenárias de celebração da missa, está a dar os seus frutos. Nomeadamente no que respeita às alterações na liturgia introduzidas pela Novus Ordo Missae de Paulo VI que estão a ser revogadas sem grande alarido.

Ratzinger já tinha pedido condenado os excessos litúrgicos, condenação que clarificou nalguns pontos pedindo aos padres que não se utilizassem guitarras durante a missa e no último dia de Agosto admoestou os padres por «encenarem» as liturgias:

«A liturgia não é um texto teatral e o altar não é um palco. Há muitas maneiras de se celebrar Deus e de se adornar o altar mas é importante que um padre não se esqueça o que a liturgia é e se torne meramente um actor num espectáculo».

3 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Teste de fé


Segundo testemunhas oculares o pastor evangélico Franck Kabele afirmou aos seus fiéis ter tido uma «revelação» divina: se a sua fé fosse suficientemente forte poderia emular o mítico criador da seita e caminhar em cima da água.

Assim, o pastor levou a sua congregação para a uma praia no estuário de Komo, em Libreville, Gabão. Local onde os fiéis puderam assistir ao vivo ao afogamento do clérigo que acreditava ser um mito capaz de vencer as leis da física.

Este é mais um sério candidato ad majoram Dei gloriam ao prémio Darwin de 2006.

3 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ensino da religião obrigatório na Rússia

O ensino da religião ortodoxa, disfarçado com o nome de cultura ortodoxa, foi tornado obrigatório em 4 regiões das 86 regiões e repúblicas que constituem a Rússia, nomeadamente Belgorod, Bryansk, Kaluga e Smolensk, onde todos os alunos, independentemente das suas opções religiosas, serão obrigados a frequentar as aulas de religião.

Assim, para além da imposiçao abusiva em locais públicos dos símbolos religiosos ortodoxos, que já despoletou uma guerra das cruzetas com os muçulmanos, da parcialidade do governo russo, supostamente laico, em relação à religião cristã e da antagonização dos hindus, esta clara violação da separação Estado-Igreja já foi alvo de protestos pela Inspecção Federal de Educação e Ciência.

Igor Kowaleski, secretário geral da Conferência Episcopal Russa, sublinhou a inportância do ensino da «cultura» ortodoxa cristã nas escolas, que considerou não fazer mal a alguém. O Conselho dos Mufti pediu a extensão do ensino à cultura islâmica.

Como afirma o presidente do conselho islâmico, Marat Murtazin, «A cultura ortodoxa é ensinada em 75 regiões. A posição da Igreja Ortodoxa está segura, e nada nos resta senão oferecer às nossas crianças a possibilidade de estudar a cultura da nossa fé. Esta é uma medida forçada, uma resposta e não uma iniciativa nossa».

O ensino da cultura islâmica é uma disciplina facultativa nas regiões de maioria muçulmana, concretamente na Tchetchénia, Ingushetia, Dagestão e Tatarstão.

2 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

A droga da religião

A tradição, a coacção social e os interesses de classe ou de grupo estão na origem do proselitismo de que as primeiras vítimas são as crianças.

É habitual «dar» catequese dos seis aos dez anos, idades em que é fácil a manipulação ideológica e o exacerbamento dos sentimentos.

Os empregados de Deus já antes, logo após o nascimento, marcaram as crianças como gado de uma coutada que nunca mais podem abandonar. O baptismo ou a circuncisão imprimem marcas que os profissionais da fé não deixam apagar.

Sabe-se como nas aldeias se coage o matrimónio católico, se incita à prática da missa e organizam festas religiosas e orações colectivas. É mais temido o padre do que o fiscal dos impostos e a ida à igreja é mais assídua do que à escola.

O condicionamento da opinião pública começa, através das Igrejas, pela manipulação dos crentes. Só a secularização, que aparece com o bem-estar, independência económica e alfabetização de um povo, consegue descolar a população das sotainas e da hóstia.

Em períodos de crise, as pessoas abandonam os partidos políticos e integram-se nas Igrejas onde o pensamento único e vocação totalitária lhes levam o consolo e a calma de quem preza mais as certezas divinas do que as interrogações humanas.

Não é por acaso que, nos conturbados tempos em que as várias religiões se digladiam e o futuro da humanidade é um enigma, numerosos fiéis façam maratonas aos santuários, debitem orações e se refugiem a ouvir litanias dos profissionais do embuste.

Há sempre quem prefira viver de joelhos a morrer de pé.